Ribatejo, em Portugal, une descanso e boa gastronomia
15-11-2013 - Hanny Guimaraes
Dizem os portugueses que seus quatro produtos de excelência são o cavalo, o vinho, o azeite e a cortiça. Poucos lugares de Portugal alcançam graça tão abundante, mas a antiga província do Ribatejo, localizada no centro do país, vem fazendo dos bens tradicionais um trunfo para atrair viajantes e negócios.
No passado, sua vizinha, a região do Alentejo, costumava chamar todos os holofotes para si. Comparada à italiana Toscana, recebia atenções também pela reconhecida produção vinícola. Ao Ribatejo restava a má fama dos vinhos de mesa. A vila de Alpiarça, por exemplo, ficou conhecida pela bebida de qualidade duvidosa, o ciclismo e o comunismo. Assim diz Diogo Campilho, proprietário da Quinta da Lagoalva e também enólogo responsável do lugar. “Mas essa realidade está mudando”, completa.
Na estrada para a propriedade da Lagoalva, é possível ver alguns pequenos agricultores e seus barris repletos de uva trabalhando para a fabricação do vinho do dia a dia. Entretanto, na Quinta, Campilho tem outros planos para as vinhas de seu terreno. Ao se especializar em enologia, tinha o desejo de transformar as vindimas de sua família reconhecidas pela qualidade. Tanto fez que hoje o trabalho chega a 400 mil garrafas por safra, com exportação de 50% do produto. O Brasil recebe cerca de 15% dos vinhos da Lagoalva e países europeus também provam o novo sabor do Ribatejo.
Além da bebida, é feita também a produção de azeite, cortiça, milho e batata, e criação de cavalos lusitanos, vacas e ovelhas. Segundo Campilho, são as bênçãos do rio Tejo. A propriedade está próxima a suas margens e pode ser visitada, com direito à degustação dos vinhos da casa durante um passeio pela Quinta, numa espécie de charrete de 10 lugares, guiada pelos cavalos. Por ano, a fazenda chega a receber até 500 pessoas. Nos arredores, alguns ranchos estão abrindo suas casas e melhorando a estrutura com alojamentos próprios para receber o turista.
Santarém, a 18 quilómetros de Alpiarça, tem 59 mil habitantes e é o distrito da região. Um lugar de sossego, que mantém no portal de entrada os símbolos do orgulho local: os lusitanos e os touros. Uma grande arena é o centro das atenções dos moradores nas quintas-feiras e aos sábados do mês de Outubro. A tourada, prática permitida em Portugal, lota o espaço dedicado à actividade e arranca gestos de bravura dos praticantes. O animal protagonista do evento, também está estampado nos azulejos do Mercado Municipal de Santarém, assim como o inseparável cavalo e toda a história da cidade.
Culinária local
O dia em Santarém começa em uma das pastelarias locais. Mas ao contrário do que se pode imaginar, nada de pastéis gordurosos no cardápio. A pastelaria portuguesa se assemelha às padarias finas brasileiras, cheia de doces, folhados e alguns pães típicos. O segredo, explica uma moradora, é usar o básico. A maioria dos doces portugueses leva açúcar, ovos e amêndoas como ingredientes de base. “Somos especialistas em fazer diferente com a mesma coisa”, brinca a senhora com alguns pasteizinhos de nata sobre a mesa.
Após o “pequeno almoço”, como é chamado o café da manhã dos lusitanos, uma ida ao mercado municipal cai bem. Frutas da estação, verduras variadas e peixes frescos. Tudo cultivado nas proximidades de Santarém e os feirantes, na verdade, são os próprios produtores.
Não se vai ao Ribatejo esperando tendências em gastronomia. A tradição é o ritmo que dita as escolhas culinárias dos habitantes da região, mas para os que acreditam que o bacalhau é a expressão mais forte da comida portuguesa, a carne de porco preto, na própria Santarém, é muito apreciada e geralmente servida com batatas. A alheira, embutido típico de Portugal, e os frutos do mar também são consumidos nos restaurantes locais.
Sopa de pedra
Um prato, porém, recebe a devida notoriedade na cidade de Almeirim, a 7 quilómetros de Santarém. Conta a história que a sopa de pedra era só pretexto de um frade pobre que perambulava em peregrinação e, orgulhoso o bastante para suplicar por uma refeição, disse aos habitantes que iria fazer uma sopa com um ingrediente inusitado, uma pedra. Com a pequena rocha lisa e bem lavada pediu aos donos de uma casa uma panela. No recipiente, o frade colocou a pedra e um pouco de água, mas logo avisou que precisava temperar o caldo. Pediu, ainda, sal, toucinho, batata, feijão, cenoura, carne e enfim, com a desculpa de engrossar o prato, fez uma deliciosa sopa que de pedra só tem o nome.
O movimento turístico na região do Ribatejo sempre ocorreu pelos negócios com os equinos, grande bem português. Entretanto, quem chega ao lugar percebe a riqueza para além dos cavalos. Na Golegã, vila considerada a capital mundial do lusitano e onde acontece a principal feira para o seu comércio, embora cada esquina seja dedicada ao animal há também atracões como o Museu Municipal de Fotografia Carlos Relvas. A casa era o antigo estúdio do fotógrafo que dá nome ao lugar e preserva, assim como o Ribatejo, as imagens preciosas de Portugal.
Aritgo escrito em Setembro de 2011 por Hanny Guimaraes
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