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A madeira será mesmo o combustível do futuro?
Autor: THE ECONOMIST

25-10-2013

Para obter energia sem aumentar as emissões de CO2, nada mais simples do que queimar árvores nas centrais existentes, substituídas à medida que outras vão sendo abatidas. Este método é fortemente apoiado por subsídios, mas só é eficaz a longo prazo.

Qual a mais importante fonte de energia renovável na União Europeia? Será a energia solar? (A Europa tem três quartos do total da capacidade mundial instalada de energia solar fotovoltaica.) A eólica? (A Alemanha triplicou a sua capacidade em energia eólica, na última década.) A resposta é: nenhuma delas. O maior combustível dito renovável usado na Europa é, de longe, a madeira.

Nas suas diversas formas, de paus a serradura compactada (“pellets” ou, para usar o nome em voga, biomassa) responde por cerca de metade do consumo de energia renovável da Europa. Em alguns países, como a Polónia e a Finlândia, a madeira satisfaz mais de 80% da procura de energia renovável. Mesmo na Alemanha, sede do Energiewende, sistema de conversão da energia na Europa, que distribuiu uma enorme quantidade de subsídios para a energia eólica e solar, 38% do consumo de combustíveis não-fósseis provêm da lenha. Ao fim de vários anos em que os governos europeus se vangloriaram da sua revolução energética de alta tecnologia com baixo teor de emissões de carbono, o principal beneficiário parece ser o combustível preferido das sociedades pré-industriais.

A ideia de que a madeira produz pouco carbono parece bizarra. Mas o argumento original para a incluir na lista das fontes de energia renováveis da UE foi respeitável. Se a madeira utilizada numa central de energia resultar de florestas bem geridas, então o carbono que sai das chaminés pode ser compensado pelo que é capturado e armazenado em árvores recém-plantadas. A madeira pode ser neutra em emissões de carbono para a atmosfera. Se realmente acaba por sê-lo, é outra questão. Mas uma vez tomada a decisão de a considerar renovável, o seu consumo disparou.

No setor da eletricidade, a madeira tem várias vantagens. A instalação de parques eólicos é cara, mas as centrais de energia térmica podem ser adaptadas para queimar uma mistura de 90% de carvão e 10% de madeira (em co-combustão) com pouco investimento adicional. Ao contrário de novos parques solares ou eólicos, as centrais elétricas já estão ligadas à rede de distribuição. Além disso, a energia da madeira não é intermitente, como a produzida a partir do sol e do vento, pelo que não requer energia de reserva durante a noite ou em dias sem vento. E como a madeira pode ser usada em centrais a carvão, que seriam encerradas pelas novas normas ambientais, as empresas de energia adoram a ideia.

Dinheiro que cresce nas árvores

O resultado foi formar-se rapidamente uma aliança para apoiar subsídios públicos para biomassa. Juntou os Verdes, que defendiam que a madeira era neutra em carbono; produtores, que veem na co-combustão uma forma barata de salvar as suas centrais de carvão; e governos, que veem na madeira a única maneira de atingir as suas metas de energia renovável. A UE quer ir buscar 20% da sua energia a fontes renováveis até 2020, mas falharia essa meta em larga medida cingindo-se apenas às fontes de produção solar e eólica.

A proporção que permitirá cumprir a meta para 2020 está a gerar um novo tipo de área de negócio. No passado, a eletricidade a partir de madeira era uma operação de reciclagem de resíduos em pequena escala: as fábricas escandinavas de celulose e de papel tinham uma central de energia nas proximidades, que queimava os ramos e a serradura por elas desperdiçadas. Mais tarde, veio a co-combustão, uma alteração com pouco impacto. Mas em 2011, a RWE, uma grande empresa alemã, converteu a sua central Tilbury B, no leste da Inglaterra, para produção integral à base de “pellets” de madeira (uma forma comum de compactação de madeira para ser queimada industrialmente). Incendiou o mercado.

A Europa consumiu 13 milhões de toneladas de “pellets” de madeira em 2012, segundo o International Wood Markets Group, uma empresa canadiana. Seguindo as tendências atuais, a procura europeia chegará a 25 a 30 milhões de toneladas por ano até 2020.

A Europa não produz madeira suficiente para satisfazer essa procura adicional. Assim, uma grande fatia vai resultar de importações. As importações de “pellets” de madeira para a UE aumentaram 50% em 2010 e o comércio global (influenciado pelos chineses, para além da procura europeia) pode subir cinco ou seis vezes, de 10 a 12 milhões de toneladas por ano para 60 milhões de toneladas em 2020, considera o European Pellet Council. Muito desse comércio alimentará uma nova atividade exportadora de madeira que está a crescer extraordinariamente no oeste do Canadá e no sul dos Estados Unidos.

Os preços dispararam. A madeira não é uma mercadoria padronizada e não existe um preço único. Mas o índice de preços de “pellets” de madeira do Argus Biomass Report cresceu de 116 dólares [€89] por tonelada, em agosto de 2010, para 129 dólares [€99] por tonelada, no final de 2012. Isso significa que é eficiente? Não.

A madeira produz carbono em duas ocorrências: a primeira, quando entra na cadeia de abastecimento. O processo de fabrico de “pellets” de madeira envolve moagem, transformando a lenha em polpa, e prensagem. Isso e mais o transporte requerem energia e produzem carbono: 200 quilos de CO2 para a quantidade de madeira necessária para produzir 1 MWh de eletricidade.

Isso diminui a economia de carbono ao mudar para a madeira, aumentando o preço a pagar. Com um subsídio de 45 libras [€53] por MWh, custa 225 libras [€264] economizar uma tonelada de CO2, na mudança dos derivados do petróleo para a madeira. E, mesmo isso, se assumirmos que o restante processamento (na central) é neutro em termos de produção de carbono. O que provavelmente não é verdade.

Combustível e custos para o utilizador

Nos últimos anos, os cientistas concluíram que a ideia inicial de que o teor de carbono produzido em florestas sustentáveis compensava o das centrais de energia era uma simplificação. Na realidade, a neutralidade de carbono depende do tipo de floresta utilizada, da rapidez de crescimento das árvores, da utilização de lascas de madeira ou de árvores inteiras, e assim por diante. Como defendia a Agência Europeia do Ambiente em 2011, a suposição de que “a combustão de biomassa é intrinsecamente neutra em matéria de balanço de carbono... não é correta... porque ignora o facto de o uso da terra para a produção de plantas com fins energéticos normalmente significar que não estará a produzir plantas para outros fins, nomeadamente outras formas de captura de anidrido carbónico”.

Tim Searchinger, da Universidade de Princeton, calcula que, se fossem usadas árvores inteiras na produção de energia, como às vezes acontece, as emissões de carbono aumentariam 79% em 20 anos e 49% em 40 anos, em comparação com o carvão (o combustível mais poluente): a redução de carbono só se faria sentir dentro de 100 anos, quando as árvores de substituição tivessem crescido. Mas, como salienta Tom Brookes, da Fundação Europeia para o Clima, “estamos a tentar reduzir o carbono hoje, não daqui a 100 anos”.

Em suma, a União Europeia criou um subsídio que custa caríssimo, provavelmente não reduz as emissões de carbono, não incentiva a pesquisa de novas tecnologias energéticas e que se prevê que cresça como uma sebe de ciprestes.

THE ECONOMIST
Traduzido por Ana Cardoso Pires

 

 

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