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Destapados os segredos da múmia do faraó Amenófis I

07-01-2022 - Teresa Sofia Serafim

Tinha 35 anos, 1,69 metros de altura e uma cara oval com um nariz estreito – eis o retrato agora revelado do faraó Amenófis I.

Ver a múmia do faraó Amenófis I é quase como voltar ao dia em que foi embalsamado. O seu estado de conservação é muito bom: podem ver-se os adornos com flores e a máscara facial com pedras coloridas. Mas como seria em vida este faraó que governou o Egipto entre 1525 e 1504 a.C.? Pela primeira vez, cientistas egípcios usaram a tomografia computadorizada com imagens a três dimensões para saber quem era realmente Amenófis I. Eis um pouco do retrato agora traçado – tinha à volta de 35 anos, aproximadamente 1,69 metros de altura e bons dentes.

Amenófis I pertenceu à 18.ª dinastia egípcia e governou durante 21 anos. Nesse período, protegeu os territórios do Egipto e liderou uma expedição à Líbia. Outra das marcas do seu poder foi a construção de vários templos.

O local da sepultura original de Amenófis I é desconhecido. Foi em 1881 que a sua múmia viu a luz do dia. Juntamente com as de outros faraós, foi descoberta dentro de uma fenda profunda nas colinas rochosas de Deir el-Bahari, em Luxor. Essa fenda terá sido um esconderijo onde estas múmias terão sido guardadas para que se evitassem roubos. Isto terá acontecido já durante a 21.ª dinastia egípcia.

A múmia do faraó Amenófis I DR

Em 1932, tinha sido feito um estudo com raios-X à múmia de Amenófis I no Museu Egípcio do Cairo – local onde estava desde 1902. Através desse estudo, ainda se estimou a idade do faraó, registou-se que tinha resíduos no crânio ou que possuía um pequeno amuleto no braço direito. Nos anos 60, foi feito outro estudo com raios-X e também aí se estimou a idade do faraó ou viu-se a posição de alguns ossos. Mas faltava precisão: “Os exames de raios-X da múmia do faraó Amenófis I falharam ao não nos darem dados consistentes ou informação detalhada da múmia”, lê-se num artigo agora publicado na revista científica Frontiers in Medicine com um novo estudo.



Nesse novo estudo, realizado em 2019, a múmia foi analisada através de tomografia computadorizada (TC) e obtidas imagens a duas e três dimensões. Dessa forma, pela primeira vez, conseguiu-se ver como realmente seria o faraó.

Vamos por partes. Imagens de TC mostram que tinha uma cara oval com um queixo estreito, um pequeno nariz estreito e achatado, dentes superiores ligeiramente salientes, olhos afundados, o lóbulo da orelha esquerda furado, madeixas de cabelo encaracoladas e umas bochechas descaídas. “Amenófis I era parecido com o seu pai Amósis I, que tinha um nariz estreito e os dentes da frente ligeiramente salientes. Parece que estas são características familiares herdadas”, refere-se num comunicado que detalha os traços agora desvendados de Amenófis I.

Crânio do faraó através de imagens de tomografia computadorizada S. Saleem/Z. Nuwass

A altura estimada para o faraó foi de 168,5 centímetros, o que está na média das alturas dos faraós egípcios. Quando morreu, teria 35 anos. Contudo, a análise com a TC não encontrou a causa de morte. Os seus ossos e articulações estavam saudáveis e os dentes estavam apenas um pouco desgastados.

Também se analisou a forma como Amenófis I foi embalsamado. Este faraó foi o primeiro a ter os antebraços cruzados. Antes de si, nenhum faraó tinha sido assim mumificado. “Amenófis I foi o primeiro a começar a moda dos antebraços cruzados”, concluíram os cientistas.

Ainda sobre a forma como foi embalsamado, verificou-se que o seu cérebro não foi retirado, mas que os seus órgãos internos foram removidos através de uma incisão no abdómen – até para que se pudesse evitar a putrefacção do corpo. O coração permaneceu no peito. “Os antigos egípcios acreditavam que o coração era a casa da alma e, por isso, não o removiam durante a mumificação”, nota-se no comunicado.

Uma reparação anos depois

A múmia de Amenófis I estava bem acompanhada. As imagens de TC mostram que estava coberto de 30 amuletos e uma espécie de cinto com 34 contas de ouro. Há ainda indicações sobre a técnica usada para fazer a máscara facial e no pescoço que envergava: era feita com várias camadas de linho ou papiro coladas e depois revestida com outra camada feita de gesso. Posteriormente, era colocada uma peça de madeira nessas camadas. As características dessa máscara foram feitas para dar uma aparência real à múmia. Prova disso são os olhos recriados com diferentes rochas.

A nova análise dá-nos também alguns detalhes sobre uma manutenção feita a múmias de faraós durante a 21.ª dinastia egípcia (entre 1070 a.C. e 945 a.C.). Até agora, suspeitava-se de que se tinha feito essa acção para se remover e reutilizar equipamento das múmias. Contudo, o estudo com TC mostra agora que essa manutenção foi feita para reparar o corpo mumificado de Amenófis I que tinha sido danificado por assaltantes. Tratamentos com resina ou com pregos metálicos demonstram essa reparação. Também se preservaram (ou até mesmo colocaram) amuletos e jóias que a múmia hoje possui.

A investigadora Sahar Saleem ao lado de uma múmia que está a estudar (não é a do faraó Amenófis I) DR

“Quando fizemos a TC, vimos que o corpo tinha sido danificado por antigos ladrões de sarcófagos”, relembra ao PÚBLICO Sahar Saleem, professora de radiologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Cairo e uma das autoras do estudo. “Mas a TC também mostrou que os esforços e manutenções de embalsamadores posteriores na 21.ª dinastia repararam esses danos. A preservação actual da múmia é muito boa.”

Sahar Saleem já analisou com TC mais de 40 múmias faraónicas e muitas outras sem esse estatuto. Agora, espera que esta técnica venha a ser usada em muitas outras múmias egípcias ou noutras culturas. Quanto à continuação do estudo de Amenófis I, a investigadora diz que estará atenta a outras técnicas que possam surgir e melhorar ainda mais o conhecimento que já temos desta múmia, que está desde Abril deste ano no novo Museu Nacional da Civilização Egípcia.

Fonte: Publico.pt

 

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