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Questões Oportunas

Debate com Thierry Meyssan
15-05-2020 - Thierry Meyssan

A transformação das sociedades por ocasião do Covid-19 anuncia a militarização da Europa

Reproduzimos uma conversa entre Thierry Meyssan e um grupo de estudantes.

Aí, ele explica que as respostas políticas ao Covid-19 não são do foro médico. Um grupo transnacional, parcialmente identificável, aproveitou a ocasião fornecida pela epidemia para tentar impor uma transformação profunda das sociedades europeias, tal como utilizou os atentados do 11 de Setembro de 2001 para transformar os Estados Unidos. Ainda temos tempo para nos opormos à programada hierarquização do mundo.

Pergunta : Na sua opinião, quem fabricou o Covid-19 ?

Thierry Meyssan : A minha análise é exclusivamente política. Eu não me pronuncio sobre questões médicas, mas unicamente sobre decisões políticas.

Uma epidemia é em geral um fenómeno natural, mas pode também ser um acto de guerra. O Governo chinês pediu publicamente aos EUA para esclarecer, de forma cabal, o incidente acontecido no seu laboratório militar de Fort Detrick, enquanto o Governo dos Estados Unidos pediu a mesma transparência em relação ao laboratório de Wuhan. É claro, nenhum dos dois Estados aceitou abrir os seus laboratórios a verificações. Não é má vontade, mas uma medida militar.

Ficaremos, portanto, por aqui.

No entanto, isso não tem importância porque, com o tempo decorrido, estas duas hipóteses parecem estar erradas: nenhuma destas duas potências controla esse vírus. Do ponto de vista militar, não é uma arma, mas, sim um flagelo.

Portanto, não excluí que este vírus possa ter escapado de forma desastrada de um desses laboratórios ?

Isso é uma hipótese, mas não nos conduz a nada. Devemos excluir a possibilidade de uma sabotagem porque isso não aproveitaria a ninguém. A outra possibilidade é que se trate de um acidente. Neste caso, há indivíduos que são culpados. Isso não significa descartar a responsabilidade dos Estados.

Como avalia as reacções políticas sobre a epidemia ?

O papel dos dirigentes políticos é o de proteger a sua população. Para isso, eles devem preparar os seus países em tempo normal de forma a poder reagir aquando de crises futuras. Ora, o Ocidente evoluiu de tal maneira que esta missão foi perdida de vista. Hoje em dia, os eleitores exigem que os Estados custem o menos possível e que o pessoal político os administre como às grandes empresas. Por conseguinte, já não há actualmente dirigentes políticos ocidentais que enxerguem mais longe do que a ponta do seu nariz. Homens como Vladimir Putin ou Xi Jinping são qualificados de «ditadores» unicamente porque têm uma visão estratégia da sua função, representando assim uma escola de pensamento que os Ocidentais julgam ultrapassada.

Perante uma crise, os dirigentes políticos devem agir. No caso dos Ocidentais, este momento é para eles um imprevisto. Nunca se prepararam para isto. Eles foram escolhidos pela sua capacidade de fazer sonhar com os amanhãs que cantam, não pelo sangue frio, pela sua adaptabilidade e a sua autoridade. Muitos de entre eles são simplesmente pessoas representativas dos seus eleitores não tendo, portanto, nenhuma dessas qualidades. Tomam, pois, as medidas mais drásticas de maneira a que não se possa acusá-los de não ter feito quase tudo.

Ora, neste caso, eles encontraram um perito, o Professor Neil Ferguson, do Imperial College London, que os persuadiu que a “Grande Ceifeira” chegava : meio milhão de mortos em França, mais ainda no Reino Unido, mais do dobro nos Estados Unidos. Sendo as suas profecias 2.500 vezes superiores às taxas de mortalidade na China. Ora, este estatístico têm o hábito de profetizar calamidades sem ter medo de exagerar. Por exemplo, previra que a gripe aviária

mataria 65.000 Britânicos quando ela não provocou mais do que 457 mortes [1]. Felizmente, ele acaba de ser despedido do SAGE por Boris Johnson, mas, entretanto, o mal está feito [2]. Em pânico, o pessoal político ocidental enfileirou portanto atrás dos conselhos de uma autoridade de saúde internacional. Considerando a OMS, justamente, que esta epidemia não era a sua prioridade em comparação com outras doenças muito mais mortais, viraram-se para o CEPI, do qual todos eles conhecem o director, o Doutor Richard Hatchett. Encontraram-se com ele no Fórum Económico de Davos, ou na Conferência de Segurança de Munique. Num dia ou noutro, todos foram por ele abordados a fim de financiar a indústria de vacinas.

Acontece que este Senhor, quando trabalhava na Casa Branca, foi um dos dois autores da componente sanitária do projecto político de Donald Rumsfeld para o mundo [3]. Em 2001, este planificou (planejou-br) uma divisão geográfica da economia mundial. As matérias-primas seriam exploradas nas zonas instáveis, os produtos transformadosfabricados nos Estados estáveis (entre os quais a Rússia e a China) e o armamento apenas nos EUA. Convinha, portanto, militarizar a sociedade dos EUA e transferir a maioria dos trabalhadores para as empresas de armamento. Em 2005, Rumsfeld encarregou o Dr. Hatchett de conceber um plano

de confinamento obrigatório em casa para toda a população dos EUA. Este deveria ser activado durante um ataque bioterrorista comparável ao perpetrado no Congresso e contra os grandes média (mídia-br) com antraz (ou carbúnculo) em 2001.

Foi este plano que o Doutor Richard Hatchett tirou da sua gaveta e que ele apresentou aos dirigentes ocidentais que lhe pediam os seus conselhos. É preciso compreender bem que o confinamento obrigatório generalizado jamais existiu.

Não tem qualquer relação com o isolamento de doentes. Não é, de forma alguma, uma medida médica, mas um meio de transformar as sociedades. A China nunca o usou, nem durante a epidemia de H1N1 [4], nem durante a do SRAS [5], nem durante a de Covid-19 [6]. O confinamento da cidade de Wuhan, no início de 2020, foi uma medida política do governo central a fim de retomar em mãos esta província mal dirigida pelo Poder local, não uma medida médica.

Nenhuma obra de epidemiologia no mundo jamais abordou o confinamento generalizado obrigatório e ainda menos o aconselhou.

Talvez, mas em França nós não fomos confinados para combater a doença, mas, antes para a diferir no tempo de modo a não sobrecarregar os hospitais, a fim de evitar ter de escolher entre os doentes que poderíamos tratar e aqueles que iríamos deixar morrer.

Nem por isso. Este argumento não surgiu antes, mas, sim após a decisão. É apenas uma desculpa dos políticos pela sua má administração. É certo que, em França, os serviços de reanimação dos hospitais públicos ficaram rapidamente saturados em duas regiões. Assim transferiram-se pacientes em curso de reanimação para outras regiões, até para a Alemanha.

Mas havia uma quantidade de camas disponíveis nas clínicas privadas.

Era o que eu dizia no início desta conversa: os nossos dirigentes políticos são inaptos para gerir crises. A sua concepção do Estado inibe-os de agir. São incapazes de aplicar uma coordenação entre o sector público e o sector privado, à excepção de alguns presidentes regionais. Mas não se trata aqui da tradicional oposição entre Estado central e regiões. Por exemplo, no início da epidemia, os laboratórios particulares não tinham os meios de proceder a testes de despistagem em grande escala. O governo não foi capaz de requisitar os laboratórios dos Ministérios da Investigação, e sobretudo da Agricultura, para a emergência de saúde pública. No entanto, os investigadores e os veterinários não pararam de propor os seus serviços.

De acordo quanto aos hospitais e os testes, mas também contestou as máscaras.

Sim, desde há um século, o pessoal de saúde atestou a utilidade das máscaras cirúrgicas nos blocos operatórios e durante os cuidados pós-operatórios. Mas estas situações nada têm a ver com o cidadão vulgar de hoje em dia.

Actualmente inúmeros sindicatos e academias preconizam o uso de máscara obrigatória para todos em locais públicos. Tranquiliza, mas isso não serve para nada face ao Covid-19. Além disso, à míngua de máscaras cirúrgicas, acaba-se por colocar qualquer pedaço de tecido a cobrir o nariz e a boca, mas desprovido de qualidades de filtragem das máscaras cirúrgicas. Contrariamente a uma ideia feita, a contaminação não ocorre pelas gotas de saliva por si mesmas, mas pelos vírus que elas disseminam no ar até 8 metros de uma pessoa que chora ou

espirra. É preciso ainda ser susceptível a este vírus para ficar contaminado, o que não é o caso de todos. E, ainda, é preciso estar imunologicamente frágil para desenvolver esta doença.

Como não sabem o que fazer, os nossos governantes recorrem ao confinamento generalizado e às máscaras para todos. Ninguém provou que estas medidas tenham impacto na epidemia, mas todos acreditam nisso. É o colapso da cultura ocidental: antigamente, raciocinávamos serenamente, hoje em dia trazemos amuletos, máscaras, afundámo-nos na magia.

Houve uma criança morreu por Covid-19 em França.

Aquilo que é verdadeiro em termos individuais é absolutamente falso em termos colectivos. A idade média das pessoas falecidas em França é de 84 anos! Isso significa que metade delas tinha mais de 84 anos.

Mas então se o confinamento é absurdo e se as máscaras não servem para nada, o que é que devemos fazer ?

Eu não disse que o confinamento era um absurdo em si. Pronunciei-me sobre uma medida obrigatória e cega. Em todas as epidemias, convêm confinar as pessoas doentes, mas somente essas. E não reconheço nenhuma legitimidade a um Poder que lança multas, envia para a prisão ou até atira em cidadãos que se recusam a ficar em prisão domiciliar por tempo indeterminado.

A Saúde Pública não se assegura com ameaças, mas com confiança. E ninguém deve ser protegido de si mesmo. Parece-me indigno impedir pessoas idosas de receber a sua família se assim o desejarem. Talvez elas fiquem infectadas, talvez adoeçam e talvez morram, mas a escolha é delas. A única coisa de que temos a certeza ao nascer, é que vamos morrer. A vida é um longo percurso para nos podermos preparar para ela e os idosos têm o direito de preferir viver com seus entes queridos em vez de alguns anos mais.

As epidemias cuidam-se sempre da mesma maneira: medidas de higiene – lavar-se e arejar — e isolar os doentes em casa ou no hospital a fim de os tratar. Tudo o resto não passa de cinema. É preciso regressar ao fundamental e não andar a inventar restrições.

Como é possível que os nossos dirigentes nos tenham imposto um projecto fascista dos EUA ?

Compreendo bem o que quer dizer com fascista, mas isso não é aqui muito apropriado. O fascismo é uma ideologia que veio responder à crise do capitalismo de 1929. Rumsfeld tem, é certo, muitas características, mas ele pensa a partir de um outro mundo.

O Doutor Hatchett nunca teve que responder pelo seu projecto totalitário nos EUA. Mas Donald Rumsfeld ainda menos. E, no fim, ninguém jamais teve que responder pelo que se passou após os atentados de 11 de Setembro de 2001, porque decidimos colectivamente não lançar luz sobre os atentados em si mesmos. No entanto, este crime original não cessou de provocar sequelas. A Administração Obama continuou a aplicar fielmente o projecto Rumsfeld na Líbia, na Síria e no Iémene (doutrina Cebrowski). E uma vez que a Administração Trump se opôs fortemente a isso, vemos os antigos colaboradores de Rumsfeld prosseguir a sua obra através de outras estruturas que não as do Estado Federal dos EUA. Quer queiramos ou não, isto continuará até que se reabra este dossiê.

Desculpe-me voltar atrás, mas se o confinamento obrigatório e generalizado não passava de uma medida autoritária sem propósito médico, porque é que é tão difícil de desconfinar ?

Não, não é difícil. Basta voltarmos a ser livres. O problema é que não se conhece hoje muito melhor este vírus do que há dois meses e que, agora, estamos enredados em conhecimentos imaginários.

As curvas da epidemia são praticamente as mesmas em todos os países atingidos, quaisquer que sejam as medidas postas em prática. Só dois tipos de países se destacam do molho: por um lado, aqueles que por uma razão desconhecida não foram atingidos, como os da península da Indochina (Vietname-Laos-Cambodja-Tailândia); por outro, aqueles que reagiram muito mais rápido que os outros isolando imediatamente os doentes e tratando-os, como Taiwan. Portanto, seja qual for a maneira como se desconfina, haverá, é certo, um maior ou menor número de pessoas contaminadas, mas isso não deverá ter impacto.

Os governos continuarão o confinamento obrigatório até à descoberta de uma vacina ?

Ignoro se algum dia se conseguirá uma vacina. Já faz 35 anos que se busca uma contra a SIDA (AIDS-br). Além disso, não é muito provável que a epidemia do Covid-19 dure mais do que a dos outros coronavírus, o SARS ou o MERS.

A vacina tal como os novos medicamentos são consideráveis jogadas económicas.

Certos laboratórios farmacêuticos estão prontos a tudo para impedir que os médicos tratem as pessoas com medicamentos baratos. Lembrem-se como Donald Rumsfeld, quando dirigia a Gilead Science, fez fechar a fábrica (usina-br) de Al-Shifa que fabricava medicamentos contra a Sida sem lhe pagar royalties: conseguiu fazê-la bombardear pelo democrata Bill Clinton alegando que ela pertencia à Alcaida, o que era absolutamente falso. E, precisamente, o Dr. Hatchett dirige agora a mais importante associação de vacinas, a CEPI.

O que é que se vai passar agora ?

Em poucas semanas, vemos uma ruptura considerável em certas sociedades ocidentais. Em França, as liberdades fundamentais foram suspensas, entre as quais o direito de realizar reuniões e de se manifestar. Foram colocados em desemprego parcial 13 milhões de trabalhadores. Ainda que temporariamente tornaram-se em simples assistidos. A escola vai recomeçar, mas não será obrigatória; os pais escolherão se enviam para lá os seus filhos ou não. Etc. Isto não é o resultado da epidemia, mas, tal como acabo de vos explicar, a consequência de reacções políticas ineptas à epidemia.

O confinamento generalizado obrigatório havia sido pensado pela equipe de Donald Rumsfeld para transformar a sociedade dos EUA. Este projecto não foi aplicado nos EUA, mas quinze anos mais tarde na Europa. A transferência de um continente para outro ilustra o caráter transnacional do capitalismo financeiro do qual Rumsfeld é um puro produto. Não há razão para que aqueles que financiaram a equipe Rumsfeld não prossigam o seu projecto político agora na Europa.

Neste caso, nos próximos anos, uma grande parte dos trabalhadores europeus seria transferida para a indústria de armamento. A OTAN, que o Presidente Macron considerava estar em estado de morte cerebral, e a sua componente civil, a União Europeia, cujos membros se digladiaram, nestas últimas semanas, para roubar uns aos outros cargas de máscaras, serão reorganizadas. Estas duas organizações prosseguirão a destruição sistemática de todas as estruturas estatais do Médio-Oriente Alargado, iniciada em 2001, depois na Bacia das Caraíbas.

No entanto, os homens de Rumsfeld cometeram um erro. Ao mascarar o seu projecto de 2006, deram a impressão de tomar como modelo a China quando impuseram o confinamento generalizado obrigatório. A China, e já não mais os Estados Unidos, tornou-se de facto o referente intelectual dos europeus. Vai, pois, tornar-se uma obsessão impedi-la de continuar a construção das Rotas da Seda. Vai ser preciso cercá-la.

As epidemias não provocam revoluções, mas suscitam-nas as guerras e os desastres económicos. Hoje, por culpa de nossos governantes, as economias da UE estão em ruínas e avançamos para a guerra. Vamos atravessar uma época charneira de onde pode surgir o melhor como o pior.

Esta evolução do mundo será a resposta ao desaparecimento das classes médias gerada pela globalização financeira e denunciada pelos Coletes Amarelos, como a Segunda Guerra Mundial foi uma resposta ao esgotamento dos impérios coloniais e à crise do capitalismo dos cartéis em 1929. A França já passou por tal drama. Foi em 1880-81, quando o capitalismo industrial de então já não conseguia explorar mais os trabalhadores face ao aparecimento dos sindicatos. Jules Ferry expulsou certas congregações religiosas e criou a escola laica obrigatória a fim de arrancar as crianças à influência da Igreja Católica. Fê-las instruir por partidários do militarismo, os «hussardos negros». Fez deles os soldados do seu projecto colonial. Durante 35 anos, a França escravizou muitos povos estrangeiros, depois entrou em rivalidade com a potência emergente da época, a Alemanha, e viu-se precipitada na Primeira Guerra Mundial.

Nós vamos passar na Europa pelos mesmos debates que os Estados Unidos viveram há vinte anos atrás. Nós devemos recusar de forma categórica ser levados a tais crimes. Será este o combate dos próximos anos. Será o vosso.

Thierry Meyssan

Tradução
Alva

Fonte: Rede Voltaire

 

 

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