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Sábado 20 de Abril de 2024  
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Questões Oportunas

JORNADA MUNDIAL DA JUVENTUDE
03-02-2023 - N.A.

Moedas diz que Jornada Mundial da Juventude vai trazer retorno até 700 milhões de euros - não diz como mas pede para se "acreditar" nisso.

Sempre que existe a organização de um grande evento aparece algum responsável político a garantir um enorme impacto na economia. Garantem que o impacto na economia corresponde ao número de participantes no evento multiplicado pelos gastos que esses participantes tiverem durante a sua estadia. Nada mais errado. Nenhum desses responsáveis políticos passaria numa cadeira introdutória de análise de investimentos. Vamos por partes.

O impacto de um evento no número de turistas numa cidade não é igual ao número de participantes nesse evento. O cálculo deverá ser feito ao acréscimo de turistas em relação ao cenário em que o evento não fosse organizado. Se um evento for organizado numa altura em que a taxa de ocupação for 100% (como habitualmente acontece no pico do Verão), o impacto do evento no número de turistas é exactamente zero porque a cidade já está no limite da sua capacidade. Imaginemos que, num determinado dia de Verão, estão normalmente 50 mil estrangeiros numa cidade, esgotando a sua capacidade hoteleira. É planeado um evento que traz 10 mil pessoas à cidade. Nesse dia continuarão a estar 50 mil turistas na cidade, só que estarão 10 mil no evento e menos 10 mil fora do evento. Neste caso, o efeito do evento no número de turistas é zero. Este evento teria zero impacto no número de turistas.

Há ainda um efeito adicional. Muitas pessoas, quando escolhem um destino de viagem, preferem países/cidades onde não tenham ido ainda. Isto quer dizer que muitas das pessoas que visitam um país para um grande evento deixarão de vir noutra altura. Se a altura em que teriam vindo, caso não houvesse o evento, fosse fora do pico do Verão, isto resulta, na prática, numa redução do número de turistas numa cidade em resultado do evento. A cidade terá o mesmo número de turistas no Verão que teria sem o evento, mas deixará de ter alguns na Primavera, em que a ocupação hoteleira não está a 100%.

Depois há a questão dos gastos desses turistas adicionais. Mesmo que haja um acréscimo de turistas em resultado do evento, o valor acrescentado por esses turistas não corresponde à sua despesa total. A esse valor temos de subtrair todos os custos incorridos para prestar esses serviços e vender esses bens.

Ou seja, um evento organizado no Verão, em Lisboa, dificilmente trará valor económico à cidade ou ao país (poderá haver outros, mais subjectivos, dependendo do evento em questão). Mesmo aqueles eventos organizados fora do Verão estão muito longe de terem o impacto correspondente ao número de participantes multiplicado pela sua despesa.

Quem acompanhava política há 20 anos lembrar-se-á das promessas de crescimento futuro através da organização de grandes eventos. Houve, desde essa altura, uma política deliberada de investimento na organização de grandes eventos. Esta foi também uma altura de estagnação económica e de crises consecutivas de finanças públicas. Não foi coincidência.

 

 

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