Edição online quinzenal
 
Sexta-feira 19 de Abril de 2024  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

Moçambique: país pobre, família (presidencial) rica

02-07-2021 - Ricardo Santos

Interesses, carros, festas ostentosas: mulher e filhos do chefe de Estado agora são "empresários" de sucesso.

No início de junho, o casamento de Jacinto, filho de Filipe Nyusi, Presidente da República de Moçambique, deu que falar. Decorreu no Dubai, foi adjetivado de ostentoso e dividiu-se em duas partes: a primeira no Consulado de Moçambique e a segunda num hotel de luxo dos Emirados Árabes Unidos com diárias desde 1.000 euros por noite. A festa teve um custo estimado de 240 euros por cabeça e decoração sumptuosa. Isto no momento em que o país, além da crise financeira e da pandemia, enfrenta a ameaça terrorista em Cabo Delgado.

P ara trás já tinha ficado o pedido de casamento a Neusa Bond por parte do filho do Presidente – também transmitido nas redes sociais e envolvendo a oferta de um automóvel topo de gama.

No fim de 2019, o CIP – Centro de Integridade Pública (que tem como objetivo "contribuir para a promoção da anticorrupção, transparência e integridade em Moçambique"), divulgou ter documentos que relacionam Jacinto com "a rede de corrupção e branqueamento de capitais que lesou o Estado em mais de 2.000 milhões de euros, o caso das dívidas ocultas".

A mesma entidade, em fevereiro de 2020, tornou público um relatório revelador. Nele podia ler-se: "Quando Filipe Nyusi tomou posse pela primeira vez como Presidente da República, a 15 de janeiro de 2015, ele e os seus filhos tinham 5 registos empresariais. Ao fim de cinco anos, quando tomou posse para o segundo mandato, o número de empresas da família cresceu para 14."

O presidente é sócio da SOMOESTIVA; a mulher Isaura e o filho Ângelo são proprietários da empresa Agro-Pecuária Paroba; o filho Florindo, além de conhecido pelo seu gosto por carros de alta cilindrada, é proprietário de duas empresas criadas após a chegada do pai à Presidência, nas áreas do design e impressão (Imográfica) e pesca industrial e segurança privada (Motil Moçambique); Jacinto, o do casamento no Dubai, é proprietário da The Gafe (marketing).

Quanto à filha Cláudia, a área de intervenção é bem mais extensa: tem 50% de participação na Dambo Investe (fundada em 2014), que atua em importações e exportações, hotelaria, turismo e exploração mineira. A empresa é uma das mais ativas parceiras do Estado moçambicano, de acordo com o relatório da CIP. Outra empresa controlada por Cláudia Nyusi é a Luxoflex, especializada em mobiliário de escritório – em 2017 ganhou dois concursos públicos para fornecimento de mesas.

A Dambo Investe já aumentou o raio de ação, criando a Odja Alimentos, a Macuse Trading e a Likaputela (ambas de import-export, prestação de serviços e representação de marcas internacionais) e a Nykali Oil, que opera no campo dos hidrocarbonetos, exploração, produção, distribuição e comercialização de energia, gás e petróleo. Além destas, Cláudia Nyusi registou mais duas sociedades comerciais em Moçambique, ULANDA e Kamy Energy SGPS.

Empresas "James Bond"

A conclusão do relatório do CIP, grupo constituído por jornalistas de investigação, académicos, juristas e cientistas sociais, foi clara quanto aos interesses empresariais da família Nyusi: são "empresas (...) cujo objetivo principal é usar o monopólio político dos seus proprietários para ganhar rendas através da influência política e do tráfico de influências". Chamam-lhes "empresas James Bond", com registos comerciais, mas que nunca saíram do papel. São "revendedoras de licenças e concessões dos recursos naturais que deviam estar sob o controlo do Estado moçambicano". Um exemplo: a Motil Moçambique, que "em junho de 2017 cedeu a "titularidade de presenças e quotas de pescas" à Nanjing Runyang Fishing Corporation.

Ana Gomes, ex-candidata à Presidência da República, que se tem afirmado como uma voz anticorrupção em Portugal e nos PALOP, é direta sobre Nyusi: "O que sei é que o regime é completamente corrupto e ele corrupto é. Está metido no negócio do atum, está implicado no desvio de dinheiro do Estado. E os nossos governantes sabem-no. Além disso, é sinistro. Ameaçou a mulher do empresário que desapareceu, o Américo Sebastião."

Em relação à restante família, a antiga eurodeputada também tem opinião: "Tenho amigos que lá estiveram, na embaixada e não só, que me dizem que o sistema é completamente corrupto. No outro dia pus um clip de um aniversário de um dos filhos dele, mas parece que há cenas de desmandos inacreditáveis. Não sei detalhes, sei que os moçambicanos sabem o que é que a casa gasta. E os portugueses também sabem muito bem, só que fingem não saber. Como se fez com Angola. À conta não sei de quê, de uma suposta realpolitik, dão cobertura a escroques e repressores em vez de apoiarem o povo de Moçambique."

Fonte: Sabado.pt

 

 

 Voltar

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome