PELOS 30 ANOS DE ABRIL
(Porque não 40?)
Na madrugada ecoou um hino,
Uma senha, um indício, um brado
E antemanhã brilhou um sol menino,
Veio radioso e deslumbrado,
Acender de esperanças o sol nado
Nos escombros de um tempo acabado.
Há em cada esquina, um amigo
E há por toda a parte um canto novo
Que mal despertou de um sonho antigo
E ressoa mais alto a voz do povo
Que se solta nas canções proibidas
Que os poetas traziam escondidas.
Baionetas firmes da liberdade
Rasgaram as mordaças das cantigas
Na nova terra da fraternidade
E nas letras de canções proibidas
Que explodiam na alma dos poetas
Ruíram os portões e as grilhetas.
Mesmo acossados, os chacais raivosos
Serviçais caducos da ditadura
Sitiados na toca dos algozes,
Já na derradeira mordedura
Cravaram as presas na liberdade
Empanturrados de ódio e maldade.
Vomitaram morte sobre a esperança
Da ira que amordaçava a razão
Ceifando vidas nessa vil matança.
E as balas que os verdugos libertaram
Foram em toda a revolução
As balas únicas que assassinaram.
Hoje, trinta anos então volvidos,
São trinta capítulos da história,
Dos mais de trinta heróis esquecidos.
Há um conto que se trás na memória;
E se os cravos murcharam desde então;
Outros plantaremos por nossa mão.
2004-04-22 João Chamiço
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