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Um ano para celebrar o centenário de José Saramago sem o canonizar

19-11-2021 - Isabel Coutinho

A partir de 16 de Novembro, o Nobel da Literatura português e a sua obra serão alvo de uma programação diversificada comissariada pelo académico Carlos Reis.

“Vamos celebrar os 100 anos de José Saramago para que outros celebrem os 200 anos”. É assim que Carlos Reis, comissário do programa do centenário do nascimento do Prémio Nobel da Literatura português – cujas linhas gerais foram apresentadas esta manhã na Fundação José Saramago –, vê as comemorações que se iniciam a 16 de Novembro deste ano e se prolongam até à mesma data de 2022, quando se cumprirá um século desde o nascimento do escritor.

“Mas vamos celebrá-lo sem um propósito de canonização no pior sentido do termo”, afirma ao PÚBLICO Carlos Reis, para quem Saramago hoje é “para todos os efeitos um escritor do cânone, o que não quer dizer que o tornemos rígido dentro do cânone”. Por isso, o programa, que conta entre outros com o apoio dos ministérios da Cultura e da Educação, foi pensado em eixos – biografia, leitura, publicações e reuniões académicas – e vai extravasar o estrito âmbito da literatura. Haverá teatro, música, dança e cinema, para mostrar “o potencial de diversificação transmediática” da obra de Saramago.

“Isso traz leitores à obra do Nobel da Literatura português. O fomento da leitura hoje não se faz só, ou não deve fazer-se até, obrigando os meninos a lerem, mas chamando-os por vários caminhos.”

Em 1998, quando Saramago recebeu o Nobel, foi já Carlos Reis  a organizar a homenagem que se realizou no Centro Cultural de Belém, a convite de António Guterres. Foi também este especialista em literatura portuguesa que fez o elogio fúnebre do escritor, ele que tem entre os seus livros um de Diálogos com José Saramago (Porto Editora). Razões que levaram Pilar del Río, “presidenta” da Fundação José Saramago, a escolhê-lo para comissário deste centenário, cujas comemorações, acredita, poderão dar-nos “ilusão e optimismo” numa altura em que, por causa da pandemia de covid-19, estamos “fartos de contar o número de vítimas”. Que o centenário possa trazer “ideias de cultura e ideias positivas” é o desejo de Pilar del Río, pois os períodos de confinamento salientaram a importância da cultura como tónico para a resistência individual e colectiva.

A identidade gráfica do centenário foi criada pelo artista Manuel Estrada e o seu atelier  DR, CEDIDO POR ESTUDIO ESTRADA

A partir de 18 de Junho, dia em que se cumprem 11 anos sobre a morte do escritor, será lançado um novo site da Fundação José Saramago onde ficará disponível toda a programação. Dela constarão, por exemplo, as cinco Conferências do Nobel: emergências saramaguianas com “personalidades de projecção internacional”; terão por comissário o escritor Alberto Manguel, por enquanto sem outros nomes confirmados. Os escritores da geração do Prémio José Saramago estarão em foco nas sessões Legados saramaguianos e haverá ainda leituras e debates em torno “de escritores da chamada árvore genealógica de Saramago”, entre os quais Carlos Reis identifica, a partir de testemunhos deixados pelo autor, Padre António Vieira, Raul Brandão, Almeida Garrett, Jorge Luis Borges ou Kafka.

Os três teatros nacionais também se juntam à comemoração. A 10 de Junho de 2022 terá estreia uma nova adaptação dramatúrgica de Ensaio sobre a Cegueira, numa co-produção do Teatro Nacional São João, do Teatre Nacional de Catalunya e do Teatro Nacional D. Maria II. Em Outubro de 2022 poder-se-á assistir à ópera Blimunda, de Azio Corghi e José Saramago, no Teatro Nacional de São Carlos, com direcção artística de Elisabete Matos.

Mafra acolherá um programa com música, teatro e dança intitulado Ecos saramaguianos no Convento de Mafra, cujo programa só mais tarde será divulgado; entre as exposições, destaca-se uma organizada pela Biblioteca Nacional de Portugal e que incluirá materiais do espólio do autor. Um colóquio internacional na Fundação Gulbenkian em Junho de 2022 e o lançamento de um álbum biográfico por Ricardo Viel e Alejandro García, com fotografias e originais inéditos, a publicar em Portugal, Espanha e Brasil, são outras das iniciativas previstas. Haverá também uma nova edição de Viagem a Portugal que contará com fotografias feitas pelo próprio Saramago.

O espanhol Manuel Estrada e o seu estúdio criaram duas variantes do logótipo para o centenário: o primeiro, uma palavra, Saramago, a que aparece aposto o número 100; o outro, um ícone feito a partir do pensamento e do olhar do autor, como explicou ao PÚBLICO o artista também presente na apresentação à imprensa. “Um olhar que escrutina o mundo e de alguma forma o descreve e o transforma. Recordo sempre que ele disse no seu discurso do Nobel que a pessoa com quem mais tinha aprendido era o seu avô, pastor e analfabeto. Essas palavras para mim não são um discurso, são um elemento de transformação. E por isso a evocação desses olhos, porque o 100 aqui não é só um dígito, é também uma recordação do seu olhar.”

Embora a programação ainda esteja a ser ultimada, o programa de abertura do centenário de José Saramago foi já desvendado. No próximo 16 de Novembro, alunos de 100 escolas do ensino básico em Portugal e em Lanzarote, a ilha espanhola onde o escritor viveu e onde hoje fica a sua casa-museu, irão ler em simultâneo o conto infantil A Maior Flor do Mundo, no âmbito da iniciativa Leitura Centenária. Juntar-se-ão ao programa sessões de leitura, debates, performances e exposições em várias bibliotecas da Rede de Bibliotecas José Saramago (Almada, Avis, Beja, Leiria, Loures e Odemira), antes de o dia encerrar no São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa, com um concerto da Orquestra Metropolitana de Lisboa, dirigida por Pedro Neves, em que As sete últimas palavras de Cristo na Cruz, de Joseph Haydn, se encontrarão com textos do autor de O Evangelho segundo Jesus Cristo.

Fonte: Publico.pt

 

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