Como tenho dito muitas vezes, sair do euro (qualquer que seja a forma) é apenas condição necessária ao desenvolvimento do país. Não é condição suficiente. Precisamos de formular uma estratégia de desenvolvimento que seja consensual na sociedade portuguesa e executá-la tendo em conta a experiência de outros países, por exemplo o Japão do pós-Guerra, a Coreia do Sul e Taiwan. Refiro-me em particular à sua política comercial e industrial que, dentro da UE não podemos ter.
Há uns meses, escrevi isto:
Qualquer país que queira ter uma estratégia de desenvolvimento, para além de moeda própria, tem de fazer escolhas quanto à sua especialização produtiva. Precisa de ter política cambial, política industrial, política comercial externa, e uma diplomacia capaz de interpretar a estratégia. A falta disto tudo explica a regressão a que Portugal (e outras periferias) foi sujeito desde que, após o Tratado de Maastricht, começou a "preparar-se" para a adesão ao euro.
Desvalorização e inflação:
Uma desvalorização da nova moeda em 30% repercute-se no nível de preços segundo o peso que as importações têm no cabaz de consumo das Famílias. As importações são cerca de 25%, daí que seja de esperar uma subida de preços inicial (e uma só vez!) de 7,5%=(0,3 x 0,25).
Os salários passam a ser ajustados anualmente de acordo com a inflação esperada. Dado que a economia está muito longe do pleno emprego, a tendência será de uma progressiva redução da inflação. O que é melhor? Viver com baixo desemprego e políticas que promovam o pleno emprego, com alguma inflação, ou grande desemprego com inflação muito baixa, quase deflação?
Para quem ainda não percebeu: os salários, pensões e outros rendimentos são penalizados (inicialmente) com a subida dos preços. É apenas isto, porque a desvalorização apenas atinge as importações, cerca de um quarto do que consumimos. Portanto. É FALSO dizer-se que os salários reduzem-se pelo montante da desvalorização. Quem diz isso não percebe nada da matéria.
Jorge Bateira