Edição online quinzenal
 
Terça-feira 16 de Abril de 2024  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Quanto vale um político português em Angola?

26-08-2016 - Alfredo Muvuma

Segundo uma acusação jornalística, o valor pago pelo vice-presidente de Angola, Manuel Vicente, a um procurador português (Orlando Figueira) para que este arquivasse os processos-crime de investigação que decorriam a propósito das suas actividades ilegais foi de € 300.000,00 (trezentos mil euros).

A confirmar-se esta informação, ficámos a saber que um procurador da República portuguesa valerá 300 mil euros no mercado da corrupção angolana.

Entretanto, por estes dias foi anunciado com pompa que o antigo vice-primeiro-ministro de Portugal e líder emérito do CDS-PP, Paulo Portas, seria o convidado de honra do VII Congresso do MPLA. Com menos pompa, ficámos também a saber que, uns dias antes, este cidadão português (que actualmente não exerce cargos públicos) recebera num gabinete da Assembleia da República Portuguesa funcionários de uma grande empresa de que é hoje consultor e que tem profundos interesses em Angola e na África em geral: a Mota-Engil. Aparentemente, as reuniões do cidadão, antigo vice-primeiro ministro, teriam servido para preparar os negócios desta companhia em Angola, antecipando a presença do cidadão de honra no Congresso do MPLA.

Recorde-se que, no Malawi, a Mota-Engil tem sido acusada de corromper o antigo presidente Bingu wa Mutharika, que governou o país entre 2004 e 2012, a quem teria também construído uma moradia em Portugal. Em Angola, a última peripécia em que esta empresa surgiu foi a da estranha construção e venda do futuro edifício da Comissão de Valores Mobiliários, que envolve Zenú, filho do presidente.

Poderíamos aqui discorrer acerca da coerência de Portas, começando, por exemplo, pelo apoio que em tempos deu à UNITA. Mas sobre coerência ele próprio tratou de de elucidar os portugueses no Verão de 2013, quando revogou aquilo que acabara de declarar publicamente como sendo absolutamente irrevogável (a sua própria demissão).

A presença do antigo vice-primeiro-ministro de Portugal no Congresso do MPLA levanta apenas uma curiosidade: quanto nos custa?

Quanto custa aos cofres vazios de a Angola aquisição de um jogador político com a categoria de Portas? Certamente, um número com mais zeros do que aqueles que se invocam a propósito do procurador Figueira.

Esta moda de os ex-políticos europeus se “venderem” às ditaduras como benignos conselheiros e relações públicas não é uma originalidade portuguesa.

Há um par de meses, Lord Charles Vivian aterrou em Luanda, em representação da Bell Pottinger, a empresa de Lord Bell, um dos masterminds das campanhas de Margaret Thatcher. Os Lordes ingleses ofereceram os seus serviços de influência e relações públicas mundiais ao regime de JES, em especial à sua filha Isabel dos Santos. Querem agora a sua parte do bolo. Mas, no mundo lusófono, quem é que sabe quem é Lord Bell? O que toda a gente sabe é quem é Paulo Portas.

Talvez o maior exemplo de relações públicas para ditadores seja o de Tony Blair. O ex-primeiro-ministro britânico cobra cinco milhões de libras por ano ao ditador do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev. O Cazaquistão é um país produtor de petróleo que fazia parte da antiga União Soviética.

O contrato estabelecido em 2014 entre uma empresa de Tony Blair (Tony Blair Associates) e o Governo do Cazaquistão tem mais de oito páginas, no decorrer das quais se descrevem as tarefas de Tony Blair e o preço dos seus serviços, além de exigências como motorista e carro permanentes, tradutores e intérpretes adicionais, tudo sempre pago pelos contribuintes do Cazaquistão.

O Cazaquistão também paga a “organização de viagens completas” para visitas pessoais de Tony Blair, incluindo “acomodação num hotel de primeira classe, todo o transporte, alimentação e quaisquer outros custos”. Em cada visita, Blair pode viajar com até cinco pessoas. O contrato ressalva que os seus guarda-costas, recrutados entre a Polícia Metropolitana britânica, não serão pagos pelo Governo do Cazaquistão.

Seria interessante perceber se a empresa de Paulo Portas, a Vinciamo, já firmou um contrato deste tipo com o Governo de Angola e quais os valores envolvidos.

Quanto recebeu a empresa de Paulo Portas pela viagem a Luanda? Quem pagou o hotel? Que carro usou o político português? Teve direito a motorista? Quantos acompanhantes levou pagos por Angola?

Começa a ser tempo de desmascarar as hipocrisias militantes.

Fonte: Makaangola

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome