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Questões Oportunas

"Clubes de homens" impedem mulheres de liderar câmaras
06-08-2021 - Artur Cassiano

Bases locais dos partidos são a "forte barreira" que trava o aumento de lideranças femininas. Aplicação da paridade deixa as mulheres em lugares secundários. Escolaridade é mais baixa nos homens.

Facto comum e transversal nas mulheres que assumiram a liderança de câmaras municipais é a elevada escolaridade. Elas mais do que eles. E não é de agora. "As mulheres presidentes das comissões administrativas [nomeadas para gerir as câmaras municipais entre 1974 e 1976] tinham estudos superiores em 55,5% dos casos, enquanto os homens os tinham em apenas 49,2%. Entre os 227 vice-presidentes nomeados para as comissões administrativas, seis eram mulheres, o que corresponde a 2,6%. De um total de 2547 membros destas comissões, incluindo vogais, apenas foram nomeadas 92 mulheres, o que corresponde a 3,6%, as quais possuíam habilitações superiores em 64,1% dos casos, enquanto os homens em apenas 25,1%."

Os níveis nacionais de escolaridade das mulheres correspondem ao retrato, ainda que num universo reduzido, da presença feminina nas autarquias: "55,3% pertencem ao grupo das profissões intelectuais e científicas, o que implica habilitações ao nível universitário, entre os quais se destacam as professoras com 27,6% (...) habilitações mais altas para as mulheres do que para os homens, o que se enquadra na realidade demográfica portuguesa."

Na liderança das autarquias a diferença é substancial. "As mulheres presidentes de câmara também têm habilitações mais altas: 58% tinham cursos universitários, nas quatro décadas em estudo, enquanto nos homens o valor apurado foi de 43%."

Porém, há comportamentos que nem a alta escolaridade resolve. Os dados reduzidos, dado o curto universo, não permitem estabelecer um "padrão de comportamento de género", mas, diz a investigadora Maria Antónia Pires de Almeida, "as mulheres não se destacam pela positiva nos seus comportamentos enquanto representantes das populações nos cargos que ocupam. No poder local as autarcas acabam por ter os mesmos comportamentos dos homens nos mesmos cargos, incluindo nos casos de baixa transparência e mesmo de corrupção".

Semelhante também é o facto de nos programas eleitorais e nas mensagens políticas "as mulheres não apresentarem grandes diferenças em relação à generalidade dos homens eleitos presidentes". E de até, na transparência das informações disponibilizadas dos sites camarários, demonstrarem "falta de interesse" nessa divulgação.

Nas eleitas presidentes de câmara, o Partido Socialista está a larga distância dos restantes partidos com 18 mulheres. O PSD elegeu seis, PCP-PEV conseguiu quatro, três foram eleitas nas listas de independentes, uma numa coligação PSD-CDS.

Maria Antónia Pires de Almeida explica esta diferença com o tempo e o que parece ser uma diferença entre esquerda e direita. "Desde o início do regime democrático, com as primeiras eleições em 1976, os partidos mais à esquerda do espetro político elegeram mais mulheres para as câmaras do que os mais à direita. E o PS pratica, por opção, a regra das quotas de género desde 1988. Provavelmente há uma maior preocupação na sua representatividade de género."

Porém, na análise de José Manuel Leite Viegas, investigador integrado no CIES/ISCTE - Centro de investigação e Estudos de Sociologia, citado no estudo, apesar de o PS obter melhores resultados eleitorais "em termos partidários, o PCP e as coligações eleitorais por ele integradas são a força política que mais tem investido no género feminino".

Maria Helena Santos (doutorada em Psicologia Social e das Organizações e investigadora), Ana Espírito-Santo (doutorada em Ciências Políticas e Sociais ) e Ana Lúcia Teixeira (doutorada em Sociologia), que realizaram recentemente um estudo, centrado no PS e no PSD, verificaram existir "um compromisso moderado, mas sério, com a lei de paridade (tanto nas suas ações como nos seus discursos), com o PS a ter um desempenho ligeiramente superior ao do PSD", no entanto sublinham que é preciso não esquecer que o "PS foi o promotor desta lei e que as orientações do líder político vão agora no sentido de se implementar a lei da paridade de facto, ou seja, os 50/50 e não ficar pelo mínimo. Tal pode, de alguma forma, contagiar o processo de eleição das mulheres para presidentes de câmara".

Fonte: DN.pt

 

 

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