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BKI: O BANCO DE FACHADA E O FUNDO SOBERANO

27-10-2017 - Moiani Matondo

A acreditar no seu mais recente relatório e contas, o Banco Kwanza Invest (BKI) concedeu, em 2016, um único empréstimo no valor de um milhão e 143,309 kwanzas (perto de sete mil dólares ao câmbio oficial do dia) e obteve um lucro exíguo. Com base neste mero facto, poder-se-ia dizer que se trata de um banco de fachada, um banco de brincadeira, um banco à toa. Em suma, um banco que deveria fechar. Não fosse a sua grave ligação ao Fundo Soberano de Angola (FSDEA) e ao Fundo Activo de Capital de Risco Angolano (FACRA). O banco é detido nominalmente, em 85 por cento, por Jean-Claude Bastos de Morais, que gere – como se fossem seus – biliões de dólares do Fundo Soberano de Angola, pertencentes ao povo angolano.

Há dois anos, denunciámos um desvio de 100 milhões de dólares do FSDEA para uma empresa-fantasma do Banco Kwanza Invest, a Kijinga S.A.

Por sua vez, o Fundo Soberano de Angola, a avaliar pelos dados conhecidos, também não tem dado prejuízo, apresentando em 2016 um lucro fabricado.

O cidadão suíço-angolano, Jean-Claude Bastos de Morais é o testa-de-ferro de José Filomeno dos Santos, o filho do ex-ditador José Eduardo dos Santos e presidente do FSDEA. É através dele que   José Filomeno praticamente saqueou os cinco biliões de dólares entregues a esta instituição pelo pai caprichoso.

A questão que se coloca é simples. Se um homem que tem, entre outros investimentos e activos de dúbia proveniência, um banco que em dois anos não conseguiu conceder créditos como pode este mesmo homem gerir os biliões de dólares de um Fundo Soberano? Além de que, apenas Jean-Claude Bastos de Morais, José Filomeno dos Santos e a auditora Deloitte parecem saber onde realmente pára o dinheiro do Fundo e com que critérios de risco e de rentabilidade esse dinheiro está a ser gerido.

Num artigo anterior, alertámos para o irrealismo e, de facto, surrealismo das contas do Fundo Soberano.

As contas eram muito simples. Em 2016, o Fundo Soberano de Angola apresentou lucros de 44 milhões de dólares. Contudo, esses lucros poderiam ser explicados por uma simples avaliação livre do “investimento” feito na construção do Porto de Caio (Cabinda) – que, saliente-se, é um investimento de Jean-Claude Bastos de Morais a título pessoal, conforme os termos da concessão original. Este investimento do Fundo Soberano – na empreitada liderada pelo referido Jean-Claude – totalizou 180 milhões de dólares. Mas agora, como que por artes mágicas, o Fundo vem dizer que o seu valor de mercado é de 385 milhões de dólares e o porto está longe de ser concluído.

Por alguma razão que se ignora e num prazo desconhecido, que se presume seja de um ano, esta participação, magicamente, valorizou 205 milhões de dólares, pouco mais do dobro do valor inicial. Como não foi apresentado qualquer critério objectivo para avaliar esta valorização, ela na realidade não demonstra nada. Bastava que a mais-valia resultante da valorização da participação do Fundo neste investimento no negócio pessoal de Jean-Claude Bastos de Morais fosse de “apenas” cem milhões de dólares, para que, numa hipótese ceteris paribus, o Fundo tivesse um prejuízo de 61 milhões de euros. Portanto, e em resumo, as contas do Fundo Soberano de Angola são uma brincadeira sem qualquer suporte material/real.

Na mesma linha da gestão do Fundo Soberano, surge o Banco Kwanza Invest, que oficialmente pertence ao mesmíssimo gestor do Fundo Soberano, Jean-Claude Bastos de Morais. Fomos também ver as contas deste banco referentes a 2016. Um primeiro dado coincidente: o auditor do Banco é o mesmo auditor do Fundo, a Deloitte. E é também o mesmo auditor que tem tido uma participação muito   questionável nas eleições angolanas.

O resultado líquido deste Banco é irrisório, representa uma rentabilidade patética sobre os seus activos.

Mas o mais estranho é o tipo de operações que este Banco desenvolve. Em 2015 e 2016, não concedeu praticamente qualquer crédito a clientes, apenas “adiantamentos a depositantes”.

A restante actividade bancária parece exígua ou inexistente. O Banco aparenta viver de aplicações em títulos e valores mobiliários e operações cambiais. Isto é, de investimento em obrigações e acções e trocas de moeda estrangeira.

Por outro lado, o Banco só tem depósitos à ordem. Destes, 25 por cento correspondiam a depósitos do FACRA, entidade estatal que resolveu entregar ao Banco o seu dinheiro. Mas – surpresa – quem é que efectivamente gere o FACRA? Jean-Claude Bastos de Morais. E há mais. Aparentemente, o Banco tinha investido esse dinheiro em obrigações subordinadas do próprio Banco, que agora terão vencido, voltando o dinheiro para um depósito à ordem, a ganhar zero de juros.

Fica desde já uma questão: que gestão de fundos alheios é esta, integralmente feita pelo gestor do FACRA, que também é o dono do Banco e que os coloca, primeiro nos seus títulos, e depois como depósito à ordem, sem qualquer rentabilidade?

É certo que o Banco Nacional de Angola vai afirmando que tem estado atento ao Banco e já lhe exigiu um plano de reestruturação, que aliás corrigiu. Mas as evidências indiciam que o BNA está seriamente distraído em tudo o que concerne a Jean-Claude Bastos de Morais.

Naturalmente, o Fundo Soberano exige uma intervenção forte do presidente da República, o Banco Kwanza Invest uma atenção especial por parte do Banco Nacional de Angola e o FACRA por parte do Ministério que tutela esse fundo.

Uma análise elementar das contas do Fundo Soberano, do Banco Kwanza Invest e do FACRA cria imediatas suspeitas de que se trata de “buracos negros” sem nada lá dentro.

E Jean-Claude Bastos de Morais, o vigarista, está lá bem ao centro, como esse buraco negro que engole e faz desaparecer a riqueza do Estado angolano, que Filomeno José dos Santos propositadamente deixa cair.

Fonte: Maka Angola

 

 

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