Quem viu e respirou Veneza em toda a sua aura de vetustez romântica e plenitude ímpar de Museu vivo do Mundo, soçobra a uma lágrima amarga, ao ver que - embora tal iminência esteja denunciada há séculos - a cidade será MESMO tragada pelas águas.
Mais tarde; ou, afinal, cada vez mais cedo, infelizmente.
E que nada, - entre tantos estudos, projectos e barragens - foi feito para o impedir.
Com ela morrerá, a breve prazo submersa, a capital de Arte, o emblema do Renascimento, o último refugio dos amantes em busca do sonho proibido, os gondolieri dotados, e mesmo os mais desafinados. os vaporettos, as pequenas orquestras tocando nas esplanadas e um sentimento - talvez decadente como a velha Europa...- mas ainda lindíssimo como Santuário de Artes e Cultura que dela irradiava.
Assim entregaram este planeta de beleza nas mãos erradas para destinos (im)previsíveis.
Dói no lado de dentro da historia e da paixão. Esta devia ser uma cidade do Mundo acima de toda e qualquer destruição.
Um sacrário absoluto de elegância e de memoria.
Veneza afunda-se para o Mundo, talvez porque o actual Mundo deixou de merecer Veneza.
Pedro Barroso