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Fukushima: Pior do que um desastre
Autor: Robert Hunziker

04-08-2017

Olhando alguns anos à frente, a pergunta continua: onde estará o cório derretido quando chegarem as Olimpíadas de Tóquio em 2020? Ninguém sabe!

Naohiro Masuda, chefe de Desmantelamento da TEPCO da planta nuclear Diiachi de Fukushima, finalmente anunciou publicamente e “oficialmente” que 600 toneladas de metal fundido estão desaparecidas.

E agora?

De acordo com Gregory Jaczko, ex-chefe da Comissão Reguladora Nuclear dos EUA (NRC), não é provável que o metal seja recuperado: “Ninguém sabe realmente onde ele está nesse ponto, e ele continua muito radioativo e continuará ainda por muito tempo”.

Uma grande parte do problema é que ninguém tem experiência com o tipo de colapso de Fukushima, que agora parece ser de 100%, possivelmente enterrado no solo, mas ninguém sabe dizer ao certo.

O que se segue é como uma viagem ao The Twilight Zone. “A fissão absolutamente incontrolável nos conjuntos de combustível nuclear derretido continua em algum lugar subterrâneo nas ruínas da estação. ‘É importante que encontremos o mais rápido possível’, reconheceu Masuda, admitindo que o Japão ainda não possui a tecnologia para extrair o urânio derretido”.

Fissão nuclear é quando os átomos se dividem em átomos menores. Com bombas nucleares, a fissão deve acontecer extremamente rápido para dar conta de uma explosão grande, enquanto isso, em um reator nuclear, a fissão deve acontecer muito devagar para criar calor, o qual, por sua vez, é usado para ferver água para fazer vapor para girar a turbina e gerar eletricidade.

Eventualmente, como esfregar dois palitos, se pode ferver água, mas a sociedade moderna atual não tem a paciência, o que significa que aceitar riscos passa longe de apenas esfregar dois palitos. Bem-vindos à um mundo mudado.

Mesmo que a “equipe de limpeza” de Masuda encontre as 600 toneladas perdidas, que são tão radioativas que os trabalhadores nem conseguiriam chegar perto para inspecionar as áreas da imediação, então teriam que adquirir, do nada, a tecnologia para extraí-las, mas e depois? É um trabalho de adivinhação. É a que foi reduzida a sociedade moderna, adivinhação. Deixe de lado os dois palitos e construa colossos para bilhões ferverem água, e quando der errado, adivinhe o que fazer em seguida. O que há de errado com isso? Bom, para início de conversa, ninguém sabe o que fazer quando tudo dá errado.

Eles não têm a tecnologia para extrair! Em 1986, times de trabalhadores russos descobriram o cório derretido do núcleo do reator da planta nuclear de Chernobyl no último nível do equipamento. Enquanto “fritaram 30 trabalhadores” no meio do caminho, contiveram a situação o suficiente para prevenir que adentrasse ainda mais no chão.

Durante o trabalho de prevenção em Chernobyl, uma câmera conseguiu fotografar o monstro, o núcleo derretido, apelidado de “Pé de Elefante”. 30 anos após o fato, o “Pé de Elefante” ainda é letal.

Comparando/contrastando Chernobyl e Fukushima, a radiação muito alta esmaga e destrói os robôs à primeira vista quando são enviados para os reatores de Fukushima. É tipo os Daleks no Doctor Who.

Ao menos, trinta anos após o fato, Chernobyl parece ter encontrado uma solução à ameaça do pé de elefante, mas para Fukushima, primeiro precisam localizar as 600 toneladas de cório derretido. Pode ser uma missão impossível. E depois disso?

“Trinta anos depois do acidente nuclear de Chernobyl, ainda há uma ameaça significante de radiação das ruínas do reator 4. Mas uma estrutura inovadora de 1.5 bilhões de euros está sendo construída para prevenir novos vazamentos, fornecendo uma solução engenhosa e elegante a um dos desastres mais horrendos conhecidos pela humanidade”, disse Claire Corkhill, PhD, da Universidade de Sheffield.

O antigo sarcófago colapsado de Chernobyl está sendo substituído por uma estrutura nova de aço: “graças ao sarcófago, até 80% do material radioativo original deixado depois do colapso continua no reator. Se fosse colapsar, parte do núcleo derretido, um material parecido com lava chamado cório, poderia ser ejetado nas áreas da redondeza em uma nuvem de poeira, como uma mistura de vapor altamente radioativo e pequenas partículas no vento. As substâncias chave na mistura são iodo-131, que já foi relacionado ao câncer de tireóide, e césio-137, que pode ser absorvido pelo corpo, com efeitos que vão desde mal estar pela radiação até a morte, dependendo da quantidade inalada ou ingerida”, IBID.

“O Pé de Elefante pode ser o lixo mais perigoso do mundo”. É uma gosma massiva altamente radioativa que não vai morrer nem se decompor. Isso poderia ser um script do Doctor Who, por excelência! Nisso, existe o ponto fraco, a vulnerabilidade, e os riscos de usar poder nuclear para ferver água, ou alternadamente, o sol e os ventos podem ser usados.

Não são radioactivos e ainda muito mais rápidos do que esfregar dois palitos.

Fukushima é três vezes maior que Chernobyl, talvez mais; no entanto, no caso de Fukushima há uma possibilidade distinta que seu cório já tenha começado a entrar na terra. Tendo isso em vista, deixe sua imaginação correr solta, porque ninguém tem a menor ideia de como isso termina...se termina!

Mas, Einstein sabia. Aqui uma famosa aspas dele: “O poder revelado do átomo mudou tudo menos nosso modo de pensar, e nós, por isso, caminhamos em direção à catástrofes sem precedentes”.

Finalmente chegamos!

Gregory Jackzo, ex-chefe da NRC, pondera a segurança do poder nuclear: “temos que aceitar agora que em todas as plantas nucleares, onde quer que estejam no mundo....que pode-se haver esse tipo de acidente catastrófico, e que pode-se liberar um montante significante de radiação e ter esforços de limpeza que durarão décadas”.

Olhando alguns anos à frente, a pergunta continua: onde estará o cório derretido quando chegarem as Olimpíadas de Tóquio em 2020? Ninguém sabe!

Ainda assim, o primeiro-ministro Abe disse ao Comitê de seleção das Olimpíadas que Fukushima estava “sob controle”.

“Ele tem se esquivado desse debate desde o seu discurso em 7 de Setembro ao Comitê Olímpico Internacional, quando disse que o desastre nuclear estava “sob controle”. No dia seguinte, Tóquio ganhou os direitos de sediar os Jogos Olímpicos de Verão de 2020”, de acordo com Tsuyoshi Inajjma e Yuriy Humber.

“As autoridades francesas estão investigando pagamentos de cerca de 2 milhões de dólares a uma companhia conectada ao filho do ex-administrador da Associação Internacional de Federações Atléticas, Lamine Diack, sobre supostas conexões com a aposta de sucesso do Japão em sediar os Jogos”, segundo o Financial Times.

O Japão ganhou os direitos de sediar os Jogos de 2020 com uma proposta de gastar 5 bilhões de dólares, o que é pouco, especialmente em um contexto histórico. Só para a sua informação, a proposta da rival Istanbul foi de quase 20 bilhões de dólares, um compromisso muito mais realista para um evento mundial tão grande.

Enquanto isso, nos perguntamos se a lei de sigilo de Abe entrará em ação, em outras palavras, há algum jeito que ela impeça investigações? Afinal, a lei permite que qualquer político japonês ponha um criminoso atrás das grades por 10 anos por violar segredos de estado, que são o que quer que o acusador chame de sigiloso. Afinal, entre Fukushima e os Jogos, pode haver muita coisa sigilosa nos bastidores.

A lei de sigilo estatal do Japão, Ato 108 de Proteção de Segredos Especialmente Designados (SDS) de 2013, que passou fixada aos calcanhares do colapso de Fukushima, é muito similar aos Controles Públicos de Paz e Ordem de WWII do país. De acordo com o ato 108, o “próprio ato de vazar” já é ruim o suficiente para o processo, independente do que, como ou porquê. Absolutamente, se alguém “vazar”, vai para o corró.

Susumu Murakoshi, presidente da Federação Japonesa de Associação de Advogados, discorda: “A lei deveria ser abolida pois prejudica a democracia e os direitos das pessoas de saberem”, como veiculou o Japan Times.

O Japan Times precisa checar os fatos sobre a definição de democracia.

Fonte: Counter Punch

 

 

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