“25 DE ABRIL” E AS NOVAS GERAÇÕES
25-04-2019 - Manelinho de Portugal
Antes de mais, devo referir objectivamente que os imobilistas/saudosistas do Estado Novo/Salazarismo que nele viveram enquanto jovens ou adultos já são muito poucos, mais não seja pela “lei da Natureza”, isto é, a sua maioria já ter falecido. No que concerne a quem viveu entusiasticamente, como jovem ou adulto, o “25 de Abril de 1974”, também já boa parte faleceu, deles restando: alguns idealistas de esquerda «tipo “Maio de 1968”» que ainda pensam viver no final da década de 60 do século passado; uns quantos militares do ex-MFA (Movimento das Forças Armadas) ainda sobrevivos e que participaram no golpe de estado, mas que hoje são septuagenários ou octogenários - muitos deles não aceitando o percurso bom ou mau da atual 3ª República portuguesa e seu sistema democrático, continuando a viver saudosisticamente no período revolucionário pós “25 A” e no de transição constitucional para o sistema político plenamente democrático e de estado de direito ocorrido entre a entrada em vigôr da Constituição da República Portuguesa de 1976 e a sua primeira revisão em 1982, a qual extinguiu o Conselho da Revolução. Este órgão fáctico de poder político-militar, cuja legitimidade era meramente revolucionária e não democrática, isto é, fundada no sufrágio popular, apesar de há muito “morto e enterrado”, continua a ser um fetiche para os militares “revolucionários” de esquerda e socialistas, pois o mesmo permitia-lhes tutelar política e juridicamente o regime de forma mais ou menos arbitrária, sobrepondo-se ao poder político e legislativo da Assembleia da República e do Governo, esses sim, órgãos dotados de legitimidade democrática conferida pelo voto dos Portugueses.
Com excepção de alguns mais ou menos jovens militantes do PCP e do BE, aqueles que nasceram em meados da década de 60 e início da de 70 do Séc. XX o “25 de Abril” já pouco ou nada significa, e muito menos o Salazarismo. É que ambas as realidades políticas não foram por si “vividas”, sendo que das mesmas pouco conhecem -e de forma historiográfica destorcida. Com efeito, para além dos sucessivos governos terem vindo a menosprezar a disciplina de História nos programas do Ensino Obrigatório, não aprendendo os alunos o que quer que seja de útil e imparcial sobre a realidade sócio-política portuguesa do Séc. XX e início do Séc. XXI, o pouco que lhes é ensinado é “politicamente correcto”, ou seja, tendencioso, denegrindo ou exaltando os intérpretes da mesma consoante as simpatias políticas de quem escreve e aprova os manuais escolares e dos respectivos professores. E os alunos apercebem-se disso quando recorrem à “net” para em vários sites “cruzarem” informação sobre determinado assunto que lhes é “ensinado” na escola.
Deste modo, para as gerações nascidas nas décadas seguintes ao “25 A”, esta efeméride é encarada com distanciamento e naturalidade históricos, da mesma forma que a esmagadora maioria dos Portugueses olha para o “5 de Outubro de 1910” (implantação da República), o “1º de Dezembro de 1640” (restauração da independência de Portugal), “14 de Agosto de 1385– Batalha de Aljubarrota” (confirmação da independência de Portugal face ao Reino de Leão e Castela), etc..
Poder-se-á ainda dizer que os jovens d´hoje deviam saber que o “25 A” lhes permitiu viverem em “liberdade” e valorizá-lo, mas tal é para eles um dado adquirido, sendo que não se lhes afigura espectável que percam aquela mediante reinstauração de ditaduras na Europa, sejam elas de direita ou de esquerda. Porém, olham de forma repulsiva para as ditaduras de esquerda vigentes na Coreia do Norte, na Venezuela e mais mitigadamente na China e em Cuba.
Se o “25 A” tem algum valor histórico-político-social (e tem!), então deve ser encarado pela sociedade portuguesa como uma lógica e natural mudança de “ciclo político” internacional, que com o “22/11/1975” em Espanha (morte de Francisco Franco), fez com que a Península Ibérica fechasse o ciclo euro-ocidental de regimes/sistemas autocráticos na Europa, e em sua “honra” devendo os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e a democracia participativa serem aprofundadas e defendidas diariamente não só pelos órgãos de soberania e autárquicos, como também pela sociedade civil.
Manelinho de Portugal
Voltar |