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Questões Oportunas

NUMA PANDEMIA NÃO HÁ MILAGRES
11-12-2020 - Neto Simões

A pandemia provocada pelo covid-19 é uma crise de muito difícil resolução e de consequências imprevisíveis do ponto de vista sanitário, político, económico, social e de segurança.

Aos decisores políticos cabe promover as medidas necessárias para mitigar os riscos, minimizar os danos e fortalecer a resiliência das sociedades.

Para podermos sobreviver como países temos de nos unir, tendo em vista três realidades: reparar os danos colaterais da Covid-19; reformar as economias; e reflectir como vamos sobreviver em sociedade, que tem de ser remodelada com base do papel mais activo dos recursos humanos na inovação.

A postura inusitada de muitos Estados tem sido reveladora de enorme incoerência. Enquanto alguns países negaram evidências como seguir a redução dos contactos sociais, outros decretaram confinamentos, mais ou menos rigorosos.

Por outro lado, a enorme segunda vaga, que se regista principalmente na Europa, resulta dos desconfinamentos com falta de critério – sem o necessário faseamento -, falta de racionalidade e falta de adesão à realidade, com um discurso político contraditório, sem sintonia com a comunidade científica.

Nesta nova fase da pandemia o primeiro-ministro comunicou as medidas a adotar sob o lema “máxima eficácia, mínima perturbação”. Ou seja, vamos entrar em confinamento num estado de emergência menos restritivo e mais prolongado. Mas na verdade nunca deixamos de estar em emergência.

Claro que a sensatez, capaz de distinguir os concelhos com risco elevado de transmissão da Covid-19 levanta de imediato uma pergunta inevitável: será que temos hospitais em condições de responder a um confinamento parcial?

A situação é grave e as medidas restritivas são indispensáveis. Mas sem liderança e sem mensagem tardarão a produzir efeitos.

O que deixa a sociedade desconfiada e atemorizada é a percepção de falta de regras claras e medidas coerentes e exequíveis. Infelizmente existem demasiadas regras com muitas excepções a que o Presidente chama recomendações agravadas!

O Governo foi muitíssimo elogiado pela resposta rápidas na primeira vaga, e pela forma como criou coesão em torno de um inimigo comum. Porém, não teve capacidade para antecipar e planear a segunda vaga que acabou por surgir.

Numa pandemia, apesar de haver muita incerteza durante muito tempo, tem de existir trabalho organizado.

Mas mais de oito meses depois do início da pandemia – com conhecimento e experiência -, de tempo para pensar e definir planos de contingência, não há uma estratégia.

Numa crise como a atual, é necessária uma visão sistémica, abrangente e multidisciplinar. O princípio básico em todas as ações é o respeito pela vida humana, sem incorrer na falsa dicotomia entre saúde e economia.

Não pode haver é uma interminável discussão, sem a resolução dos problemas concretos que afectam aqualidade de vida das pessoas. Precisamos de pragmatismo e sentido de urgência.

Neste contexto, no SNS repetem-se alertas de saturação com a sua capacidade a esgotar-se. E na economia se confinarmos estamos entre a recessão e o desemprego com uma grave crise social. Equação de difícil resolução, que exige determinação e políticos com sentido de Estado.

Apesar da anunciada contratação de médicos intensivistas tem o SNS capacidade de atracção para quadros qualificados? Vai agora, à pressa, ter capacidade que lhe faltou na última década?

A política é quase sempre um exercício contabilístico. Mas apesar de se ter conseguido os fundos comunitários, o que é útil para as consequências da pandemia, não dispensam a acção chamada pensar. Ora, sem pensamento, sem planos e sem coerência o país afunda-se na insegurança. Insegurança quanto à resposta na saúde e quanto à economia.

O Governo tem de recuperar a liderança no discurso e na acção, tendo em vista a eficácia no comprometimento dos cidadãos para não relaxarem comportamentos.

As decisões tomadas a nível individual têm um impacto muito importante na comunidade pelo que se torna essencial perceber as razões para estas falhas e como se pode aumentar a cooperação da população. Urge também aplicar uma política de informação coerente e eficaz.

A coordenação de todo o processo de gestão da pandemia, bem como suas consequências políticas, económicas e institucionais reclamam uma enorme capacidade de liderança, persistência, diálogo e sentido de responsabilidade.

É preciso que nossos líderes assumam as suas responsabilidades, comportem-se de acordo com a estatura do cargo que ocupam e, sobretudo, sirvam de exemplo para que possamos reconstruir o país. Precisamos de estadistas, mas se tivermos ao menos líderes minimamente responsáveis já será um bom começo.

José Manuel Neto Simões
Capitão-de-Fragata (R)

O autor não segue o acordo ortográfico

 

 

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