| VISITA GUIADA AO JAZZ EM AGOSTO 2016
Por Rui Neves
05-08-2016 - N.A.
São 11 concertos no Anfiteatro ao Ar Livre, três na Sala Polivalente, três documentários, duas conferências e a apresentação do livro The Sound of the North – Norway and the European Jazz Scene, do jornalista italiano Luca Vitali. Entre 4 e 14 de agosto, a Fundação Calouste Gulbenkian recebe alguns dos músicos mais conceituados da atualidade na 33.ª edição do Jazz em Agosto .
A pouco dias do início, o programador Rui Neves fez-nos uma “visita guiada” pelos concertos e grandes momentos do Festival .
MARC RIBOT & THE YOUNG PHILADELPHIANS + LISBON STRING TRIO
O grande guitarrista norte-americano apresenta-se com um novo projeto, acompanhado por um trio de cordas ocasional, constituído por três músicos da Orquestra Gulbenkian [João Andrade, Bárbara Reis e Mickhail Shumov] . Trata-se de um projeto onde Ribot evoca a música soul de Filadélfia dos anos de 1970 e o conceito armolódico de Ornette Coleman, daí a presença deste trio de cordas a fazer coros. O resultado é uma música direta, baseada no funk, bem ritmada, que considero proporcionar a abertura adequada para esta edição.
4 agosto | 21h30
TIM BERNE’S SNAKEOIL
Tim Berne é um saxofonista muito importante na cena do jazz contemporâneo. Este norte-americano apresenta uma reformulação do seu quarteto, agora quinteto, que até tem um guitarrista de origem portuguesa, o Ryan Ferreira. O disco Snakeoil teve um enorme eco na imprensa da especialidade, o que se percebe por reunir músicos que são, no mínimo, indomáveis.
5 agosto | 21h30
PULVERIZE THE SOUND
O trompetista Peter Evans, presença regular no festival, mas sempre com novos projetos, apresenta-se ao lado do baixista Tim Dahl e do baterista Mike Pride num trio colaborativo. É um grupo radical, de extremos, que propõem um concerto energético, ideal para ser apresentado ao ar livre.
6 agosto | 21h30
EVE RISER + WHITE DESERT ORCHESTRA
A primeira presença europeia no festival. Trata-se de um ensamble de 11 músicos liderados pela pianista Eve Riser que vem demonstrar toda a originalidade do jazz francês. Risser, compositora de excelência vem da Orchestre National de Jazz e este é, claramente, o seu projeto mais ambicioso, depois de se ter destacado com o seu trio. Já tive oportunidade de assistir a um concerto desta White Desert Orchestra num festival lá fora, e confesso ter ficado deveras impressionado com a performance destes músicos e, sobretudo, com Risser.
7 agosto | 21h30
TETTERAPADEQU
Formação composta por músicos da mesma geração de origem portuguesa e italiana. Em comum, terem estudado juntos no Conservatório de Amesterdão. Entre eles nota-se uma intensa afinidade e uma enorme cumplicidade. Segundo os próprios, a sua música é aparentemente free, mas há qualquer coisa de poético nela. Cá estaremos para o confirmar.
8 agosto | 21h30
PETITE MOUTARDE
Este é o novo projeto do violinista Théo Ceccaldi, apontado há um par de anos pela Jazz Magazine como o músico revelação em França. Este seu quarteto foi inventado para fazer música com filmes, e assim será, aqui, com excertos de filmes surrealistas de René Clair, Marcel Duchamp e Man Ray projetados numa tela, a acompanharem um quase jazz de câmara de grande inquietude sonora.
9 agosto | 21h30
TUBA & DRUMS DOUBLE DUO
Mais um projeto de músicos portugueses (com um músico inglês, esclareça-se) que de antemão comporta uma originalidade: é formado por duas tubas e duas baterias. É uma encomenda que fazemos ao músico Sérgio Carolino, um dos nossos maiores nomes da tuba, solista da Orquestra Sinfónica do Porto, nome muito referenciado na música clássica, mas também no jazz, outra das suas paixões. O Sérgio decidiu convidar um seu émulo, o companheiro de instrumento Oren Marshall, e dois bateristas de luxo: Mário Costa, músico da nova geração já com destacada carreira internacional, e o polivalente Alexandre Frazão. Como proposta nova que é, trata-se de um concerto muito ansiado por todos nós.
10 agosto | 21h30
AVA MENDOZA
A nova sensação da guitarra apresenta-se com o seu trio. A norte-americana Ava Mendoza regressa ao Jazz em Agosto , anos depois de ser ter apresentado na Nublu Orchestra de “Butch” Morris. Hoje, denota-se uma significativa evolução e um talento enorme, reconhecido por John Zorn que a puxou para o catálogo da Tzadik. À semelhança do Pulverize the Sound (com quem partilha o baixista Tim Dahl), a música de Mendoza baseia-se nos blues mas incorpora o psicadelismo, o punk, o noise, etc. É um verdadeiro power trio na mais pura aceção do termo.
11 agosto | 21h30
Z-COUNTRY PARADISE
A ativíssima e criativa cena de Berlim faz-se representar no festival através de uma formação liderada pelo músico Frank Gratkowski. Esta formação tem a particularidade de integrar uma cantora (a sérvia Jelena Kuljic), mas esqueçam qualquer semelhança com aqueles grupos mais convencionais. Aqui, a voz é usada como qualquer outro instrumento. Outra curiosidade: Jelena é também atriz e isso permite-lhe ter uma presença em palco muito, muito interessante. Mais, os poemas que ela canta são de Rimbaud, Charles Simic e Gabriele Günter, algo que torna tudo muito mais substancial do que aquilo que por ai se vai ouvindo.
12 agosto | 21h30
SUPERSONIC
Um sexteto muito original, francês, liderado pelo saxofonista Thomas de Pourquery que neste projeto versa sobre a música de Sun Ra. Apesar de, um pouco por todo o mundo existirem formações que perseguem a herança musical do influente músico norte-americano, este parece-me o projeto mais convincente. As características da música de Sun Ra encontram-se, na apropriação e reinvenção que Pourquery faz dela, perfeitamente espelhadas neste Supersonic. Seguramente, promete ser um dos grandes concertos desta edição.
13 agosto | 21h30
PAAL NILSSEN-LOVE LARGE UNIT
O baterista norueguês fecha o Jazz em Agosto com a sua Large Unit, uma formação renovada, amplificada, com dois percussionistas brasileiros (Paulinho Bicolor e Célio de Carvalho) que não tornam a música propriamente “abrasileirada”, mas dão-lhe ainda um maior vigor rítmico. É uma música que pode atingir extremos, combinando fanfarra, noise, free e até algum feeling tropical. Acima de tudo, tem uma capacidade de comunicação forte, algo que prezo muito enquanto programador.
14 agosto | 21h30
Mas, para além dos concertos ao ar livre, há ainda três momentos imperdíveis na Sala Polivalente da FCG…
MARC RIBOT
Aproveitando a presença do guitarrista em Lisboa, vamos poder vê-lo a solo, acompanhando a projeção dos filmes integrados em Shadows Choose Their Horrors da cineasta vanguardista Jennifer Reeves. O filme e a guitarra de Ribot para apreciar num momento tão aguardado como inesperado.
5 agosto | 18h30
PAAL NILSSEN-LOVE
O reconhecidíssimo baterista norueguês vai estar a solo para o prazer de todos nós. Um concerto com ligação direta não só ao espetáculo da sua Large Unit que encerra o Jazz em Agosto , como à apresentação do livro do italiano Luca Vitali sobre o jazz escandinavo.
13 agosto | 18h30
FRANK GRATKOVSKI
O saxofonista alemão fará um solo de saxofone alto com processamento eletrónico, proporcionando uma experiência completamente diferente do habitual.
14 agosto | 18h30
Rui Neves destaca ainda duas conversas entre o músico Evan Parker e o musicólogo David Toop. A primeira incidirá sobre as músicas milenárias que se vão perdendo (6 agosto) ; a segunda versará sobre o nascimento da música de improvisação nos anos 1960 enquanto nova estética, proveniente tanto do jazz avant garde como da música contemporânea, algo que, precisamente o Jazz em Agosto tem retratado ao longo destas décadas.
Feita a "visita", fique a saber que os preços dos espetáculos oscilam entre os 7,50€ e os 20€, sendo este ano introduzida uma nova modalidade de assinatura para os 11 espetáculos no Anfiteatro ao Ar Livre com o valor de 110€.
[ por Frederico Bernardino | fotografias de Humberto Mouco/CML-ACL ]
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