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COMO BANCOS PÚBLICOS DE DESENVOLVIMENTO PODEM SALVAR A NATUREZA
Autor: Elizabeth Mrema, Carlos Manuel Rodriguez

27-11-2020

A Cimeira das Finanças em Comum (Finance in Common Summit, no original) desta semana é a primeira vez em que lideranças de 450 bancos públicos de desenvolvimento (BPDs) se reúnem para discutir como redireccionar investimentos para o desenvolvimento sustentável. Dada a actual incerteza económica e as múltiplas ameaças ambientais, o encontro vem em um momento crítico. É uma oportunidade bem-vinda de ver como instituições financeiras públicas podem ajudar a orientar o financiamento para a conservação e uso sustentável dos recursos naturais – mobilizando assim uma série de activos que apoia as pessoas e o planeta.

A cúpula é também uma chance de reforçar a importância vital de um ambiente saudável como base para se cumprir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, o acordo do clima de Paris, e um novo e ambicioso plano de trabalho com a Convenção da ONU de Diversidade Biológica. De modo mais imediato, os BPDs vão ser cruciais aos esforços globais de reconstrução da pandemia de covid-19 e seu impacto económico.

Um relatório  recente da iniciativa Finance for Biodiversity (em inglês, Finanças pela Biodiversidade) destacou a necessidade urgente de abordar as falhas cometidas pelos governos do G-20 nos pacotes de estímulo económico em resposta à covid-19, e concluiu que a actual trajectória de recuperação arrisca reforçar tendências ambientais negativas. Porém, o relatório também destacou a oportunidade de agir de modo decisivo para impedir danos irreversíveis à natureza que persistirão muito após a pandemia.

Para reverter essa trajectória, precisamos colocar a natureza no coração do planeamento económico e da tomada de decisões. Os serviços de ecossistema oferecidos pela natureza são essenciais para cumprir 80% das metas dos ODS, enquanto as soluções naturais representam 30% do caminho  para se cumprir as metas do acordo de Paris de limitar o aquecimento global a menos de dois graus Celsius comparado a níveis pré-industriais. Preservar a natureza também é essencial para prevenir pandemias.

BPDs, portanto, têm uma enorme oportunidade de complementar investimentos ambientais se tornarem objectivos e metas naturais parte explicitamente fundamental de seus esforços de apoiar o desenvolvimento sustentável. Afinal, ao contrário de bancos privados, muitos BPDs têm um accionista só: os governos.

Ao mesmo tempo, BPDs devem evitar financiar a solução e o problema. Segundo a OCDE, investimentos mundiais com foco positivo em biodiversidade representam hoje uma mera fracção do gasto em actividades com efeitos negativos elevados. Não se pode subestimar o potencial impacto de instituições financeiras públicas pararem de apoiar projectos em combustíveis fósseis e operações que levem a desmatamento ou destruição ambiental. Uma mudança de investimento há muito esperada para apoiar a transição para uma economia com foco positivo na natureza e em soluções naturais ao aquecimento global definiria o desenvolvimento de indústrias, energia, transportes, serviço e consumo nas próximas décadas.

Ainda que as estimativas de financiamento necessárias para proteger a biodiversidade variem conforme as hipóteses, metodologias e cenários utilizados, dos menores dígitos aos que chegam à casa dos três dígitos de bilhões, todas as previsões sinalizam uma lacuna significativa e persistente nesta década. Com este pano de fundo, investimento sustentável significa reconhecer oportunidades de investir na natureza e em se comprometer a tapar esta lacuna.

Uma ênfase de investimento desta ordem poderia render enormes dividendos. Estudos recentes concluíram que proteger mais a natureza traria benefícios que superam os gastos em ao menos cinco pra um  e beneficiariam 30 milhões de empregos  em ecoturismo e pesca sustentável. Além disso, com mais de metade do PIB mundial  dependente da natureza, investir em projectos verdes é essencial para o crescimento económico global. Uma transição para uma economia focada na natureza  poderia gerar até US$ 10,1 trilião em valor de negócios ao ano e criar 395 milhões de empregos até 2030.

Agir agora para apoiar a conservação da natureza, sua restauração e uso sustentável é uma proposta vencedora, e os governos podem preparar o terreno para os investimentos necessários para implementar esta reorientação. Como provedores de US$ 2,3 triliões de financiamento anual – representando 10% do investimento global total -, BPDs têm um papel crucial a desempenhar no apoio a políticas públicas e na mobilização de recursos públicos e privados em grande escala para colocar o mundo em um rumo sustentável.

A Cúpula das Finanças em Comum é um passo importante nos preparativos para a conferência do clima COP-26 em Glasgow (Escócia) e o encontro de biodiversidade COP-15 em Kunming (China), ambos no ano que vem. Estamos muito felizes de ver que os BPDs, em seu comunicado conjunto desta semana, se comprometerão a apoiar acções ambientais, os ODS e a protecção da biodiversidade. Por este motivo a Convenção da ONU sobre Diversidade Biológica/COP-15 decidiu apoiar o evento. Vamos acompanhar atentamente a implementação destes compromissos pelos BPDs, e a evolução de suas abordagens sobre investimento e gestão de risco.

Esperamos nos próximos meses trabalhar com instituições de financiamento público e privadas rumo a objectivos em comum e na adopção de uma ambiciosa estrutura de biodiversidade global pós-2020. Ao mapear uma trajectória na direcção de um futuro económico mais sustentável, o mundo consegue perceber a visão da Convenção de Diversidade Biológica de “viver em harmonia com a natureza” até 2050.

ELIZABETH MREMA

Elizabeth Mrema é Secretária Executiva da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica.

CARLOS MANUEL RODRIGUEZ

Carlos Manuel Rodriguez é CEO e presidente do Fundo para o Meio Ambiente Global.

 

 

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