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“pour l’ensemble”

04-10-2013 - Carlos Gil

Henry James e George Du Maurier foram amigos íntimos, e se é que HJ alguma vez permitiu que uma amizade atingisse a intimidade terá sido com ele. conterrâneos, artistas – James, romancista, dramaturgo e crítico literário, expoente da época vitoriana na literatura; Du Maurier, pintor mediano mas ilustrador de méritos reconhecidos -, amigos tão unidos como o conservadorismo de HJ permitia, não vendo em Du Maurier um rival nas letras, conheceram em vida destinos diferentes às suas obras que deixam de correr em paralelos distintos e sem choques competitivos até ao momento em que Du Maurier, quase cego e desenhando com dificuldades cada vez maiores, resolve, quase que como entretém, escrever um romance, ditando-o à mulher: ‘T ribly’, considerado o primeiro "best seller" da literatura.

toda a obra de Henry James, romances, novelas e peças de teatro, no seu total não terão atingido dez por cento das vendas daquela peça única - houve um segundo, mas tão fraquinho em tudo que não se leva em conta: cálculos por baixo, ‘Tribly’ vendeu 250.000 exemplares entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos. teve várias adaptações ao teatro. West End e Broadway, não existindo uma Hollywood além dum buraco às portas do deserto de Nevada, eram então o Totoloto dos escritores e fizeram de Du Maurier um homem rico. já Henry James, caso não tivesse fortuna pessoal, nunca conseguiria com os proventos da literatura suportar a displicente vida de "english gentleman" que gozou em Londres após ter-se lá radicado e, até, obtido a nacionalidade britânica (era norte-americano por nascimento). se pegarmos num manual competente de História da literatura Henry James tem lá lugar próprio e indiscutível. George Du Maurier não está lá, e duvido que apareça num rodapé picuinhas.

isto a propósito de tudo. extrapole-se a gosto do freguês. eu faço-o. obra social ou política, reconfortantes saldos bancários, chapéus vergados quando nos cruzam, um golo marcado do fim da rua. percursos de vida. os sucessos instantâneos carecem da verdade do algodão, e é de desconfiar quando tantos e tão míopes ululam que, à primeira vista, é tudo tão, tão brinquinho. o tempo é o juiz, livre do emocional momentâneo e assim apto a escolher e inscrever o que é um destaque devido. a História, portanto. a de hoje faz-se hoje, mas só se escreverá com a lisura não hiperbólica depois de amanhã.

mas voltando ‘aos livros’, e para encerrar o bilhete e fechar a circunferência: sim, também li "O Código da Vinci" e divertiu-me. faço as minhas dietas. mas quando peguei no seguinte esqueci-o, e desse seguinte lembro-me embora do “best seller” só recorde que era giro mas faltava-lhe uma jovem e gaiata a posar nua. pour l'ensemble, como em ‘Tribly’.

Carlos Gil

( Por vontade expressa do autor, o texto respeita a ortografia anterior ao actual acordo ortográfico)

 

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