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Questões Oportunas

Essa "libertação", dr. Costa, é bonitinha, mas ordinária
03-09-2021 - Pedro Gomes Sanches

A charanga já se ouve, e o dr. Costa não perde uma oportunidade para a folia. Antes das próximas eleições autárquicas anunciará o fim das restrições e a "libertação" do país. (...) É caso para dizer, sobre essa "libertação" (...): é bonitinha, mas ordinária

O dr. Costa prepara o regresso apoteótico em Setembro com o anúncio da "libertação", a máquina de propaganda socialista prepara a charanga, e a clientela socialista saliva pelo pós-autárquicas. O país está em festa. Só os  spin doctors  do Rato, coitados, é que bocejam de tédio por não terem o que fazer. É que a oposição foi de férias. Há uns anos. E não voltou.

Coisas importantes do dia: o maior cronista de língua portuguesa - o MEC que me perdoe - faz hoje anos. Ou melhor, faria. Nelson Rodrigues nasceu a 23 de Agosto de 1912, e hoje faria 109 anos. Possível? Sim, mas muito improvável. Nelson morreu com 68 anos, com complicações respiratórias. Se ainda fosse vivo, provavelmente não teria resistido à covid-19. Os seus problemas gástricos e cardíacos, que hoje se designam comorbilidades, eram antigos e estimados. A sua úlcera, por exemplo, alimentava-a a pires de leite. Uma ternurinha de derreter qualquer filofelino de trazer por casa.

Mas permitam-me estragar o idílio. 3.000 mortos em sete dias, por causa de um maldito vírus que se propaga no ar e transmite através do contacto humano. Noutras contas, 16 mortos por dia ao longo do ano inteiro por causa de "um ar que lhes deu".

Não, não estou a falar da covid-19. Os 3.000 mortos referem-se à semana de 21 a 27 de Janeiro de 2019, e o vírus foi o da gripe. A semana, essa, correu normalmente: 22 de Janeiro, um Benfica-Porto com casa cheia (sim, eu disse normalmente: ganharam os do norte); 25 de Janeiro, um concerto da Gal Costa no Coliseu com lotação esgotada. Já os 16 mortos por dia são as vítimas actuais da pneumonia, e o "ar que lhes deu" - ou qualquer coisa parecida - foi como Nelson Rodrigues falou dela sobre outros tempos em que era mais letal.

Hoje - eu disse hoje! - para um vírus que de há 3 meses a esta parte mata menos que a pneumonia, e que só no seu pico matou tanta gente como a gripe de 2018/2019, e para o qual hoje - repito: hoje! - 70% da população está vacinada, ainda temos máscaras obrigatórias; certificados de vacinação obrigatórios para jantar em restaurantes ao fim de semana; regras que ninguém cumpre para idas à praia; limitação do horário de funcionamento dos estabelecimentos, impedimento dos pais acompanharem, juntos, os filhos nas consultas hospitalares; obrigatoriedade dos educadores de infância usarem máscara o dia inteiro enquanto cuidam de bebés com 10 meses. Já para não falar da  pièce de résistance  que sobrou do último ano, o símbolo de uma sociedade infantilizada e imbecil: cartazes a ensinar os indígenas a lavar as mãos. Na dúvida, molhe as mãos com água, aplique sabão sobre a superfície das mesmas, esfregue bem, enxague com água, seque as mãos com papel; e, parabéns!, as mãos estão lavadas. Não se revoltem comigo: se acham esta última estupidez adequada, estamos conversados; se duvidam, vão à casa de banho dos cinemas das Amoreiras.

Disse que o Nelson Rodrigues não resistiria à covid-19 se fosse vivo, mas esqueci-me de dizer que resistiria seguramente a este disparate de prescrições sanitárias que se arrastam no tempo para a glória setembrina do dr. Costa, o libertador. Lembram-se que insisti no hoje? E insistindo no hoje: já podemos assumir que a covid-19, com a percentagem de vacinados nos 70%, a baixa letalidade actual, e os cuidados continuados com capacidade de resposta, é uma espécie de gripezinha?

Esclareço: no dia 13 de Maio, Portugal passou a ter cerca de 1 milhão de pessoas plenamente vacinadas contra a covid-19. Agora estamos a chegar aos 7 milhões. Desde Maio até hoje morreram cerca de 600 pessoas. Repito: em pouco mais de 3 meses morreram cerca de 600 pessoas. Tenho duas más notícias do Sr. de Lapalisse: a primeira, é que as pessoas morrem; a segunda, é que para isso basta estarem vivas.

Provocava. Interessa-me menos se a covid-19 é uma gripezinha, que saber se vamos passar a tratar uma gripezinha como a covid-19. Conhecem a teoria dos 21 dias? É um mito urbano que diz que para se adquirir um hábito ou corrigir um vício temos que persistir no comportamento desejado durante 21 dias seguidos. Parece que o medo vingou.

Quase 21 meses depois ainda há gente em busca do risco zero, a tolerar o que noutras circunstâncias não toleraria e que um povo mais exigente consideraria intolerável. Pior: há um lixo - falo de hoje, não sei se já vos tinha dito - que persiste por inércia acrítica ou por conveniência política. Há dias fui a um hospital privado com um dos meus filhos. Diligentemente informaram-me que eu e a minha mulher não podíamos acompanhar, juntos, a criança. Ou um ou outro. Retorqui, que não havia nenhuma racionalidade nesse impedimento. E que, mesmo nesse medo doentio por causa de uma pandemia cujo fim tarda em ser decretado, que estávamos ambos vacinados. E "certificados"! Responderam que se tratava de uma orientação da DGS. Fui pesquisar: encontrei uma informação da dita DGS que diz que "cada criança deverá ser acompanhada por um só cuidador/a". A informação é a 008/2020, e é de 26 de Março de 2020. Leu bem: a dita informação é de quando morriam pessoas aos magotes e não havia vacina à vista. A culpa disto é do dr. Costa? Não, claro que não, o dr. Costa não é doutor.

Então, que conversa é esta? O dr. Costa dá uma no cravo - salvo seja, que não queremos os comunistas zangados - e uma na ferradura. Ainda este fim de semana, a este jornal, veio com a conversa das variantes que ainda não se conhecem: "ninguém nos garante que há uma variante desconhecida que não está coberta pelas vacinas". Arrisco o capacete obrigatório: não vá o meteoro que ainda não se conhece guinar na direcção da Terra.

A charanga já se ouve, e o dr. Costa não perde uma oportunidade para a folia. Antes das próximas eleições autárquicas anunciará o fim das restrições e a "libertação" do país. Depois de mais de um ano e meio a gerir a crise ao ritmo do acaso, com a economia a pagar, fechará a festa com fanfarra e vitória. É caso para dizer, roubando descaradamente um título a Nelson Rodrigues: a "libertação" é bonitinha, mas é ordinária.

Pedro Gomes Sanches escreve de acordo com a antiga ortografia

Fonte: Expresso.pt

 

 

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