| Azulejaria portuguesa: Uma tradição que dá vida a Portugal
01-04-2016 - M.P.
É difícil não dar por eles. A azulejaria portuguesa percorre estilos de todos os tempos e enche de cor qualquer passeio ou vista. Um marco na história de Portugal que dificilmente passa despercebido.
Ao passearmos pelas ruas e ruelas de Portugal, deparamo-nos com uma paisagem urbana adornada pela famosa azulejaria portuguesa. Sejam azuis, verdes ou amarelos, com mosaicos, padrões e feitios para todos os gostos, cada um daqueles quadradinhos pintados tem uma história e simbolismo que muitos desconhecem.
Origem
Azulejo é a palavra portuguesa que designa uma placa cerâmica quadrada com uma das faces decoradas e vidradas. A sua utilização é muito comum em países como Espanha, Itália, Holanda, Turquia, Irão ou Marrocos, mas em Portugal assume especial importância no contexto universal da criação artística.
Este termo designa uma peça de cerâmica de pouca espessura, geralmente, quadrada (originalmente fabricada nas medidas 15×15 ou menores formatos), em que uma das faces é vidrada, resultado da cozedura de um revestimento geralmente denominado como esmalte, que se torna impermeável e brilhante. Devido a essa impermeabilidade era, geralmente, usado em áreas molhadas também pelo seu baixo custo e pela resistência.
O nome vem do árabe e ganhou tradição em terras portuguesas. A arte da azulejaria portuguesa criou raízes na Península Ibérica por influência dos árabes que trouxeram para as terras conquistadas os mosaicos para ornamentar as paredes dos seus palácios. O estilo fascinou espanhóis e portugueses, levando os artesãos a pegar na técnica mourisca, que levava muito tempo, simplificando-a e adaptando-a aos padrões de gosto ocidental.
Os primeiros exemplares usados em Portugal, os Hispano Mouriscos, vieram nos finais do século XV de Sevilha e serviram para revestir as paredes de palácios e igrejas. Passados cerca de setenta anos, em 1560, começam a surgir em Lisboa oficinas de olaria que produzem azulejos segundo a técnica de faiança, importada de Itália. A originalidade da utilização do azulejo português e o diálogo que estabelece com as outras artes faz dele um caso único no mundo.
Viajar pelo país é visitar um autêntico museu vivo da azulejaria mas é no Museu Nacional do Azulejo, em Lisboa, que se pode conhecer de forma única toda a sua história e a evolução técnica e artística, desde os primeiros tempos até à produção contemporânea.
Ornamentado com painéis que testemunham a evolução e a monumentalidade desta peça de cerâmica decorativa, aquele que é considerado um dos mais importantes museus de cerâmica do mundo está instalado no antigo Convento da Madre de Deus, fundado em 1509, pela Rainha D. Leonor.
Produção de azulejos
A indústria do azulejo floresce com as encomendas da nobreza e do clero: grandes painéis são fabricados à medida para preencher as paredes de igrejas, conventos, palácios, solares e jardins.
A inspiração vem das artes decorativas, dos têxteis, da ourivesaria, das gravuras e das viagens dos portugueses ao Oriente. É a altura em que aparece o azulejo de padrão, com destaque para os frontais de altar, uma das formas originais da utilização do azulejo, imitando o revestimento tradicional de tecido.
A preocupação em trazer novos temas para as artes decorativas assenta muitas vezes num certo improviso associado a esta forma única de querer fazer diferente. A policromia dos amarelos, dos verdes ou dos castanhos arroxeados, irá dar lugar ao azul sobre fundo branco, duas cores herdadas por influência holandesa e da porcelana oriental.
A partir do século XIX, o azulejo ganha mais visibilidade, sai dos palácios e das igrejas para as fachadas dos edifícios, numa estreita relação com a arquitectura. A paisagem urbana ilumina-se com a luz reflectida nas superfícies vidradas. A produção azulejar é intensa, são criadas novas fábricas em Lisboa, no Porto e em Aveiro. Mais tarde, já em pleno século XX, o azulejo entra nas estações de caminho-de-ferro e metro, sendo alguns conjuntos assinados por artistas consagrados.
A tradição fez-se ainda mais popular, apresentando-se como solução decorativa para cozinhas e casas-de-banho, numa prova de resistência, inovação e renovação desta pequena peça de cerâmica.
Obras públicas
Enunciar todos os locais onde se podem admirar seria difícil, mas vale a pena referir alguns em que foram aplicados de forma sistemática ou original: as estações de metro das Laranjeiras, Cidade Universitária, Oriente e Chelas, em Lisboa, são espaços de união de cor e arte portuguesa.
Esta ideia passou fronteiras e levou também obras de arte para estações de metro em Bruxelas, Paris, Budapeste, Moscovo e Sydney.
A recuperação da parte oriental da cidade de Lisboa, a propósito da EXPO 98, permitiu verificar a actual pertinência do uso do azulejo e da persistência portuguesa do gosto por monumentais revestimentos cerâmicos.
Algumas igrejas são verdadeiras telas de obras de arte, no que diz respeito às suas fachadas com pinturas sobre os azulejos. Todas concebidas por artistas conceituados nesta arte que é tão tipicamente portuguesa e que tanto encanta os turistas. Cada painel conta-nos uma história.
Nos altos da Rua 31 de Janeiro está a Igreja de Santo Ildefonso, construída entre 1730 e 1739, com painéis de azulejos nas suas duas torres.
Após passar a Torre dos Clérigos, lá está a Igreja do Carmo, no seu estilo barroco/rococó, construída entre 1756 e 1768, com a sua fachada lateral totalmente coberta com uma lindíssima pintura em azulejos.
A Estação de São Bento, no Porto, é uma das estações de comboio mais belas do mundo. É no seu átrio que as pessoas que ali passam pela primeira vez perdem o fôlego ao ver os belíssimos painéis de azulejos que representam cenas históricas do Norte de Portugal. São aproximadamente 550 m2 de azulejos que demoraram 11 anos para ficarem prontos.
A Igreja de São Lourenço, em Almancil, é um exemplo de referência do revestimento azulejar total (paredes e teto) integrado no estilo barroco português, e igualmente um ponto de visita obrigatória do património histórico algarvio.
Mas estes objectos não têm de ficar apenas na memória e nas fotografias. Numa versão mais clássica ou mais moderna, avulso ou em painel, são com certeza uma boa recordação de Portugal para levar para casa ou oferecer a um amigo.
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