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“Downton Abbey”, de Michael Engler: o baile final

27-09-2019 - Cinema 7ª Arte

Após o grande sucesso da série “Downton Abbey”, criada pelo egípcio Julian Fellowes, o ponto final chegou ao grande ecrã no dia 19 de setembro, e trouxe uma leve conclusão, ou uma formalidade, à história de uma família que se tornou numa instituição, os Crawley. Dá a impressão que este último suspiro funciona como uma homenagem aos fãs realmente apaixonados pela série, pois pouco ou nada é acrescentado ao mundo de uma minoria aristocrata com séculos de história. Contudo, tanto a produção como a caracterização, principalmente no guarda-roupa, são de se lhes tirar o chapéu, pois mesmo o espectador que não conheça a série de origem será transportado para Downton Abbey, mais precisamente em 1927 – 18 meses após o último episódio.

“Downton Abbey”, de Michael Engler

O filme inicia-se com o mote da visita do Rei Jorge V do Reino Unido (Simon Jones) e da Rainha Maria de Teck (Geraldine James) à prestigiada mansão histórica dos Crawley, que a partir do momento em que a carta oficial da Coroa passa a porta traseira de Downton, somos logo confrontados com uma espécie de boas-vindas, onde percebemos que no fundo nada mudou desde o último episódio. Thomas Barrow (Robert James-Collier) é o mordomo da casa, um cargo que sempre ambicionou, e a sua equipa é nada mais nada menos do que as velhas caras conhecidas que se sem elas este filme não faria sentido. Falo de Mrs. Patmore (Lesley Nicol), Daisy (Sophie McShera), Miss Baxter (Raquel Cassidy), Anna (Joanne Froggatt), ou Mr. Bates (Brendan Coyle).Todas as relações interpessoais manifestam-se precisamente iguais, sendo que só seria de esperar um novo desafio para podermos ver alguma “acção”. A mesma analogia serve para os membros da família Crawley, que reagem à notícia da visita de uma forma orgulhosa, confirmando-se assim a ambição de uma recepção perfeita.

“Downton Abbey”, de Michael Engler

A narrativa ganha impulso com a chegada do staff da Casa Real, que como seria de esperar, não foram bem-vindos pela pequena família de empregados de Downton. Tudo isso dá aso aos clássicos dramas, cumplicidades e aventuras que sempre caracterizaram a série. O verdadeiro fã sente que a intimidade dos personagens pouco ou nada mudou à medida que os preparativos vão avançando. De destacar o papel de Daisy, a jovem cozinheira republicana é uma constante fonte de resistência, e até de comédia, à visita da monarquia. O que se segue são objectos roubados, discussões, planos de sabotagem, muita loiça de prata e obviamente, muita boa comida. Contudo, existe um tema impossível de ignorar, a homossexualidade de Thomas Barrow. Para quem o conhece não é nada de novo, mas neste filme a sua sexualidade é explorada mais além, onde é posto à prova num ambiente gay, em plenos anos 20 no Reino Unido. Escusado será dizer que assumir essa orientação sexual nessa altura era praticamente impossível, mas ao que tudo indica, Mr. Barrow parece ter finalmente encontrado algo mais do que “um mero amigo”.“Há 50 anos atrás ninguém imaginava um homem a voar. Como será que seremos nós vistos daqui 50 anos?”

“Downton Abbey”, de Michael Engler

Pouco ainda falei da família Crawley, mas a verdade é que pouco há a acrescentar, destacando apenas Lady Mary Talbot (por muitos conhecidos como Lady Mary Crawley, interpretada pela atriz Michelle Dockery) e a sua carismática e sábia avó, um dos pilares da série, Violet Crawley (Maggie Smith). A intimidade e cumplicidade entre as duas revela um dos principais (senão o principal) destaque deste filme. As suas personagens são desempenhadas de forma irrepreensível, sendo ambas grandes lutadoras que fazem de tudo para defender o bom nome da família. É uma relação de mestre-aprendiz que revela um fim que faz apertar o coração dos mais sensíveis. Mas quanto aos outros membros, pouco há a dizer. Robert Crawley (Hugh Bonneville), Cora Crawley (Elizabeth McGovern) e Lady Edith (Laura Carmichael) têm pouca relevância na história, pois a última anuncia que está grávida, enquanto que os seus pais simplesmente se limitam a sorrir e a ocupar “lugares vazios” da narrativa. Outra excepção é Tom Branson (Allen Leech) que tem um papel de herói quando se pensava o contrário – um desfecho previsível mas tranquilizador. Esse também parece finalmente ter encontrado alguém que preencha a ferida deixada por Lady Sybil Crawley (Jessica Brown Findlay), uma relação que se desenvolve de forma também previsível.

De um modo geral, a obra funciona como uma espécie de Coda. Esta está longe de ser um filme perfeito, pois em muitos momentos conseguimos detetar alguma pressa ou ansiedade no desenrolar da acção, o que muitas vezes não permite estabelecer uma maior ligação com os personagens. Penso que a fotografia é um dos pontos fortes do filme, pois para além dos planos abertos clássicos, o destaque vai para os planos interiores, pois o realizador Michael Engler soube de forma exímia combinar a luz natural e artificial, dando sempre corpo e estética aos cenários. Já a narrativa é bastante simples, tal como referi no primeiro parágrafo, mas simultaneamente inteligente, tornando o filme fácil de ver, ao que se acrescenta a premissa máxima de Hollywood – um final feliz. Tudo acaba num registo de glamour e formalidade, tal como a série sempre nos habituou, e com um olhar emotivo de Violet que como afirmou a certa altura do filme: “Nós seguimos em frente para o futuro, não voltamos ao passado. Se ao menos tivéssemos escolha.”

Este texto foi originalmente publicado em Cinema 7ª Arte, e é da autoria de Diogo Vieira, tendo sido aqui reproduzido com a devida autorização.

Fonte: Comunidade Cultura e Arte

 

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