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DOSSIERS
 
O IMPERATIVO CLIMÁTICO DO SECTOR FINANCEIRO
Autor: Bertrand Badré, Emmanuel Faber, Bertrand Piccard, Paul Polman, Ronald Cohen

14-12-2018

Na década decorrida desde a crise financeira global, têm sido amplamente discutidos mecanismos para impulsionar a resiliência do sistema financeiro. Contudo, embora tenham sido efectuados alguns progressos, a abordagem adoptada, que é amplamente fragmentada, pode ainda vir a revelar-se desadequada para apoiar a estabilidade financeira a longo prazo. Além disso, um mercado em baixa significa que o dia do ajuste de contas pode não estar muito longe.

É impossível prever quando irromperá a próxima crise, e é mais impossível ainda prever quanto tempo durará ou os prejuízos que irá causar. No entanto, não restam dúvidas de que os riscos que enfrentamos merecem uma abordagem mais holística, muito parecida com o que foi exigido imediatamente após a crise de 2008 (embora tais exigências tenham perdido a força à medida que os mercados se foram restabelecendo). Isto significa obter consenso e aplicar uma nova visão para governar a economia global; avaliá-la rigorosamente e ajustá-la conforme necessário; e garantir a responsabilidade plena de todas as partes interessadas.

Esta visão deve incluir mudanças profundas e contínuas, desde um poder de mercado cada vez mais concentrado até à tomada de decisões cada vez mais automatizada. Deve considerar igualmente a ascensão da China, facto que exige que este país seja incorporado de forma mais completa aos órgãos de governação, o que terá implicações de longo alcance, especialmente tendo em conta a emergência da China enquanto interveniente global menos benevolente.

Além disso, esta visão deve enfrentar o crescente nacionalismo e isolacionismo, exemplificados pela abordagem "America First" (a América em primeiro lugar) do presidente norte-americano Donald Trump e pela sua guerra comercial com a China. Deve também reconhecer que a eficácia dos instrumentos macroeconómicos - tanto monetários como orçamentais — é mais limitada hoje do que o era em 2008.

Finalmente, esta nova visão deve reflectir uma decisão clara sobre em que medida estamos empenhados em enfrentar os desafios climáticos e de sustentabilidade. Apesar do acordo climático de Paris de 2015, que mudou o paradigma ao qual nos referimos às alterações climáticas, os líderes mundiais continuam relutantes em tomar as medidas necessárias para fazer verdadeiramente a diferença. Não podemos continuar a enganar-nos definindo objectivos elevados e trabalhando apenas nas margens.

Se levamos a sério o reforço da resiliência, precisamos avançar com mudanças sistémicas robustas, que abordem a forma como produzimos e consumimos energia e financiamos as nossas economias. Isto exigirá uma liderança eficaz. Contudo, embora a colaboração entre os governos tenha ajudado a impulsionar algumas acções no domínio climático, a crescente fragmentação na comunidade internacional tornou claros os limites desta abordagem. Uma estratégia mais eficaz pode consistir no estabelecimento de uma coligação de sociedades civis e de grandes instituições financeiras e não financeiras para liderar a evolução na via de objectivos comuns.

Esta evolução exigirá, entre outros aspectos, uma ampla melhoria dos processo contabilísticos e dos relatórios, juntamente com reformas regulamentares inteligentes. Além disso, exigirá que os participantes do mercado estabeleçam incentivos e mandatos adequados com vista a que a sustentabilidade e a acção climática sejam consideradas na tomada de decisões.

Estes incentivos podem — e, em alguns casos, já o fazem — incluir sistemas de bónus ajustados para administradores, requisitos de acompanhamento relevantes e rotulagem ambiental nas embalagens destinadas aos consumidores. Os factores associados à reputação, e até mesmo o “poder suave” da influência dos governos locais, que estão cada vez mais preocupados com os riscos ambientais, também podem desempenhar um papel na motivação das empresas para prosseguir uma transformação verde.

O sector financeiro, em particular, carece dos incentivos correctos para contribuir para enfrentar o desafio das alterações climáticas, porque a tomada de decisão das instituições financeiras é sobretudo — e mesmo exclusivamente — orientada pela obtenção de lucro monetário. Isto reflecte uma grande falta de visão e é insustentável. As instituições financeiras necessitam de novos incentivos para reformular as suas operações, incluindo os seus investimentos. Por exemplo, os gestores de carteiras poderiam ter os seus bónus parcialmente associados ao desempenho dos seus investimentos em matéria de métricas climáticas.

Estas mudanças não necessitam de prejudicar o crescimento económico. Pelo contrário, muitas soluções em matéria climática — como a transição para as energias renováveis — contribuem para gerar empregos e podem até aumentar o lucro das empresas. Com efeito, a substituição de infra-estruturas obsoletas e poluentes por alternativas modernas e eficientes representa uma das principais oportunidades de investimento do século.

Contudo, isto vai muito para além dos lucros. Conforme alertou o Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas no seu relatório mais recente, a trajectória actual do mundo está a conduzir à devastação ambiental. Os desastres naturais estão a tornar-se mais frequentes e intensos. A multiplicação dos fenómenos climáticos extremos tornará endémica a destruição, a migração e os conflitos em grande escala.

Estamos perante um momento crucial na história, e precisaremos reunir a coragem e a convicção necessárias para empreender uma acção forte. Devemos não só implementar soluções, mas também testá-las e afiná-las regularmente — antes de decorrida uma década — com a orientação de medidas e objectivos claros e baseados e dados concretos. Só então poderemos garantir que não só os nossos sistemas financeiros, mas todas as estruturas que sustentam a estabilidade global são suficientemente resilientes.

Parafraseando Winston Churchill, estamos perante uma escolha entre a destruição e o   status quo.   Se escolhermos o último, teremos a primeira.

BERTRAND BADRÉ

Bertrand Badré, a former managing director of the World Bank, is CEO and Founder of Blue like an Orange Sustainable Capital, and Co-Chair of the World Economic Forum’s Global Future Council on International Governance, Public-Private Cooperation, and Sustainable Development. He is the author of  Can Finance Save the World?

EMMANUEL FABER

Emmanuel Faber is Chairman and CEO of Danone.

BERTRAND PICCARD

Bertrand Piccard is Initiator and Chairman of the Solar Impulse Foundation.

PAUL POLMAN

Paul Polman is Chair of the International Chamber of Commerce and a member of the Leadership Council of the Sustainable Development Solutions Network (SDSN).

RONALD COHEN

Ronald Cohen is Chair of the Global Steering Group for Impact Investment.

 

 

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