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"A EDUCAÇÃO E SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL – UM DESAFIO NO PRESENTE PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL” (parte 4)
Autor: João Torres

01-11-2013

Paris, no ano de 1971 recebeu a primeira reunião do Conselho Internacional de Coordenação do Programa sobre o Homem e a Biosfera. Paralelamente, a UNESCO deu início ao Programa MAB (“Man and Biosphere”), com o objectivo de proporcionar os conhecimentos fundamentais de Ciências Naturais e de Ciências Sociais necessários para a utilização racional e a conservação dos recursos para o melhoramento da biosfera e para o melhoramento da relação global entre o ser humano e o ambiente, assim como para predizer as consequências das acções de hoje sobre o mundo de amanhã, aumentando assim, a capacidade do homem para ordenar eficazmente os recursos naturais da biosfera.

Ainda em Rushilikon, na Suiça, a UICN, com a colaboração da WWF (World Wild Found), realizou a “European Working Conference on Evironmental Education” onde foram delineadas estratégias para a elaboração de projectos e programas de Educação Ambiental ao nível da formação de professores bem como do ensino secundário.

Este ano de 1971 ficou ainda marcado pela introdução na língua inglesa do prefixo “eco” que compunha novas expressões tais como ecofarming, ecohouse,... O termo “ambiental” generalizou-se exprimindo a necessidade de uma alteração da realidade social, para expressões clássicas como “environmental education”, nos países anglo-saxónicos, “education à l’environement”, em França, entre outras.

Em 5 de Junho do ano seguinte, a ONU realizou a Conferência de Estocolmo sobre o Ambiente Humano, na Suécia, com representantes de 113 países e mais de 400 organizações, constituindo a iniciativa mais importante da época no que respeita à conservação do ambiente.

A conferência ficou marcada pela divergência de opiniões entre os países do Norte (desenvolvidos) e os países do Sul (em desenvolvimento). Os países do Norte revelaram preocupações com a deterioração do ambiente e o rápido esgotamento dos recursos do Planeta, reconhecendo que existia perigo proveniente da divisão do mundo entre os ricos e os pobres. Os países do Sul partilhavam da opinião que o principal problema era o desenvolvimento da sua economia e que os problemas ambientais eram da responsabilidade e preocupação dos países ricos.

No âmbito desta divergência surge um episódio que espantou o mundo, quando representantes do Brasil apoiaram a eventualidade da poluição, afirmando que não se importariam das consequências ambientais, desde que isso se reflectisse no aumento do Produto Nacional Bruto. Exibiram ainda um cartaz com a inscrição “Bem-vindos à poluição, estamos abertos a ela. O Brasil é um país que não tem restrições. Temos várias cidades que receberiam de braços abertos a sua poluição, porque o que nós queremos são empregos, são dólares para o nosso desenvolvimento”.

Apesar deste incidente, da Conferência das Nações Unidas resultou a Declaração sobre o Meio Humano ou como é mais conhecida a Declaração de Estocolmo que expressa a convicção de que “tanto as gerações presentes como as futuras, tenham reconhecidas como direito fundamental, a vida num ambiente sadio e não degradado.”

Assente neste pressuposto encontram-se os 23 princípios básicos da Declaração de Estocolmo, contudo importa referir o princípio 19 pela abordagem à Educação Ambiental:

“É indispensável um trabalho de educação em questões ambientais, visando tanto as gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao sector das populações menos privilegiadas, para assentar as bases de uma opinião pública bem informada e de uma conduta responsável dos indivíduos, das empresas e das comunidades, inspirada no sentido de sua responsabilidade, relativamente à protecção e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana”.

Esta Conferência provocou alterações na forma de abordar a Educação Ambiental. Até então, a EA (Educação Ambiental) formal era focalizada nas escolas, atingindo um público restrito. A Conferência deu uma nova visão ao conceito, tentando abranger a população em geral, o que se considera ser a passagem para uma Educação Ambiental não formal mas sim informal.

O resultado das questões debatidas deu origem ao “Relatório de Founex”, que esteve posteriormente na origem de muitos debates devido às problemáticas ambientais que retratava. O dia 5 de Junho, foi ainda, proclamado o Dia Mundial do Ambiente, tendo sido também criado o PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente), que visava providenciar à comunidade internacional, conhecimentos ambientais através do desenvolvimento e disseminação de ferramentas e instrumentos políticos.

A Educação Ambiental começou a ser o tema central de muitas discussões, seminários, congressos e reuniões. Em 1972 a UICN organizou em Junho, na Polónia o “International Seminar on Environmental Conservation Education in the School Curriculum in East-European Countries”. Em Setembro, no Canadá, em colaboração com o “North American Committee”, realizou-se o “International Workshop on Evironmental Studies in Higher Education and Teacher Training” com o intuito de promover o levantamento dos problemas da Educação Ambiental no ensino superior, dando ênfase à formação dos futuros professores.

Em Abril de 1974, a UNEP (United Nations Environment Program) realizava no Cairo o “International Working Meeting on Evironment in Educational Programs” onde se elaborou um plano de educação ambiental para o ensino básico e secundário e um programa específico para a criação de manuais técnicos e guias de recursos sobre a problemática ambiental dos Estados Árabes.

A Educação Ambiental continuou a expandir-se, desta vez para os países do leste africano através do seminário “Pilot Seminar on Environmental Education Methodology”, realizado em Mombasa, no Quénia, pela UNEP, UICN, e “World Confederation of Organisations of the Teaching”.

No sentido de dar resposta às recomendações da Conferência de Estocolmo, a UNESCO promoveu no ano seguinte, em 1975, o “The Belgrade Workshop” onde estiveram presentes especialistas de 65 países que estabeleceram os princípios e orientações para um programa internacional de Educação Ambiental, envoltos na necessidade de uma nova ética global que culminasse com o fim da pobreza, da fome, do analfabetismo, da poluição e da exploração humana.

Desta Conferência resultou a Carta de Belgrado que constitui um documento lúcido sobre os problemas da época, podendo ser considerado uma ampliação da “The Land Ethic” preconizada por Aldo Leopoldo em 1949, que ainda hoje se mantém actual. Nela persiste a urgência de repensar no conceito de desenvolvimento, assente no ideal de um desenvolvimento sustentável. As metas da Educação Ambiental foram estabelecidas da seguinte forma: “Conseguir que a população mundial tenha consciência do meio ambiente e se interesse por ele e pelos seus problemas conexos e que conte com os seus conhecimentos, atitudes, aptidões, motivações e desejos necessários para se trabalhar individual e colectivamente, na busca de soluções para os problemas actuais e para prevenir os que possam aparecer”.

Este documento definiu como objectivos da Educação Ambiental os seguintes:

Tomada de consciência – ajudar os indivíduos e os grupos sociais a tomar consciência do ambiente global e dos problemas anexos e sensibiliza-los para estes assuntos;

Conhecimentos – ajudar os indivíduos e os grupos socais a adquirir uma compreensão fundamental do ambiente global, dos problemas conexos, da presença da humanidade neste ambiente, da responsabilidade e do papel crítico que lhe incumbem;

Atitude – ajudar os indivíduos e os grupos sociais a adquirir, entre outros, valores sociais, os do sentido de vivo interesse pelo ambiente, uma motivação bastante forte para quererem participar activamente na sua protecção e no seu melhoramento;

Competências – ajudar os indivíduos e os grupos sociais a adquirir as competências necessárias para a solução dos problemas do ambiente;

Capacidade de avaliação – ajudar os indivíduos e os grupos sociais a avaliar as medidas e os programas de educação em matéria de ambiente, em função de factores ecológicos, políticos, económicos, sociais, estéticos e educativos;

Participação – ajudar os indivíduos e os grupos sociais a desenvolver o seu sentido de responsabilidade e o seu sentido de urgência perante os problemas do ambiente, para que garantam a elaboração de medidas próprias para resolver os problemas.

(continua na próxima edição)

João Torres
Engenheiro do Ambiente

 

 

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