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“Cadenas d’amour” (ainda): o peso da realidade ou a fantasia do virtual?

22-08-2014 - a.muse.arte

Primeiro, foram as notícias do ritual de fechar cadeados sobre um local público e jogar fora a chave, criando uma analogia com a relação amorosa fechada num elo inquebrável. A pont des Arts, ponte pedestre sobre o Sena, junto ao museu do Loouvre, tornou-se o epicentro deste fenómeno tornado viral (Vd.   “Cadenas d’amour” na pont des Arts).

No filme   Ho voglia di te , do italiano  Luis Prieto, a partir do romance homónimo de Federico Moccia, o par amoroso Step e Babi, cuja história é um encadeamento de encontros e desencontros, prendem um cadeado a um candeeiro da Ponte Milvio, em Roma. Para lá de todas as reflexões acerca da necessidade de criar novas fórmulas ritualizadas para firmar uma união, ou novas formas de representação e exposição do compromisso, da necessidade de assinalar os afetos, um dos aspetos mais relevantes de análise é o cruzamento deste fenómeno com a utilização do património e, atendendo ao peso efetivo dos cadeados, com os riscos de degradação que lhe eram inerentes.

Vieram, então, as notícias sobre a queda de uma secção da grade de proteção da pont des Arts, obrigando à evacuação dos transeuntes. Nessa altura, foram notícia, por um lado, a inoperância ou a incapacidade das autoridades em lidar com o assunto e, por outro lado, o protesto da sociedade civil, nomeadamente, através da campanha No love locks   (Vd.   Libertar o amor e salvar as pontes), que já recolheu perto de 9.500 assinaturas.

As repercussões são também abrangentes: as vendas de cadeados dispararam e aumentam as propostas de modelos personalizados (até com acabamentos em folha de ouro!); a pont des Arts tornou-se um ponto turístico que os guias começam a inserir nas listas de locais incontornáveis e um motivo de fotografia obrigatório. Também eu, fui incapaz de passar por lá sem fotografar o sítio; quanto a lá deixar um cadeado, essa é, obviamente, outra história… Entretanto, Anne Hidalgo, presidente da Mairie de Paris, solicitava ao seu adjunto Bruno Julliard, uma solução que fosse, simultaneamente, “artistique, solidaire et écologique”.

Agora, é notícia a resposta a este pedido: a Mairie de Paris lançou uma campanha de comunicação, em francês, inglês e espanhol, através da colocação autocolantes nas pontes de l’Amour e de l’Archevêché, procuram sensibilizar os casais de amorosos a substituir os cadeados por autorretratos (selfies) e sugerem a sua publicação em linha num sítio eletrónico criado para o efeito ( lovewithoutlocks.paris.fr) ou no Twitter com a hashtag #lovewithoutlocks ( https://twitter.com/hashtag/lovewithoutlocks):

“Nos ponts ne résisteront pas à votre amour, stop aux cadenas,déchaînez votre amour sur lovewithoutlocks.paris.fr”

Em simultâneo, foi lançado um concurso Segundo a Mairie de Paris, citada pela Agence France-Presse (AFP), a ideia é “de proposer aux couples l’alternative des selfies aux cadenas, en expliquant que ces derniers pèsent beaucoup trop lourd pour les ponts parisiens” (cit. in AFP, 2014, 11 ago.). E, ao mesmo tempo que, de uma forma prudente – dado o aproveitamento turístico e promocional desta prática? e Paris precisa disso? – adverte que  ”C’est une première initiative de communication pour expliquer que les cadenas ne sont pas bons pour le patrimoine parisien et en plus ce n’est pas l’idéal pour symboliser l’amour” (Id. ibid.), avança de forma mais pragmática, que, numa segunda fase e em articulação com os serviços dos Bâtiments de France, irão substituir as grades por instalações que não permitam a instalação de cadeados… Ou seja, a apropriação do património acaba por provocar a sua alteração, não por ação direta do uso indevido, mas em consequências das medidas para o evitar.

A campanha de comunicação levada a cabo pela Mairie parece estar a resultar. Menos de uma semana depois, o sítio eletrónico já tem centenas de fotografias e as declarações de amor ultrapassaram definitivamente o princípio restrito do cadeado fixado por um casal de enamorados às guardas das pontes. As fotografias (não apenas   selfies ) mostram abraços entre pessoas – casais, famílias, grupos, sozinhas – que se encontram no cenário mítico da cidade de romance. Bruno Julliard encontrou a solução “artistique, solidaire et écologique” substituindo o fenómeno do cadeado por um novo fenómeno viral e expressivo da nova cultura.

De resto, já em 2007, no final do filme de Luis Prieto, o rapaz envia à rapariga, como prova de amor, uma fotografia de ambos a beijarem-se com a legenda “ho voglia di te”.

Referência bibliográfica:
-AFP. (2014, 11 ago.). Paris: des “Selfies” pour remplacer les “cadenas d’amour” sur les ponts. Acedido em:   http://www.afp.com/fr/node/2716508

-Fontes das imagens:
[Pont de l'Archevêché]:
https://plus.google.com/photos/117483130621908395289/albums/6047030310724570081?banner=pwa

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