Edição online quinzenal
 
Sábado 18 de Maio de 2024  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 
DOSSIERS
 
Antropoceno: a grande obra do capitalismo
Autor: Najar Tubino

08-01-2016

Como a população será informada sobre a real situação das mudanças climáticas se os próprios autores dessas informações são dominados pelas corporações?

A Comissão Internacional de Estratigrafia vai definir em 2016 se a espécie humana é a maior força natural do planeta, o que precisa de registo nas pedras, tal como já acontece com a radioactividade liberada em mais de dois mil testes nucleares já ocorridos. Argumentos para reforçar a tese de alguns pesquisadores não faltam: metade das florestas foi detonada, mais de 50% das populações de vertebrados, o que envolve pássaros, peixes, anfíbios, mamíferos, foram aniquiladas, o mesmo valendo para populações de espécies de água doce ou marinhas. Anualmente os extractores revolvem as entranhas da terra para buscar dois bilhões de toneladas de ferro, 15 milhões de toneladas de cobre – somente os Estados Unidos extraem três bilhões de toneladas de minérios.

Além de 272 milhões de toneladas de plásticos produzidas em 192 países, sendo que uma parcela entre 4,8 milhões e 12 milhões são jogadas nos oceanos. E as 57 mil represas existentes no mundo que drenaram metade das zonas húmidas e retêm 6.500km3 de água, algo equivalente a 15% do fluxo hidrológico dos rios. Sem contar os 2,3 giga toneladas de sedimentos retidos nos reservatórios. Não é à toa que nos últimos 10 anos, 85% dos deltas foram inundados pelo mar.

O livro: Capitalismo e colapso ambiental

Podemos acrescentar mais números: 2,2 bilhões toneladas de resíduos sólidos jogados no ambiente, incluindo fezes e urina da população urbana que já domina o planeta – mais de quatro bilhões de pessoas. Ou seis triliões de cigarros fumados, que depois formam uma montanha de 750 mil toneladas de plástico e resíduos cancerígenos. Ou ainda mais, na direcção da era digital: 93,5 milhões de toneladas de lixo electrónico previstas para este ano, com a grande contribuição de computadores e smart phones, que agora usam 63 elementos na sua composição. É óbvio que os Estados Unidos lideram a excrescência 29,8 quilos per capita, seguidos pela União Europeia com 19,2, sendo que na Alemanha o consumo per capita é de 23,2kg. Não custa acrescentar mais uma informação – o Centro de Dados do Facebook, na Carolina do Norte, inaugurado em 2012 consumirá na próxima década um milhão de toneladas de carvão. A Agência Internacional de Energia prevê que em 2030 o carvão será a grande fonte de energia eléctrica no mundo – entre 34 e 43% da capacidade das centrais.

Os números circulam diariamente pelo globo terrestre e o professor Luiz Marques, da UNICAMP, transformou no livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”, com 641 páginas e uma interrogação: será que ainda estamos vivos ou só falta aguardar a hora da catástrofe. Mas tem um fundamento que define melhor a situação no mundo globalizado em 2016. Uma citação do livro “Capitalismo e Colapso Ambiental”:

“- A riqueza da humanidade adulta de 4,7 bilhões de pessoas é de 240,8 triliões de dólares (2013), 68,7%, mais de dois terços dos indivíduos adultos situados na base da pirâmide de riqueza possuem 3% - 7,3 triliões de dólares da riqueza global, com activos de no máximo 10 mil dólares. No topo da pirâmide – 0,7% dos adultos possuem 41% da riqueza mundial ou o equivalente a 98,7 triliões de dólares. Somados os estratos superiores da pirâmide – 393 milhões de pessoas, 8,4% da população adulta – detêm 83,3% da riqueza global.”

Para completar: as 500 milhões de pessoas mais ricas no planeta produzem metade das emissões de CO2, enquanto os três bilhões mais pobres emitem 7%.

Quem são os responsáveis?

Por isso, quando a media conservadora e idiota disseminada pelo mundo como um gás tóxico alardeia a força da espécie, ou do “homem”, como sempre preferem, como destruidora do meio ambiente é preciso perguntar o seguinte: quem são os representantes da espécie, de que sociedade participam, qual o conluio sócio económico e político que estão investidos? Enfim, quem são os responsáveis pela sexta onda de extinção de espécies do planeta, pela destruição das florestas, dos mangues, das margens dos rios, do envenenamento dos solos e do ar e que jogam grande parte da humanidade numa corrida insana atrás de acumulação e desperdício?

O professor Luiz Marques tem razão quando diz que a definição do Antropoceno é uma questão filosófica. Não existe mais a visão da divisão entre homem e natureza, agora é natural que a natureza se humanize. Dito isso, após listar todas as consequências da onda capitalista que varre o planeta nos últimos 300 anos.

Entretanto, quem está envolvido com a realidade ambiental, social e econômica do mundo, do país, da sua cidade sabe que a pergunta mais complicada de responder é: por que as pessoas não reagem, não lutam contra a maré acumulativa, contra o apelo consumista, afinal, temos uma catástrofe logo ali na esquina nos esperando. Ou, no mínimo, sabemos que estamos condenando os nossos descendentes a viver no Planeta sobre o administração de HADES, o inferno grego.

Metano da calota polar é um detonador

Deixando de lado o que é óbvio, porque no mundo moderno, onde 28 megacidades têm mais de 10 milhões de habitantes, a corrida pela sobrevivência ou pela manutenção do património mínimo – casa, carro, bicicleta, skate, que seja – não dá margem para vacilo. Ou a pessoa está dentro do sistema e comunga das regras, ou está à margem e luta unicamente pela sobrevivência física. Teoricamente, as informações sobre a situação do mundo circulam, mas de uma forma exótica, sempre com um carácter longínquo ou até mesmo controverso, ou polémico, como dizem os agentes da media corporativa. Aliás, como as populações serão informadas sobre a real situação das mudanças climáticas, se os próprios autores dessas informações rezam pela cartilha de conservadores e autoritários políticos e as corporações que os dominam, sem o mínimo escrúpulo em discutir o assunto. A maior preocupação dos pesquisadores envolvidos nas questões ambientais e sociais do planeta é com a velocidade do aquecimento da temperatura. Segundo ponto: uma maior aceleração pode incluir a calota polar árctica, a parte da Sibéria onde as temperaturas subiram acima das médias dos últimos anos, e estão abrindo furos no permafrost - que é o solo congelado com vegetais - e uma imensa quantidade de metano – entre 100 bilhões e um trilião de toneladas permanece armazenada.

Isso não é uma dedução ou uma análise filosófica. Pode realmente ser um detonador do aumento da temperatura global em poucos anos, antecipando entre 15 e 35 anos a data em que o aumento da temperatura ultrapassaria os dois graus centígrados. Agora, em 2030, exactamente daqui a 14 anos, quando a população ultrapassar os oito biliões de pessoas, a quantidade de carros que deverá circular no planeta será de dois biliões. A pergunta é simples: alguém acredita que a velha Terra com seus 4,6 biliões de anos aguenta dois biliões de veículos fumegando de norte a sul?

Najar Tubino

 

 

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome