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Podem as cidades inteligentes ser equitativas?
Autor: Homi Kharas, Jaana Remes

15-06-2018

Em todo o mundo, os governos estão a tornar as cidades “mais inteligentes” ao usarem dados e tecnologia digital para construírem ambientes urbanos mais eficientes e habitáveis. Isto faz sentido: com as populações urbanas a crescer e as infraestruturas sobrecarregadas, as cidades inteligentes estarão melhor posicionadas para lidar com uma rápida mudança.

Mas à medida que os sistemas digitais se tornam mais pervasivos, existe o perigo de a desigualdade aumentar, a menos que os governos locais reconheçam que as soluções impulsionadas pela tecnologia são tão importantes para os pobres como para os abastados.

Embora as populações desconectadas possam beneficiar das aplicações que funcionam nos bastidores da vida quotidiana – tais como os sinais inteligentes que ajudam nos fluxos de tráfego – elas não terão acesso a toda a gama de programas de cidades inteligentes. Com os   smartphones   a servirem como a principalinterface   na cidade moderna,   encerrar o fosso digital, e alargar o acesso às redes e aos dispositivos, é um primeiro passo fundamental.

Os planeadores urbanos podem, também, implementar a tecnologia de forma a tornarem as cidades mais inclusivas para as pessoas pobres, com deficiência, idosas e com outras vulnerabilidades. Os exemplos já são abundantes.

Na cidade de Nova Iorque, a Unidade de Compromisso Público do presidente de câmara utiliza plataformas de dados de várias agências para coordenar uma   proximidade porta-a-porta   com os residentes que necessitam de assistência. No Condado de Santa Clara, Califórnia, análises preditivas ajudam a   priorizar espaços de acolhimento para os sem-abrigo. No Metro de Londres, há uma aplicação chamada   Wayfindr   que utiliza o Bluetooth para ajudar viajantes com deficiência visual a percorrerem os caminhos entrelaçados e as escadas rolantes do metro.

E em Calcutá, Índia, uma   start-up   com sede em Dublin de nome   Addressing the Unaddressedutilizou o GPS para   fornecer endereços postais   a mais de 120 mil bairros de lata em 14 comunidades informais. O objetivo é dar aos residentes meios legais para obterem cartões de identificação biométrica, documentação essencial necessária para terem acesso aos serviços públicos e para se inscreverem para votar. Mas apesar de estas inovações serem indubitavelmente significativas, representam apenas uma fração do que é possível.

A saúde pública é uma área onde os pequenos investimentos na tecnologia podem trazer grandes benefícios aos grupos marginalizados. No mundo em desenvolvimento, as doenças evitáveis constituem uma percentagem desproporcionada do ónus causado pelas doenças. Quando os dados são usados para identificar grupos demográficos com perfis de risco elevado, campanhas de mensagens móveis de baixo custo podem transmitir informações de prevenção vitais. As denominadas intervenções “mHealth” em questões como a vacinação, sexo seguro e cuidados pré e pós-natais têm demonstrado   melhorar os resultados no setor da saúde   e reduzir os custos dos cuidados médicos.

Outra área propícia à inovação é o desenvolvimento de tecnologias que ajudem diretamente os idosos. Aqui, a criação de redes sociais poderia ajudar os idosos a permanecerem ligados socialmente, atraindo-os, talvez, para programas de acompanhamento e tutoriais que criem laços entre as gerações. As plataformas de profissões eletrónicas também poderiam ser codificadas, no sentido de associar os reformados a oportunidades de participarem em atividades fora de casa. E mais cidades poderiam prestar serviços de telemedicina e consultas por videoconferência aos residentes idosos que não têm possibilidade de se deslocar facilmente para ir ao médico.

De facto, as cidades de baixo rendimento que adotam planeamentos inteligentes estão geralmente em melhor posição de tirar partido, uma vez que constroem infraestruturas desde o início. Segundo a investigação do Instituto McKinsey Global prestes a ser publicada, as soluções de governação inteligente podem melhorar a saúde, a segurança, o ambiente e outras métricas de qualidade de vida entre 10 a 30%. E, tal como a investigação descobriu, as cidades que estão no limite superior dessa faixa, são geralmente as mais pobres. Para realizarem esse potencial, contudo, as cidades pobres têm primeiro de superar um problema mais básico: as lacunas nas infraestruturas digitais.

Os planeadores urbanos foram acusados, algumas vezes, de promoverem conveniências digitais que favorecem os ricos e   excluem os pobres. Mas tal como as cidades em todo o mundo já demonstram, é possível implementar tecnologias que satisfazem toda a gente – até mesmo aqueles que estão à margem das ligações sociais. À medida que o mundo urbano se vai tornando “mais inteligente”, as cidades irão tendo a oportunidade de se tornarem mais inclusivas. A alternativa – a persistência e o agravamento das divisões digitais entre as comunidades – não será facilmente anulada.

Homi Kharas is Interim

Homi Kharas is Interim Vice President and Director of the Global Economy and Development program at the Brookings Institution.

   

Jaana Remes

Jaana Remes é sócia do McKinsey Global Institute, com sede em San Francisco.

 

 

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