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Elogio de Giordano Bruno

21-02-2014 - Henrique Sousa

Há 414 anos, no dia 17 de Fevereiro de 1614, foi assassinado pela Inquisição, que o condenou à morte na fogueira o filósofo e frade dominicano Giordano Bruno.

Recusando corajosamente abjurar das suas convicções, terá declarado aos seus carrascos e inquisidores, no momento da sua condenação ""Talvez sintam maior temor ao pronunciar esta sentença do que eu ao ouvi-la".

Giordano defendeu, contra as concepções dominantes na época e o obscurantismo religioso, que o universo é infinito, povoado por infinitas estrelas e planetas, e que haveria vida inteligente noutras paragens. Pagou com a sua vida a afirmação frontal e pública das suas convicções, a liberdade do pensamento crítico de que deu testemunho.

Não resisto a transcrever aqui este excerto da sua obra Acerca do infinito, do universo e dos mundos (edição da Fundação Gulbenkian), na sua epístola preambular:

...por eu ser delineador do campo da natureza, atento ao alimento da alma, ansioso da cultura do espírito e estudioso da actividade do intelecto, eis que me ameaça quem se sente visado, me assalta quem se vê observado, me morde quem é atingido, me devora quem se sente descoberto. ... só uma coisa me fascina: aquela, em virtude da qual me sinto livre em sujeição, contente em pena, rico na indigência e vivo na morte; em virtude da qual não invejo aqueles que são servos na liberdade, que sentem pena no prazer, são pobres na riqueza e mortos em vida, pois que têm no próprio corpo a cadeia que os acorrenta, no espírito o inferno que os oprime, na alma o error que os adoenta, na mente o letargo que os mata... Daí sucede que não arredo o pé do árduo caminho, por cansado; nem retiro as mãos da obra que que se me apresenta, por indolente; nem qual desesperado, viro costas ao inimigo que se me opõe, nem como deslumbrado, desvio os olhos do divino objecto... falando e escrevendo, não disputo por amor da vitória em si mesma... mas por amor da verdadeira sapiência e fervor da verdadeira especulação me afadigo, me apoquento, me atormento.

Giordano faz parte da minha galeria pessoal de seres humanos de referência, que honram a nossa caminhada de humanas. Faz parte dos heróis cuja vida e obra gostarei de contar aos meus netos.

Foi mérito de uma crónica do Rui Tavares no Público (ver aqui), lembrando Giordano Bruno no aniversário da sua morte, intitulada apropriadamente Hereges e Proscritos, que resolvesse aqui também recordar, mais tardiamente, a dívida de gratidão pessoal que tenho para com um homem assim, que soube estar à frente da sua época, rasgar os véus do obscurantismo e das ideias feitas e abrir novas estradas do conhecimento. Mesmo aceitando pagar com a sua própria vida o caminho que escolheu e de que não abdicou.

É por estas e por outras que "nenhum de nós anda sozinho e até os mortos vão ao nosso lado", como cantamos na Jornada (poema de José Gomes Ferreira musicado por Fernando Lopes Graça). Obrigado, Giordano.

 

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