Entrevista do AUTOR AL Index dos Escritores de Almeirim, a SÍLVIA RAPOSEIRA, sobre o seu livro “O Ciclo da Esperança”
20-12-2013 - Autor AL
Escrito ao longo de 5 anos nas horas “mortas”, entre estações ferroviárias e viagens de comboio, entre esperas pelos transportes públicos e trajetos quotidianos entre a casa e a escola onde leciona.
AA - Parece óbvio – pelo prazer que retira dela – que a escrita não é apenas uma consequência das inconstâncias da vida. Que lhe apraz dizer sobre isso?
SR – Apetece-me deixar aqui um poema que já escrevi há alguns anos:
Não resisto a uma folha em branco
Não resisto ao apelo do rabiscar
Tudo em mim se anima
Quando ponho o lápis a mandar.
E lá vai ele a tingir o branco
Ora riscando, ora rabiscando
Linhas curvas e retas
De todas as dimensões e formatos
Que se aninham na folha
Como os pés nos sapatos!
Não posso ver um papelinho ou uma folha solta que começo logo a escrever. Gosto de escrever por escrever, pelo prazer que me dá e muitas vezes o que espoleta a escrita é algo tão simples como um sorriso.
AA – A figura marcante do seu avô é a pedra fundacional desta obra. Estamos certos?
SR – Mais ou menos. O meu avô nunca aparece na obra, não há nenhuma personagem que seja, de algum modo, o meu avô, mas o livro assenta na valiosa herança que me deixou: uma herança a que chamo a “dádiva do adeus”!
O meu avô materno, que já faleceu há 30 anos, quando descobriu que estava doente, e sendo ele enfermeiro sabia em primeira mão o tratamento e o sofrimento dos doentes com cancro, largou tudo e rumou ao norte do país, de onde era oriundo, para junto de familiares e amigos e despediu-se deles. Durante um verão conviveu, contou histórias antigas, relembrou, cantou, tocou e depois regressou a Almeirim para morrer entre os filhos e os netos.
Perante a iminência da morte, aceitou a dádiva que Deus lhe deu e disse adeus.
AA- Este seu “O Ciclo da Esperança” serve também para afrontar “o ciclo da crise”?
SR - A esperança é, de facto, um tema transversal e que pode ser aplicado até mesmo ao ciclo de crise em que vivemos, mas este “Ciclo da Esperança” é algo mais: é o novelo da vida que se desfia com nós, é o caminho de pedras que cada um recebe para caminhar, é a carta fechada que recebemos ao nascer, são as linhas de uma sina que temos de aceitar. Esta Esperança é uma aceitação alegre, confiante, do que a vida nos reserva para o bem e para o mal e independentemente da duração.
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