Era útil e boa, a saudosa gravatinha
Dava ares de senhor a quem os não tivesse
E tempos houve, em tempos doutro tempo
ser pecado mortal, se alguém esquecesse.
Obrigatória para ministros, secretários
Presidentes de junta, ou de bancada
Professores, nobreza, ou empresários
Chega até a ser injusto ver tal adorno
Tal nó, tal enfeite, tal laçada
Ser tão injustamente desprezada!
Nunca usei. Lá isso, podem perguntar
Mas nas modas eu nunca fui exemplo…
Apertava-me o pescoço e as ideias
Não jogava comigo garrotar-me
Nunca foi de meu estilo usar gravata
Sempre tive razão antes do tempo
Andar esgargalado, eu sei: - era foleiro
Um uso de sujeito mal formado
Mas eu, apesar de cavalheiro
Fiz sem ela a minha vida em todo o lado
Mas hoje anda tal trapo tao desprezado
Que, apesar de nunca o ter usado,
Por ironia, e contra as regras do mercado,
Sinto saudades do tal mundo engravatado
Que nela via forma de ser prestigiado
lembrando esses senhores importantes
Luminosos, brilhantes, encerados
No seu charme de seda requintado
Já não há senhores com distinção
Usando lenço a condizer com a gravata
Reina o caos e, a meu ver, não há respeito
Não posso já conter a indignação
- A moda é uma sujeita muito ingrata…-
O mundo que vivi perdeu o tino
Sob o pretexto de dar ares de democrata
Qualquer dia um tipo vai para o casino
De bermudas, tronco nu e alpergata!
O mundo está perdido; que fazer?
Já nem sei como ser aristocrata!
E a culpa disto tudo, a bem dizer
É de eu nunca ter usado uma gravata!
Pedro Barroso
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