| RUMO A ORIENTE Cultura na Lisboa Oriental
12-08-2016 - N.A.
Um dos argumentos estratégicos da Expo’98 referia que a criação de um polo de qualidade no extremo oriental de Lisboa, o atual Parque das Nações, viria a permitir a recuperação do eixo que liga esta zona ao centro da cidade. É uma faixa de ocupação sobretudo industrial, em forma de cunha, que se estende por cerca de nove quilómetros entre a Estação de Santa Apolónia e a Matinha, delimitada a um lado pelo rio e os serviços portuários e, do outro, pela linha férrea. Caracteriza-se por uma população envelhecida e pela profusão de espaços industriais e comerciais. Á medida que algumas destas indústrias foram ficando obsoletas e vagando espaços, cresceu também o interesse dos agentes culturais, atraídos pela possibilidade de obter áreas amplos a preços competitivos, mantendo-se perto do centro da cidade.
Artistas plásticos, galerias de arte, teatros e editoras, entre outros, fixaram-se no local e começam a transformá-lo com uma nova urbanidade. Fomos visitar alguns dos principais equipamentos culturais e outros protagonistas desta nova energia a oriente.
Galeria Baginski
Rua Capitão Leitão, 51–53
Uma conversa com o curador e crítico Delfim Sardo foi a pedra de toque para Andréa Baginski decidir a transferência da sua galeria de um apartamento na Rua da Imprensa Nacional para este espaço amplo na Rua Capitão Leitão. Desde 2009, este espaço com uma área generosa e grande versatilidade, permitem-lhe acolher exposições com outro âmbito e qualidade. Neste mês continua patente a mostra dedicada a Arthur Luiz Piza, com o título Contenção, Dispersão , que encerra a 10 de setembro.
Galeria Filomena Soares
Rua da Manutenção, 80
Foi das primeiras galerias a arriscar a mudança para a zona oriental, já lá vão 15 anos. De um espaço comercial em Santos com 300 m2, passou para um antigo armazém de exportação de vinhos com mais de mil. Manuel Santos, diretor da galeria congratula-se de ter conseguido um espaço onde os artistas querem expor, dadas as excelentes condições de que dispõe. Refere ainda que se trata de uma zona segura, onde a vizinhança tem vindo a melhorar significativamente. Até 12 de novembro, apresentam a exposição ' De Tóqui para Out of Nowhere de Miguel Rio Branco.
Teatro Ibérico
Rua de Xabregas 54
Criado em 1981 por Xosé Blanco Gil, o Teatro Ibérico estabeleceu-se na antiga igreja do Convento de São Francisco de Xabregas, numa cedência do Instituto do Emprego e Formação Profissional. A magnífica acústica e a arquitetura religiosa conferem ao espaço características únicas. Laureano Carreira, o anterior diretor, recentemente falecido, gostava de referir que o Teatro Ibérico é a única sala dedicada ao teatro lírico para além do São Carlos. Em 2016, o Ibérico prepara-se para uma nova vida com a chegada da Companhia João Garcia Miguel.
Todos
Rua Pereira Henriques 32
Também lhe chamam o espaço dos dois ‘Freds’. Frederico Miranda, realizador e Frederico Mancellos, designer de comunicação, investiram as suas poupanças e o seu suor para recuperar um antigo armazém de vinhos transformando-o num espaço comum de trabalho. Um conjunto de nichos onde antes estavam pipas de vinho são agora áreas de trabalho que alugam a projetos selecionados que tragam alguma mais-valia ao conjunto de atividades que acolhem. Uma ampla zona de lazer e estúdios partilhados completam o conjunto que inaugurou há cerca de ano e meio.
Editora Pato-Lógico
Rua Pereira Henriques 1, armazém 7
A editora Pato-Lógico é dedicada à ilustração e foi criada em 2010. Já estiveram no Tagus Parque e na LX Factory mas decidiram mudar-se para o Oriente onde encontraram um armazém que lhes proporciona a calma e o conforto que procuravam, a um preço simpático. André Letria, Marta Ferreira e Inês Felisberto partilham um espaço amplo e caloroso onde conseguem concentrar as diferentes vertentes da sua atividade, conjugando espaços de trabalho e de reunião e uma zona de armazém.
João Paulo Feliciano / Pataca Discos
Um antigo armazém na zona do Grilo é o espaço onde o artista plástico e músico João Paulo Feliciano conseguiu concentrar a diversidade da sua energia criativa. É onde tem o seu ateliê, em conjunto com Rui Toscano, e é simultaneamente a sede da editora Pataca, servindo também como estúdio de gravação. Durante a Expo’98, onde dirigiu o espetáculo diário Aquamatrix , começou a reparar nesta zona da cidade. Em 2004 mudou-se para aqui e continua a apostar nesta zona, onde ‘em cada canto há uma surpresa’.
Companhia Olga Roriz
Palácio Pancas Palha
Rua de Santa Apolónia 12 a 14
A Companhia Olga Roriz instalou-se no Palácio Pancas Palha em Outubro de 2013, após um período de incerteza motivado pelo fim da cedência das instalações que ocupavam na Rua da Prata. Neste palácio municipal, perto de Santa Apolónia, fixaram a sede da Companhia e é onde, além de todo o trabalho de composição e ensaio coreográfico, criaram o espaço FOR, para formação em dança e teatro segundo a metodologia de trabalho de Olga Roriz. Acolhem ainda diversos projetos em regime de residência artística.
Teatro Meridional
Rua do Açúcar, 64
A companhia teatral, fundada por Miguel Seabra e Natália Luiza em 1992, fixou-se apenas em 2005, através da cedência camarária de um antigo armazém na Rua do Açúcar. A localização fora do centro não lhes condicionou a atividade. Pelo contrário, Miguel Seabra refere orgulhosamente que nas quatro produções próprias e 11 acolhimentos realizados em 2014, num total de 156 espetáculos, tiveram médias de ocupação a rondar os 90%. Até final de julho, o Meridional tem em cena A Lição , um clássico de Ionesco.
Fábrica Braço de Prata
Rua Fábrica de Material de Guerra, 1
Lê-se no site da Fábrica Braço de Prata que ninguém sabe bem o que ela é que isso tem funcionado em seu favor. Certo é que nasceu em volta de uma livraria, a Eterno retorno, que mais tarde se associaria à Ler Devagar. Os livros são, ainda, o coração do espaço, mas á volta deles há concertos, exposições, performance, ou o que aparecer. Inauguraram a 14 de junho de 2007 e desde essa altura têm conseguido manter uma assinalável capacidade de atração de público.
[ por Tomás Colares Pereira | fotografias de Humberto Mouco/CML-ACL ]
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