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Arte Institute está a levar ao mundo a arte contemporânea portuguesa

25-03-2016 - Ana Grácio Pinto

A partir de Nova Iorque, onde criou em 2011 o Arte Institute, Ana Ventura Miranda já realizou eventos em 13 países.

Em 2015, ‘estacionou’ no Kennedy Center, em Washington, um eléctrico de cortiça em tamanho real desenhado por Nuno Vasa e uma jangada de pedra, construída pelos arquitectos Souto de Moura e Siza Vieira. E as cerca de 500 mil pessoas que por lá passaram durante o festival «Iberian Suite: Arts Remix», descobriram que a cultura contemporânea portuguesa tem muito a apresentar. A participação portuguesa naquele festival esteve a cargo do Arte Institute, fundado em Abril de 2011, em Nova Iorque, pela actriz, realizadora e jornalista Ana Ventura Miranda.

Organização independente e sem fins lucrativos, dedica-se à internacionalização da arte contemporânea portuguesa e é o fruto de uma ideia que, no seu início, foi por muito considerada “megalómana” e “irrealizável”. Ana Miranda provou o contrário.

“Trabalhamos em todas as áreas da criação contemporânea portuguesa - cinema, artes plásticas, música, dança, literatura, performance, teatro - sempre a partir de Nova Iorque. Desta cidade levamos a arte contemporânea portuguesa para outros países e não há outra organização que faça isto de forma tão transversal”, explica Ana Miranda.

Através do Arte Institute, Ana e a sua pequena mas entusiasmada equipa, tem sido responsável pela organização de eventos culturais nos Estados Unidos, como o o ‘NY Portuguese Short Film Festival’, as ‘Summer Nights Series at Union Square Park’, a ‘Semana José Saramago em NY’, ‘Pessoa in New York’, o ‘Arte Institute Contemporary Dance at Alvin Ailey’, as ‘Mulheres Portuguesas na América’, entre muitos outros. Mas a acção desta organização já ‘saiu de portas’ e tem levado a arte contemporânea ao mundo. “O Arte Institute já promoveu mais de 550 artistas e apresentou eventos em 29 cidades de 13 nações, nos cinco continentes. Em 2015, organizou 64 eventos em vários países”, revela.

Ana Miranda residia já há cinco anos em Nova Iorque quando decidiu aventurar-se num projeto que tem vindo a crescer a cada ano. “Eu não ‘via’ o Portugal contemporâneo, aparecia o Portugal mais tradicional, com os ranchos, o fado - que são representações muito importantes da nossa cultura e da nossa identidade, mas há todo um Portugal moderno, actual, que não aparecia em lado nenhum. Para além de, muitas vezes, os próprios americanos não terem uma noção de Portugal e de quem nós realmente éramos”, recorda.

O ‘click’ deu-se quando participou, como realizadora num festival de curta-metragens, e venceu: “enquanto estava a assistir as outras curtas em competição, pus-me a pensar que em Portugal, cinco anos antes, já se faziam coisas muito melhores do que aquilo”. Naquele dia, tomou uma decisão que, não sabia entretanto, iria mudar a sua vida: abriu mão de um mês de ordenado (Ana Miranda trabalhava numa galeria muito conhecida em Nova Iorque) para fazer uma pequena mostra de filmes portugueses. “Quando comecei a falar com pessoas para enviarem curtas para a mostra, percebi que tinham muita qualidade e decidi fazer um festival”, recorda. Surgia assim o New York Portuguese Short Film Festival, o evento que esteve na génese do Arte Institute.

“Foram dois meses e meio. Decidi fazer o festival, contratei duas pessoas em Portugal para criarem o site e, quando este já estava a ser criado, questionei-me por quê não criava um portal: algo maior, com divulgação dos artistas plásticos numa galeria virtual; com artigos sobre artistas portugueses que viessem a Nova Iorque, que estivessem a apresentar trabalhos; e com sugestões. O Arte Institute nasceu assim”, recorda Ana Ventura Miranda.

O New York Portuguese Short Film Festival - que decorre, desde a primeira edição, em simultâneo em Lisboa e Nova Iorque e já foi levado a outros países - acabou por se realizar um mês depois do lançamento do portal (http://www.arteinstitute.org/). Ana explica que se mantém uma plataforma online, por ainda não haver um espaço físico. Mas tal não reduz o trabalho que desenvolve, nem o limita às fronteiras de Nova Iorque. “Este projecto, que muitas pessoas diziam ser impossível e uma ideia megalómana, porque ninguém iria querer promover a cultura contemporânea portuguesa, provou o contrário. E não foi preciso muito dinheiro, porque eu só tinha mesmo o meu ordenado. O primeiro apoio financeiro que recebemos foi de um fundo americano que incluiu o nosso festival nos seus programas culturais”, revela ainda. Os patrocinadores disponibilizaram o Union Square Park para o festival, por um dia, mas a receptividade foi tal, que propuseram à realizadora a utilização do local durante o ano, para que o Arte Institute ali realizasse eventos relacionados com a arte contemporânea portuguesa.

“De repente, tínhamos um espaço físico e vi que esta era uma oportunidade imperdível. Aceitei a proposta e assegurei que teríamos ali, cinema português a cada 15 dias. ‘Agarrei-me’ ao telefone para Portugal para arranjar mais eventos. Hoje em dia temos muito conteúdo, mas naquela altura o portal tinha um mês e meio de vida”, sublinha. Surgiu então o projecto ‘Summer Night Series’, que Ana apresentou aos patrocinadores como um evento de música, cinema e artes plásticas, a realizar ao ar livre, a cada 15 dias. A partir de Nova Iorque, Ana Miranda conta apenas com duas pessoas, ambas a residir em Portugal - Rui Ventura e Constança Vilela - para levar avante a dinâmica do Arte Institute. Por ser um projecto auto-sustentável que chega a todos os pontos do globo, o Arte Institute foi há dois anos apontado pela IBM, como o novo modelo de negócio para a cultura.

Apresentar o Portugal moderno aos luso-americanos

Um dos objectivos do Arte Institute é apresentar a cultura portuguesa contemporânea aos descendentes dos portugueses. E por cultura portuguesa actual, entenda-se não apenas aquela que está a surgir em Portugal, mas também as actividades realizadas por filhos ou netos de emigrantes lusos. “E sempre que passamos por um país, lembramos às pessoas que, se houver ali artistas portugueses, também os podemos divulgar”, alerta.

Em Portugal, as parcerias chegaram por parte da EDP, da CGD, da Fundação Luso-Americana, da Câmara Municipal de Cascais. Com o Camões, I.P. o Arte Institute celebrou em 2014 um protocolo de cooperação, visando o desenvolvimento de iniciativas e projectos de Língua e Cultura Portuguesa Contemporânea com enfoque na literatura, cinema, música e artes plásticas nos EUA. Sobre o futuro, não lhe faltam ideias e projectos, até porque, assegura, há um crescente interesse pela cultura contemporânea portuguesa. Um exemplo deste trabalho de ‘formiguinha’, pode ser visto já a 16 de Abril, o MoMa (Museu de Arte Moderna de Nova Iorque), onde o Arte Institute irá lançar o filme/documentário sobre a história dos primeiros dos portugueses que se instalaram no Soho, um dos bairros icónicos da metrópole americana. “Havia portugueses no Soho a seguir à Segunda Guerra Mundial, e alguns ainda estão vivos, são donos de prédios, vivem como se estivessem em Portugal. São histórias fantásticas”, assegura, com uma alegria contagiante.

Por tudo isto, o Arte Institute vai, felizmente, continuar a dar o que falar…

Ana Grácio Pinto

 

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