ELEIÇÕES EUROPEIAS
A EUROPA ESTÁ A MUDAR
31-05-2019 - Manelinho de Portugal
Antes de mais, ainda que compreenda que para a esmagadora maioria do eleitorado português -sobretudo o mais novo-, as eleições para o Parlamento Europeu sejam desinteressantes, ou que para os mesmos nada signifiquem, mas é deplorável que o somatório de abstencionistas, votantes em “branco” e “nulos” tenha atingido os 70%, o que, quer se queira ou não, fere a legitimidade e a representatividade dos eleitos. Mas a culpa dessa “desertificação” eleitoral não pode ser assacada ao Povo, mas antes aos recandidatos a euro-deputados, que nunca prestaram nem prestam contas do que fazem ou deixam de fazer em Bruxelas ou Estrasburgo ao eleitorado, bem como os mesmos, juntamente com os nóveis pretendentes a um assento nessa assembleia, jamais se dignaram e dignam explicar para que serve o Parlamento Europeu, demais instituições comunitárias e uma “ideia” própria para a Europa (U. E.). Em suma, a única coisa que os portugueses conhecem dos “seus” euro-deputados, é o que, como disse ipsis verbis António José Seguro, após a demissão de António Guterres de Primeiro-Ministro em 2002, e que foi eleito para o Parlamento Europeu nas respectivas eleições “europeias” seguinte”, “ia descansar para Bruxelas”, o que se afigura nada fazer e auferir rendimentos líquidos mensais entre € 15.000,00 a € 20.000,00, sendo que no fim de dois mandatos, isto é, dez anos, independentemente da idade, beneficiam de uma choruda reforma de largos milhares de Euros.
Olhando para os resultados globais europeus relativos às eleições do passado domingo, 26/05, verificou-se um “recuo” de quase todos os partidos do “centrão”, ou seja, dos socialistas, social-democratas, democrata-cristãos/social-cristãos, para além dos partidos da esquerda tradicional comunista-marxista-leninista, os quais, ora no poder, ora na oposição, têm vindo a governar a Europa Ocidental (e depois da queda do Muro de Berlim parte da Central e de Leste) desde a II Guerra Mundial até hoje, e, principalmente, a partir do Tratado de Roma de 25/03/1957, subscrito pela Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos (Holanda) e a então República Federal da Alemanha, que instituiu as Comunidades Europeias (CECA -Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, CEE -Comunidade Económica Europeia e Euratom –“controlo” da produção de energia nuclear para fins bélicos ou pacíficos).
O facto de tais partidos terem vindo a perder votos para a “direita nacional”, “verdes” e algumas formações extremistas de esquerda trotskista, no meu modesto entender, deve-se ao facto de os primeiros terem falhado grosseiramente nas suas políticas económicas e sociais. Ao longo de décadas criaram expectativas aos cidadãos da Europa comunitária de que, qual bíblica “Terra Prometida”, nela “escorreria o leite e o mel”. Porém, aquilo a que desde há muito se vem assistindo, é à diminuição do nível de vida das populações, esmagamento da “classe média” mediante crescentes cargas fiscais e para-fiscais altamente absurdas, e diminuição de direitos e regalias sociais.
Depois, a Europa tem vindo a conhecer um acelerado decréscimo de natalidade, o qual em vez de ser compensado com políticas fiscais e sociais de incremento da mesma relativamente aos casais autóctenos, os respectivos governos têm preferido acolher avalanches de pseudo-refugiados do Médio Oriente, Norte de África e África sub-saariana, que mais não são do que imigrantes ilegais depois legalizados, e que, ou constituem mão de obra “escrava” para pequenos e médios empresários europeus, nomeadamente nas áreas da agricultura e construção civil, ou vivem às expensas desses mesmos governos, sendo que quem os sustenta são os cidadãos dos “países de acolhimento”, mediante pagamento de altíssimos impostos (sobretudo sobre rendimentos de trabalho) e contribuições para os regimes de segurança social e serviços nacionais de saúde.
Portanto, esses partidos tradicionais, que para além de governarem mal (ou desgovernarem), ainda, como é público, têm sido e são um enorme e escandaloso alfobre de corrupção e nepotismo.
Uma vez chegados a esta revoltante situação económico-sócio-política, não é de admirar que, não obstante tais partidos e meios de comunicação a eles afectos e subjugados terem acenado com o “papão” do “populismo de extrema-direita” (como se não houvesse populismo de extrema-esquerda), os Povos, que não são parvos, e sentem no seu dia-a-dia cada vez maiores dificuldades em terem uma vida minimamente desafogada e digna, se tenham “virado” para partidos outrora marginais (quer à direita como à esquerda).
Assim, só para olharmos para os países detentores das maiores economias da Europa comunitária -Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Espanha-, não admira que o seu eleitorado, outrora de centro-direita, mas também de centro-esquerda e da própria esquerda, se tenham “virado” para partidos da “direita-nacional” e patriótica.
Pela mesma ordem dos países com maior poderio económico, vejamos os respectivos resultados das últimas “eleições europeias”.
Alemanha
O(a) AfD –Alternativa para a Alemanha de Jörg Meuthen obteve 11% de votos e elegeu 11 deputados.
Reino Unido
O Partido do Brexit liderado por Nigel Farage, ex-líder do UKIP –Partido da Independência do Reino Unido, venceu as eleições com 31,6% de votos e elegeu 28 deputados.
França
Sobre este país vou deter-me um pouco.
Em 05/10/1972 Jean-Marie Le Pen constituiu o então Front National, minúsculo partido nacionalista e durante muito tempo apelidado de “fascista”. Em 1984 Le Pen conseguiu ser eleito euro-deputado e, desde então, não obstante todas as dificuldades que lhe foram postas pela comunicação social, tribunais e até revisões da lei eleitoral para o impedir o mesmo de “crescer”, a verdade é que o hoje rebaptizado Front National como Rassemblement National pela sua filha e actual líder Marine Le Pen, venceu as “eleições europeias” com 24,2% elegendo 22 deputados –mas Marine já é deputada europeia desde 2004.
Voltando um pouco atrás, ou seja a Jean-Marie, este, desde 1984, sempre foi eleito euro-deputado, e, em termos domésticos, concorreu cinco vezes a eleições presidenciais, tendo em 2002 passado à 2ª volta com Jacques Chirac, para o qual as perdeu.
A título de curiosidade, direi que em 1989 ou 1990, por ocasião duma visita de Jean-Marie Le Pen a Portugal, tive oportunidade de o conhecer pessoalmente e com ele trocar algumas palavras. À data o Front era ainda um pequeno partido, para não dizer “marginal”, no seio do espectro partidário francês. Perguntei-lhe como é que num “sistema” pseudo-democrático, no qual os partidos nacionalistas eram boicotados de todas as formas, estes poderiam um dia adquirir importância suficiente para condicionar os governos dos respectivos Estados. A sua sorridente resposta foi a de que tal seria possível perseverando e usando os mecanismos legais dos sistemas democráticos; e atingir tal desiderato seria uma questão de tempo.
A História deu-lhe razão!
Itália
A(o) Liga de Matteo Salvini obteve uma estrondosa vitória ao ter conseguido 34,3% de votos e eleger 24 euro-deputados.
Espanha
O VOX, fundado em 2013, tendo por líder Santiago Abascal, deixou de ser um partido “desprezível” em termos eleitorais, com menos de “0,qualquer coisa %”, e no domingo passado obteve 10,3% de votos nas múltiplas eleições disputadas nessa data, entre elas “legislativas” e “europeias”, tendo conseguido eleger 24 deputados para o Congresso dos Deputados (Câmara Baixa das Cortes, que incluem o Senado –Câmara Alta) e 3 para o Parlamento Europeu.
Posto o que fica “dito”, é minha forte convicção de que a Europa (ou União Europeia), tal como a temos vindo a conhecer e conhecemos ao longo de 62 anos, está a mudar de forma irreversível –já para não falar na incógnita que é o Brexit.
Não sou defensor de que a História é cíclica, mas também não que o seja uma espécie de recta contínua, em que o passado é passado e nada tem a ver com o presente ou futuro. Penso é que face a determinadas circunstâncias perteritamente ocorridas, e à reacção sócio-política que provocaram, verificando-se no presente semelhantes pressupostos, a resposta aos mesmos será também muito parecida.
No final do Séc. XIX a Europa debatia-se com um capitalismo selvagem, de que “Os Miseráveis” de Víctor Hugo são um bom retrato, tendo vários filósofos reagido contra tal desumana realidade, e até o bom Papa Leão XIII o fez mediante a publicação da Encíclica Rerum Novarum, fundadora da Doutrina Social da Igreja. À data, os partidos do então “sistema” não conseguiram ou souberam responder às dramáticas circunstâncias em que os Povos viviam, em que para “meia dúzia” de ricos existiam “exércitos” de pobres. Daí, no primeiro quartel do Séc. XX terem surgido e tomado o poder ideias e formações políticas novas, como o comunismo marxista leninista na Rússia e o fascismo em vários países da Europa Central e do Sul, bem como na Ocidental, com sistemas autocráticos conservadores e nacionalistas –casos de Portugal em 1926 e de Espanha em 1939.
Não tenho uma “bola de cristal” para adivinhar o futuro, mas estou certo de que a mudança, para bem ou para mal, está em curso. E para terminar de uma forma hilariante e irónica, parafraseio o palhaço brasileiro Tiririca que há anos foi eleito deputado federal: “pior que o que está, não fica”!
Manelinho de Portugal
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