Os casos de contaminação multiplicam-se, o tempo encurta e diariamente somos bombardeados por uma comunicação social que se desdobra na sua habitual rotina de dar voz aos políticos e não aos técnicos.
É um facto que, afastada do palco por quem a nomeia, nenhuma autoridade sanitária foi até hoje confrontada com as suas responsabilidades.
E até o Presidente da República mais não faz do que, muito corajosamente, se apressar em testes inúteis e a anunciar que, preventivamente, se encontra no posto de comando a lavar roupa e a partir louça.
A grande notícia de ontem foi, mesmo, a chegada a Lisboa do primeiro infetado português, um marítimo” da Nazaré: “personalidade” recebida com honras de Estado, no aeroporto, pelo Secretário de Estado da Saúde e ainda Presidente da Distrital de Leiria do PS e pelo atual Presidente da Câmara da Nazaré, por acaso também atual candidato a líder dessa mesma distrital, nesta semana.
Confrontado numa pequena entrevista televisiva com a “guerra” que temos de heroicamente travar, nos próximos tempos, o ignoto marinheiro nazareno havia de dizer mais do que tudo aquilo que as desautorizadas autoridades sanitárias até hoje não puderam: que Portugal não está minimamente informado sobre as medidas preventivas e que tarda a mobilizar-se para a catástrofe que se avizinha.
Sem cadeia de comando, e em improvisos que até doem, até já assistimos ao anúncio de “importantes” medidas pela televisão, sem nenhuma diretriz orientadora, lançando-se assim a total confusão em setores onde mais devia reinar a serenidade e o rigor.
É pois tempo de não calar mais as evidentes verdades que deparo:
1 – Que Portugal não está a ser dotado dos meios necessários, nomeadamente de oxigenação assistida, necessários para combater a mortandade que se adivinha.
2 – Que, para além de apregoar lugares comuns, como lavar as mãos, o Ministério da Saúde não investe um minuto a recomendar as regras básicas de higiene que um povo culto e informado já há muito deveria conhecer.
3 – Que nos elementos da Proteção Civil e transportadores, mais do que uma ignorância confrangedora, alastra uma “pandemia” de arrogância que chega à desobediência às medidas sanitárias mais elementares, impostas em algumas das Unidades de Saúde.
4 – Que a ausência de diretrizes na formação técnica destes e de muitos outros profissionais, um pouco em todas as áreas da atividade, e nesta altura do “campeonato”, já só pode ser considerada como criminosa.
Embora ateu, rogo aos crentes que implorem a proteção divina: A par do coronavírus, que Deus proteja Portugal desta cadeia de comando sem qualquer qualidade e o mínimo senso.
Cândido Ferreira