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O difícil consenso do acordo de Paris
Autor: Leneide Duarte-Plon, de Paris*

01-01-2016

Desafio foi conciliar interesses divergentes para limitar os estragos da actividade humana sobre o meio ambiente. O acordo de Paris, parido a fórceps com 24 horas de atraso no fim da COP21, deixou os diplomatas contentes e os organizadores orgulhosos pelo enorme trabalho realizado. Criada pelas Nações Unidas, a Conferência Mundial sobre o clima deu à luz um texto considerado avançado pelos 195 países que o assinaram.

O ponto alto do documento, que entra em vigor em 2020, é a promessa de limitar o aumento das temperaturas produzidas por emissões de gazes de efeito estufa a 1,5% em relação à era pré-industrial. Pequenos detalhes como colocar os verbos no futuro ou no condicional levaram a impasses duros de serem resolvidos. Finalmente, a obrigação de sancionar os países que não cumprirem o acordo foi devidamente posta de lado para tornar o texto mais saboroso pelos EUA, maior poluidor do planeta per capita.

O desafio do acordo de Paris foi apontar caminhos para limitar os estragos da actividade humana sobre o meio ambiente. Hoje 400 milhões de pessoas já vivem em áreas atingidas mais fortemente pelo aquecimento global. Segundo a União Internacional pela Conservação da Natureza, daqui a 2050 haverá entre 13 e 40 milhões de refugiados climáticos, que terão suas terras serem invadidas pelos oceanos ou inférteis pela seca. No Bangladesh, cerca de 17% do território deve desaparecer. O transtorno climático pode causar o desaparecimento de cerca de um quarto das espécies vivas.

Energias fósseis não foram mencionadas

O mais difícil foi conciliar os interesses dos produtores de petróleo e gás, como a Arábia Saudita e a Venezuela, daqueles que querem continuar a se desenvolver no modelo actual, como os americanos, e daqueles que são ameaçados de desaparecer com a elevação dos oceanos. Havia, ainda, os que pensam que não podem ser punidos por quererem alcançar um desenvolvimento que os grandes poluidores já atingiram. Entre esses estão o Brasil, a Índia e a China.

Contudo, a euforia dos responsáveis pelo encontro não teve grande eco por parte das ONGs e cientistas observadores da maior conferência sobre o clima já realizada no mundo. O texto não menciona a expressão «energias fósseis» nem as palavras petróleo, gás ou carvão, como ressaltou a altermundialista militante e escritora Naomi Klein. Isso é grave quando se sabe que as energias fósseis são responsáveis por 65% de todas as emissões de gases de efeito estufa. «É difícil encontrar um remédio para um doente quando se fecha os olhos para a origem da doença».

Por Paris, passaram todos os poderosos do planeta na abertura dos trabalhos. E de todo o mundo vieram representantes de nações e povos ameaçados pelos desastres causados pelo aquecimento global. Até o cacique brasileiro Raoni, que tanto sucesso causa com seu look exótico, esteve presente para denunciar os estragos feitos pelos que desmatam a floresta e poluem os rios.

Entre os fracos que clamavam por socorro, encontrava-se o grupo de países conhecidos como AOSIS (Alliance of Small Island States). Esse grupo reúne os 44 países mais expostos aos efeitos do aquecimento global mas, contrariamente à China e aos Estados Unidos, campeões de poluição, eles emitem poucos gases de efeito estufa, apenas 0,00001% das emissões mundiais. O representante de um desses países implorou por um acordo restritivo a menos de 1,5% de aquecimento pois sua ilha está ameaçada de desaparecer com a elevação do nível dos oceanos.

Mudar o sistema

Durante a COP21, as ONGs ecologistas adoptaram o slogan: “Mudar o sistema, não o clima”.

«Sem mudar o sistema, não se combate o problema”, pensa Geneviève Azam, da Attac. Ela diz que o acordo de Paris recusou-se a atacar a máquina de esquentar o planeta, a globalização económica e financeira. A coligação americana Grassroots Global Justice Alliance afirma que é necessário um modelo alternativo «baseado numa transição justa para energias renováveis, para construir uma economia colaborativa e um poder ampliado das comunidades locais”.

Outro ponto sensível, o transporte aéreo e marítimo, responsável por 8% do total das emissões de efeito estufa actualmente, não foi sequer mencionado. Até 2050 prevê-se que essa percentagem seja de 39%. Continuar a falar de crescimento das economias mundiais é para os ecologistas um total despropósito. Um deles lembrou a frase que diz que «quem acredita em crescimento infinito num planeta finito ou é louco ou é economista».

No acordo final, prevê-se que os países desenvolvidos do Norte devem garantir aos países do Sul, até 2020, 100 bilhões de dólares por ano para o financiamento dos impactos das mudanças climáticas. Os grandes países emergentes são estimulados a contribuir de forma espontânea, sem previsão de limites.

* Leneide Duarte-Plon é jornalista, trabalha em Paris e é co-autora, com Clarisse Meireles, da biografia de frei Tito de Alencar, Um homem torturado - Nos passos de frei Tito de Alencar.

 

 

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