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Abusos na Igreja: os relatos horrendos, na primeira pessoa
17-02-2023 - ZAP

Relatos na primeira pessoa, na apresentação do Estudo dos Abusos de Menores na Igreja. Há descrições que podem impressionar os leitores.

Foram divulgadas nesta segunda-feira as conclusões do relatório da comissão independente criada para estudar os casos de abusos sexuais na Igreja Católica, desde 1950.

Quase 5 mil crianças – número “absolutamente mínimo” – foram abusadas e, em cada quatro agressores, três eram padres. A maioria dos casos ocorreu entre 1960 e 1980.

A maioria dos casos prescreveu mas ficaram os relatos. Na própria sessão de apresentação, foram divulgados sete testemunhos numa “linguagem dura, intensa e comovente, como foi a vida destas crianças”, cita o Jornal de Notícias.

A comissão acredita que é preciso dar “protagonismo aos relatos” das vítimas.

O primeiro caso citado foi de um homem abusado num seminário e numa instituição de acolhimento de jovens. Cresceu com raiva, agredia-se a si próprio. Só aos 21 anos contou aos pais o que tinha sofrido: “Mandava-me ir buscar rebuçados cada vez que tivesse maus pensamentos! Houve um dia em que consegui 26 rebuçados. Quando ia ao seu quarto buscar, ele apalpava-me todo e metia a língua toda. (…) Um padre engraçou comigo. Ia à minha cama com a lanterna e apalpava-me, perguntava-me se eu já pecara. Tinha medo porque era pecador e ia para o inferno. Vivi sempre sobressaltado”.

“Até que comecei a pedir para me confessar com outros padres para não ser sempre o mesmo, só que às tantas todos sabiam dos meus pensamentos e da minha vida. Através de um amigo, chegou aos ouvidos do vice-reitor, que me deu um chapadão, e fui expulso por más companhias. No seminário, as coisas extrapolaram para outras coisas… relação pedófila. Na Páscoa, chegou o postal a dizer que ia ser expulso. Fui parar a Leiria a um refúgio para infância desvalida. Eram 20 rapazes órfãos. Estava lá o Frei W. Era bem pior porque era sádico, porco, muito mau.(…) Um dia, fui com ele a casa de um benfeitor e, durante a noite, disse para dormir com ele. Ia rodando entre os rapazes. Deitava-se e adormecia. Acordava com o pénis dele entre as minhas pernas e todo sujo. Depois dizia ‘agora tens que te ir confessar’. Sentia muita culpabilidade. Atolado em pecado. Não contava nada na confissão, sabia lá!”.

Outro relato, numa viagem de finalistas. Tinha 12 anos quando um professor de Religião e Moral Católica começou a “exibir e manipular os genitais, toques e beijos em zonas erógenas do corpo, masturbação e sexo oral”. “Ficámos ali (ele e mais dois amigos) todos em silêncio depois de ele nos ter despido, tocado, sugado, mexido até atingirmos o fim. Perverso. (…) Penso onde andará esse tarado, pois em qualquer sítio fará mal a outros”.

Uma menina, na altura também com 12 anos, conta o que aconteceu no confessionário: “O padre fazia-me perguntas porcas no confessionário. Obrigava as miúdas a falar de coisas porcas. Ele não tocava nas raparigas, mas perguntava se nos masturbávamos, se enfiávamos o dedo, se pensávamos em fazer amor. (…) Contámos mas não aconteceu nada! Nada foi feito… Os escuteiros foram expulsos e o padre ainda lá está. E eu sei que faz o mesmo”.

“Fiquei com muita vergonha e com pesadelos. Tenho muita vergonha ainda e acho que sou suja. Não consigo ter namorados porque tenho medo que me perguntem coisas ou queiram fazer coisas para me sentir porca. O padre meteu-me muita vergonha. E perguntava coisas como se fosse maluco. Arfava e gritava com as raparigas. Ameaçava com o diabo”.

Um francês, com então 16 anos, relata que foi abusado quando esteve de férias em Portugal. Um padre levou-o para a capela e começou a acariciar-se nas calças, sempre a olhar para o jovem – que reparou que o padre teve uma erecção: “Coloca o sexo por cima das minhas calças e começa-me a acariciar as nádegas. Cheio de pânico, entro noutro estado”. Quando, já lá fora, contou aos pais que o padre lhe tinha “feito coisas”, a mãe desvalorizou: “Que mania tens de fugir! Assim ficas a saber que não deves afastar-te dos pais”.

Outro relato chega de uma irmã da vítima (que já faleceu). “Não posso eu ir para o outro mundo, falecendo a carregar comigo este segredo. Uma vez, na tal casita [anexo no quintal], eu estranhei. Quando fui lá espreitar, estava o meu irmão, coitadinho. Estava ele despido, de calças e roupa de baixo, e o padre, assim meio que no chão, a pôr o sexo dele na boca”.

Na preparação para a primeira comunhão, outra vítima feminina: “As palavras suaves do padre, as festas na mão, na cara, nas costas. E, a seguir, dentro das minhas cuecas. E sempre com palavras suaves. Senti-me mal, não era normal, era esquisito, falso e desconfortável. (…) Depois a madre, diante da turma, diz que eu sou uma mentirosa, pecadora e que devia ser castigada. Manda-me ir à cozinha buscar uma colher de pimenta em pó, com a nota de que não deixasse cair nem um bocadinho. E cheguei à aula com a colher cheia. Fez-me engolir tudo diante da turma inteira porque era uma pecadora e mentirosa e tinha de ser castigada em público. Ainda sinto a sensação de quase morrer asfixiada com a pimenta na garganta, nariz, pulmões, olhos e ouvidos. Senti-me violentada pela segunda vez no mesmo dia”.

Outra mulher contou o seu caso: “Íamos para a sua casa. Durante mais ou menos três horas, via televisão, lanchava e depois, sentada no sofá, o padre começava a tocar-me. Nunca houve penetração. Só uma vez encostou o pénis ao meu corpo. Despia-me, mas não totalmente. Baixava as cuecas, mexia-me e masturbava-me. Não me lembro como terminou. Mas talvez o facto de eu ter ido estudar para outra escola para fora da aldeia tenha sido a causa. Não me lembro do último dia. A última imagem de que me lembro é de eu própria a masturbar-me”.

No Observador, entre os 48 relatos transcritos, lê-se que havia um “serial killer pedófilo que abusou de pelo menos 100″ crianças e jovens. “Mais até, imaginem os anos que ele andou nisto até fugir para vendedor”. Foi vítima de exibição de zonas genitais, manipulação de órgãos sexuais, toque de outras zonas erógenas do corpo e/ou beijos nas mesmas zonas, masturbação e sexo oral. Os abusos prolongaram-se com regularidade durante um ano e meio. “Abusava. Dizia que eu tinha um órgão muito grande e que o queria ver, mexer, chupar. Horrível. Ele chegava-se a todos os rapazes escuteiros da zona e naquela época”.

Uma mulher conta que ia ter com o padre com a violava, encaminhada pelas freiras. Foi abusada pela primeira vez aos 5 anos e aconteceu uma vez por semana, ao longo de anos, “com a conivência das freiras”. “Nunca quis ter filhos porque passei pelos maiores horrores, não me sendo permitido ser criança. Acordava às 5h da manhã, e punham-me a tomar banho de água fria, porque fazia xixi na cama. Maus tratos terríveis. Mas as freiras são piores, como é possível? Maus tratos, violência física e emocional. (…) Quando contei à minha mãe, ela não acreditou e, ainda pior, disse que eu era culpada!”.

Outra mulher, abusada aos 15 anos: “O padre dirigia-se a casa dos meus pais e levava-me para acolitar na paróquia dele que era vizinha da minha e levava-me também a passear no carro. Dizia que era a forma de estarmos em união com o divino, justificando-a com o celibato dos padres na Igreja. E que ficaríamos sempre juntos e que me ajudaria a entrar no seminário e a mudar as mentalidades do cristianismo e que esse era o sinal da minha vocação”. Mais tarde teve um recalcamento emocional e sexual e uma depressão grave. Tem cerca de 70 anos e ainda hoje toma medicação para controlar a ansiedade.

Fonte: ZAP

 

 

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