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O próximo ponto de viragem da luta climática
Autor: Patricia Espinosa, Anne Hidalgo

31-08-2018

No mês que vem, a Cimeira Global de Ação Climática – um dos maiores encontros internacionais sobre as alterações climáticas que o mundo já viu – terá lugar em São Francisco. O evento, cujo tema é “Take Ambition to the Next Level” tem como objetivo servir de trampolim para medidas urgentes que permitirão ao mundo cumprir os objetivos definidos pelo Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, em 2015. É uma excelente oportunidade para fazer progressos nos esforços para combater o aquecimento global, mas só pode ser aproveitada com a participação de todas as partes interessadas.

Com o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, a comunidade internacional concordou em limitar o aumento da temperatura média global para 2° Celsius – e idealmente para 1,5 °C – acima dos níveis pré-industriais. Para isso, os governos nacionais ficaram encarregados de desenvolver os seus próprios planos de ação climática, denominados: Contribuições Nacionais Determinadas (NDC).

Mas os governos nacionais não podem fazê-lo sozinhos. Toda a gente – inclusive de todos os setores do governo, bem como líderes empresariais, investidores e sociedade civil – têm de contribuir. Isto pede uma nova forma de multilateralismo inclusivo – uma forma que também possa ser aplicada para se atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que complementam os compromissos do Acordo de Paris.

É uma tarefa complexa, mas há muitas razões para haver otimismo. Há um impulso global sem precedentes para se construir um futuro seguro a nível climático, com baixos valores de carbono, caracterizado por uma economia verde dinâmica, uma sociedade próspera e um ambiente saudável.

Globalmente, a energia renovável foi responsável por 70% dos acréscimos líquidos na capacidade de geração de energia, em 2017, de acordo com o Relatório sobre a Situação Global: Renováveis 2018. Além disso, como parte da Coligação Under2, mais de 200 estados, regiões e autoridades locais comprometeram-se a reduzir as suas emissões de gases com efeito de estufa em pelo menos 80% abaixo dos níveis de 1990, até 2050.

Os centros urbanos estão também a demonstrar a sua capacidade de inovação e liderança em matéria de clima. A cidade de Nova Iorque autorizou o reequipamento de 14 500 dos edifícios mais poluentes da cidade. Shenzhen tornou-se a primeira cidade do mundo a ter uma frota de autocarros totalmente elétrica. Curitiba, no Brasil, introduziu um modelo novo de produção urbana de alimentos. E Oslo criou um orçamento climático para orientar a tomada de decisões financeiras.

A nível empresarial, mais de 700 empresas com um total de capitalização de mercado de mais de 16 biliões de dólares assumiram compromissos climáticos ambiciosos, segundo a Coligação We Mean Business. E 289 investidores, que detêm aproximadamente 30 biliões de dólares em ativos, assinaram a Climate 100+, uma iniciativa a cinco anos para se relacionarem com os maiores emissores corporativos de gases com efeito de estufa, a fim de melhorarem a governação em termos de alterações climáticas, redução de emissões e fortalecimento da divulgação financeira relacionada com o clima. Como resultado, a emissão global de obrigações verdes poderá atingir os 300 mil milhões de dólares, este ano.

Ainda assim, estamos longe de não termos problemas. Os cientistas concordam que as emissões globais de dióxido de carbono têm de de dar uma reviravolta em 2020, se quisermos alcançar a neutralidade do carbono (com um número de emissões baixo o suficiente para ser absorvido, de forma segura, pelas florestas, pelos solos e por outros sistemas naturais), até meados do século. Até à data, cerca de 50 países atingiram, ou podem ter atingido os seus picos de emissões, e outros mais poderão brevemente juntar-se às fileiras. Isto é progresso, mas não é suficiente.

Na verdade, os gases com efeito de estufa na atmosfera ainda estão a acumular-se a um ritmo que brevemente levar-nos-á acima do limiar do valor 1,5 °C, para além do qual alguns dos piores efeitos das alterações climáticas não podem ser evitados. As condições meteorológicas extremas já começam a ser mais comuns, tal como é exemplificado pelas altas temperaturas registadas, este ano, a nível mundial. Nas tendências atuais, as temperaturas globais médias podem subir 3 °C, pondo em risco os sistemas naturais vitais, como os recifes de coral, as florestas tropicais e as regiões polares.

Todos os intervenientes relevantes precisam de reforçar os seus compromissos climáticos. Para dar o pontapé de saída neste processo, a Cimeira Global de Ação Climática e os seus parceiros lançaram uma grande variedade de novos desafios, incluindo metas de desperdício zero nas cidades, a meta de 500 empresas adotarem objetivos baseados na ciência e iniciativas para acelerar a utilização de veículos não poluentes.

Esses esforços não só iriam proteger o nosso ambiente, como também iriam alavancar as nossas economias. Um relatório recente da New Climate Economy sugere que, só na área dos transportes, a transição para baixas emissões de carbono iria criar 23 milhões de empregos, anualmente, a nível mundial.

E talvez o mais importante, uma demonstração de medidas climáticas por parte dos líderes de vários setores iria, provavelmente, inspirar os governos nacionais a aumentarem as suas próprias NDC antes desta Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, que terá lugar em dezembro, na Polónia, onde os governos irão finalizar as diretivas de implementação do Acordo de Paris.

Agir sozinho pode ser difícil. Agir em conjunto pode inspirar e permitir que todos os participantes façam mais. E se quisermos deixar um planeta saudável às gerações futuras, “fazer mais” é do que mais precisamos.

Patricia Espinosa

Patricia Espinosa é Secretária Executiva da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.

Anne Hidalgo

Anne Hidalgo é prefeita de Paris e presidente da C40 Cities.

 

 

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