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Descendentes de portugueses criaram museu em Malaca que precisa do apoio de voluntários

01-01-2016 - Lusa

A três quilómetros do centro de Malaca, capital do estado com o mesmo nome, na Malásia, há um museu que preserva a memória da presença portuguesa no país, e que se sentiu mais fortemente naquela cidade. O Portuguese Settlement Heritage Museum (Museu da Herança do Povoado Português) abriu portas há três anos, pelas mãos de dois luso-descendentes, Christopher De Mello e Jerry Alcântara.

A cidade que Afonso de Albuquerque conquistou em 1511, para ser uma base estratégica para a expansão portuguesa nas índias Orientais, e que durante 130 anos (1511-1641) foi uma colónia portuguesa, tem desde há três anos um espaço que preserva a memória portuguesa.

E tudo graças à comunidade de descendência portuguesa (iniciada após a tomada de Malaca por Afonso de Albuquerque em 1511) que está a divulgar as memórias da sua ligação a Portugal num museu que sobrevive do voluntariado.

O Portuguese Settlement Heritage Museum (Museu da Herança do Povoado Português), como é conhecido localmente, fica precisamente no centro do Portuguese Settlement, um bairro a cerca de três quilómetros de centro de Malaca que foi criado na década de 1930 para os descendentes de portugueses espalhados pela região.

Há três anos, Christopher De Mello, juntamente com Jerry Alcântara, decidiu pegar num museu antigo que tinha “apenas fotografias” e transformá-lo num espaço de exposição de memórias que hoje recebe pessoas de todo o mundo.

Entre o espólio, com largas centenas de peças, há objetos e coleções pessoais, como biberões e fotografias, e artigos comprados ou “encontrados no mar” pelos pescadores, que podem ser “portugueses, chineses ou indianos”, conta à Lusa Christopher De Mello.

Após ter ficado desempregado, o engenheiro de manutenção, que agora trabalha em part-time, encontrou a oportunidade ideal para “melhorar o museu” fazendo uso dos seus variados talentos, como a carpintaria para montar expositores e a comunicação para contar as histórias da comunidade que não cabem no museu, como contou o luso-descendente à agência Lusa.

É também ele o responsável pelo barco de madeira ‘Flor de la Mar’ (Flor do Mar, em português) implantado no centro do museu para lembrar a famosa nau com o mesmo nome que naufragou em 1511 no estreito de Malaca, com um imenso tesouro, que nunca foi encontrado.

Afonso de Albuquerque, cujo 500º aniversário da morte se assinalou a 16 de dezembro, também está representado, porque foi ele um dos “primeiros pais da aldeia”.

“É por causa dele que estamos aqui hoje”, frisou Christopher, que se sente “incomodado” quando lhe dizem que se assemelha aos malaios.

“Prefiro que digam que eu pareço mais português. Nós aqui nunca dizemos que somos malaios, dizemos que somos malaio-portugueses”, afirmou, explicando à jornalista da agência Lusa que apesar do sangue português já se ter perdido há muito, ainda predominam na comunidade de cerca de mil habitantes, nomes lusos como ‘Sousa’ ou ‘Gomes’.

Mobilias, documentos… e vinho

No museu, o visitante pode ver mobílias, louças, redes de pesca, fotografias, documentos históricos e até vinho produzido pelo próprio Christopher, uma bebida alcoólica feita de maçã que dizem fazer lembrar “o vinho do Porto”. Aos trajes tradicionais lusos oferecidos por portugueses juntam-se trajes semelhantes desenhados e usados pelos grupos de música e de dança locais que disseminam o folclore português na Malásia e no exterior.

Além das três salas de exposição, há ainda um espaço que guarda dezenas de prémios conquistados por pessoas da comunidade em concursos de beleza ou de fatos de Pai Natal ou em torneios de futebol durante os santos populares.

Entre os visitantes do museu, que nem sempre está aberto, há estudantes de todo o país e turistas estrangeiros, que vêm conhecer o Portuguese Settlement, localmente famoso pelo ambiente de festividade no Natal, no Carnaval e nos Santos Populares. Os visitantes pagam dois ringgits malaios (0,42 cêntimos) de entrada, um valor insuficiente para sustentar o projeto, que precisa do apoio de voluntários.

O governo local já apresentou uma proposta para apoiar o museu, mas com a condição de assumir a administração do espaço e pagar um salário aos voluntários, algo que os promotores recusaram. “Eu não quero que no futuro a história malaia entre no Portuguese Settlement. A nossa história portuguesa seria abolida”, justifica. Pedir apoios a Portugal também é visto com algumas dúvidas, pois essa eventual ajuda implicaria o envolvimento das autoridades malaias no museu, acrescentou.

Malaca, que em 2008 foi declarada Património Mundial pela UNESCO, é hoje uma cidade fortemente turística, retratando a história dos vários povos que por aqui passaram. Entre as grandes atrações figuram o Museu Marítimo, que consiste numa réplica da nau Flor de la Mar, a Igreja de São Paulo e a Porta de Santiago, o que resta da fortaleza mandada construir por Afonso de Albuquerque.

 

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