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DOSSIERS
 
Elaborar um caso de negócio para a igualdade de género
Autor: Achim Steiner, Phumzile Mlambo-Ngcuka

09-03-2018

NOVA IORQUE – Em todo o mundo, o preconceito de género está a atrair uma atenção renovada. Através de marchas de protesto e campanhas virais nas redes sociais, as mulheres em todas as partes do mundo estão a exigir um fim ao assédio sexual, abuso, feminicídio e desigualdade.

Mas, se, por um lado, os movimentos   #MeToo   e   #TimesUp   tiveram sucesso na sensibilização do público, por outro, a luta pela paridade está longe de estar terminada. Empoderar as mulheres e as raparigas é a chave para atingir todos os 17   Objetivos de Desenvolvimento Sustentável   das Nações Unidas, até 2030. Atualmente, no entanto, o preconceito de género continua a ser um obstáculo significativo para o progresso global e é particularmente grave nos locais de trabalho.

Hoje, apenas 5% das empresas do índice S&P 500 são lideradas por mulheres, de acordo com o   Catalyst, uma organização fiscalizadora sem fins lucrativos de CEO. Este número deplorável é ainda mais marcante quando se leva em consideração que 73% das empresas globais têm, alegadamente, políticas de igualdade de oportunidades em vigor, segundo uma pesquisa realizada pela   Organização Internacional do Trabalho (OIT). Além disso, embora as pesquisas mostrem uma clara ligação entre o equilíbrio de género de uma empresa e a sua saúde financeira,   as mulheres ocupam menos de 20% dos lugares nos conselhos de administração das maiores empresas do mundo.

Resolver essas deficiências é simultaneamente um imperativo económico e moral.

Um   relatório  de 2015, do McKinsey Global Institute revelou que se as mulheres e os homens desempenhassem um   “papel idêntico nos mercados de trabalho” , 28 biliões de dólares seriam adicionados à economia global, até 2025. Estes ganhos globais iriam complementar os benefícios para as empresas individuais. As empresas que têm maior igualdade  de género são   mais inovadoras, generosas e lucrativas. Mas, ao ritmo atual de empoderamento feminino, demoraria quase 220 anos a eliminar a disparidade de género.

O mundo não se pode dar ao luxo de esperar tanto tempo; precisamos de uma nova abordagem.Para ajudar a traçar um caminho para as empresas contratarem, manterem e promoverem empregados do sexo feminino, iremos juntar-nos esta semana a mais de 400 líderes de empresas globais e representantes do governo em Santiago, Chile, para o Quarto Fórum Global sobre a   Igualdade de Género no Mercado de Trabalho.

A reunião –organizada pelo governo chileno e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com a OIT e a ONU Mulheres - irá destacar a importância da igualdade de género no setor privado.

Uma solução que irá figurar na agenda é o programa Selo pela Igualdade de Género apoiado pelo PNUD, uma iniciativa singular que certifica empresas que eliminaram disparidades salariais, aumentaram o número de mulheres em cargos de tomada de decisão e trabalharam para acabar com o assédio sexual no local de trabalho.

Hoje, estas empresas certificadas pelo PNUD lideram o caminho na criação de uma mão de obra global mais equilibrada. Por exemplo, a empresa pública de extração de cobre do Chile, a Codelco, está a aumentar o número de postos de trabalho ocupados por mulheres –e a estimular a produtividade no processo. Do mesmo modo, o Banco Nacional de Costa Rica promoveu dezenas de mulheres para cargos de gestão; o banco é, atualmente, um dos principais fornecedores regionais de financiamento para empresárias. E no Canadá, o Scotiabank utilizou um programa feminino de tutoria para se tornar uma das empresas mais equilibradas entre homens e mulheres do setor. A nossa esperança é que muitas mais empresas lutarão pela certificação de igualdade de género, possivelmente anunciando a sua intenção ainda esta semana.

Outra iniciativa a ser discutida são os Princípios de Empoderamento das Mulheres , um conjunto de diretrizes operacionais desenvolvido pela ONU Mulheres e pelo Pacto Global da ONU que representa o caso de negócio para a igualdade de género. Mais de 1700 CEO aprovaram os princípios, enquanto cerca de 300 empresas em 61 países utilizaram a ferramenta de análise da disparidade de género, gratuita, da iniciativa, para ajudar os administradores a implementá-los nos locais de trabalho.

As reuniões globais, os sistemas de certificação e o software gratuito são, certamente, apenas parte da solução. As mulheres ainda carregam os fardos das responsabilidades domésticas desproporcionados e as pressões resultantes das normas sociais e culturais roubam-lhes, muitas vezes, a oportunidade de frequentarem a escola, iniciarem uma atividade empresarial ou participarem na vida pública. Além disso, as mulheres que têm empregos remunerados fora de casa estão no lado errado de um fosso salarial que separa os géneros que é em média de 23%, sugerindo que a igualdade não é apenas uma questão de oportunidade.

As empresas, comunidades e famílias têm de trabalhar em conjunto para nivelarem o campo de ação. Felizmente, o custo de não fazer nada é muito alto para qualquer empresa —e para as economias como um todo —suportar, é por isso que estamos otimistas de que eliminar o preconceito de género no trabalho é possível. Quando as empresas colocam o empoderamento das mulheres no centro das suas estratégias empresariais, o crescimento e a igualdade podem reforçar-se mutuamente de forma a não deixarem ninguém para trás.

ACHIM STEINER

Achim Steiner é Administrador do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas.

 

 

 

 

 

PHUMZILE MLAMBO-NGCUKA

Phumzile Mlambo-Ngcuka é directora executiva da Mulheres da ONU.

 

 

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