Exposição Temática de Mário Dionísio em Almeirim
10-10-2010 - N.A.
De 1 a 31 de Outubro, estará patente no átrio da Biblioteca Municipal de Almeirim, uma exposição de temática de Mário Dionisio.
Poeta, crítico, pintor, romancista, licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, onde viria a desenvolver actividade docente. Mário Dionísio desempenhou um papel importante na teorização do Neo-realismo, movimento literário que, pelas décadas de 40-50, à luz do materialismo histórico, valorizou a dimensão ideológica e social do texto literário, enquanto instrumento de intervenção e de consciencialização.
Precisando, em prefácios, artigos e ensaios, as definições, história e alcance do movimento neo-realista, defende uma acepção ampla e intrinsecamente estética do conceito de realismo nos anos 40.
Analisando, por exemplo, em Conflito e Unidade da Arte Contemporânea, os grupos antagónicos em que se digladiava a arte contemporânea, o da arte abstracta e o da arte realista, vê que se apresentava aí um falso antagonismo, mais ideológico e sentimental do que artístico: na verdade não existiriam duas artes, mas apenas uma arte que, "vítima do nosso próprio conflito, se desmembra em aspectos parcelares, se degrada, se corrói quase até à destruição, se separa em duas partes incompletas, artificiais, insustentáveis, caricaturais, estéreis e perniciosas, quando chegam ao extremo da sua evolução" (Conflito e Unidade da Arte Contemporânea, Lisboa, 1958, pp. 30-33).
Considera, assim, a criação estética realista como um "compromisso constante com a realidade sem esquecer o mundo íntimo", não sendo, como arguíam os seus opositores, alheia ao conhecimento do Homem na sua individualidade, às suas pulsões inconscientes, às conquistas formais do irrealismo, mas submetendo-a a uma atitude de solidariedade, de abnegação, de alta humanidade (REIS, Carlos - Textos Teóricos do Neo-realismo Português, Lisboa, 1981, pp. 62-66). É desta convicção de que na obra de arte "forma e conteúdo se não podem separar sem ficarem ambos a escorrer sangue" que chega a criticar a obra romanesca de Alves Redol, cuja falta de modernidade do estilo impede que os assuntos dos romances do autor de Gaibéus alcançassem o estatuto de obras de arte (ib., p. 179).
No âmbito da tentativa de uma reforma cultural encetada pelos intelectuais neo-realistas, através de palestras e acções culturais realizadas em vários pontos do país, participou num esforço conjunto de aproximar a arte e o público, de que resultou, por exemplo, a obra A Paleta e o Mundo, constituída por uma série de lições sobre a arte moderna. Poeta e ficcionista empenhado, fiel ao "novo humanismo", atento à verdade do indivíduo, às suas dolorosas contradições, acolheu, na sua obra, o espírito de modernidade e as revoluções linguísticas e narrativas da arte contemporânea.
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