RESCALDO
21-06-2024 - José Janeiro
Fomos surpreendidos no rescaldo das eleições europeias com análises no mínimo bizarras: todos ganharam e só o Chega perdeu! Estranho!
Em outros escritos aqui no jornal, já referi por diversas vezes que esta postura em vez de tirar gás ao partido, apenas faz com que ele continue a subir tendo o efeito contrário ao pretendido. Estes tipos comentadeiros não entendem que as pessoas não são estupidas!
Li algumas dessas notícias, e os comentários adjacentes dos utilizadores das redes sociais eram um gozo pegado para os que produziam esses comentários.
Vamos lá olhar para os resultados, tendo como fonte apenas a CNE:
Abstenção: 2019 = 69,27% Abstenção: 2024 = 63,18%
Nota: os restantes partidos por falta de representação em mandatos não foram considerados.
A tendência para comparar as recentes eleições legislativas com as Europeias, é intelectualmente desonesto pela importância que os Portugueses dão a uma e a outra. Então temos que comparar no saldo de ganhos e perdas entre as duas realidades dos anos Europeus 2019-2024.
Quem ganhou e quem perdeu então?
O PS por ter conseguido maior número de votos ganhou por “poucochinho” por menos de 1 ponto percentual em relação á AD, perde contudo 1 mandato. A AD ganha com um crescimento de 32% entre 2019 e 2024, segurando os mesmos mandatos. A IL cresce estrondosamente com 1130% e ganha 2 mandatos. O Chega cresce de zero para 386 577 votos e ganha 2 mantados. O BE perde quase metade dos votos que tinha, 48% e perde 1 mandato. A CDU pede 29% dos votos e perde 1 mandato. O PAN perde 71% dos votos e perde o mandato que tinha.
Na verdade o grande ganhador da noite foi a abstenção que apesar de ter reduzido 6 pontos percentuais, mantem-se em níveis elevados. Destacam-se os crescimentos da IL e do Chega que entram no Parlamento Europeu, tirando mandatos a todos com excepção da AD.
Ninguém, em minha opinião pode cantar vitoria e apenas pintarem todos a cara de preto, pela vergonha que fizeram e o quanto não conseguiram explicar ao eleitorado a importância destas eleições. Assistimos durante a campanha, a uma vergonhosa desinformação generalizada e á discussão de temas nacionais em detrimento dos europeus.
Os ecos dessa eleição ainda se fazem sentir aqui e ali, o que demonstra o peso na consciência dos players políticos, pelos péssimos exemplos que estão a deixar transparecer para o povo Português.
Soubemos hoje, dia 18/6, que o que poderia ser um passeio no parque Europeu do Ex-PM António Costa para o Conselho Europeu, afinal não conseguiu o consenso necessário. Exatamente! Há que analisar as forças de equilíbrio que hoje constituem o parlamento europeu e os interesses entre os grupos das fmílias políticas, que hoje estão assim: (gráfico lateral)
O risco está na negociação de lugares que as diferentes forças entendam como uteis, não me parecendo que o PPE aceite que os dois principais lugares de topo possam estar nas mãos de dois socialistas: Ursula von der Leyen na presidência da Comissão Europeia e António Costa Presidente do Conselho Europeu.
A pergunta coloca-se: qual vai ser o “cordeiro” sacrificado?
Tudo aponta para António Costa, por falta de assento entre os pares, que no fundo serão os eleitores finais onde tradicionalmente é escolhido entre os 27 chefes de estado um deles. Hoje, António Costa, não está á volta da mesa e precisa do apoio de Portugal, que até tem, mas, tudo vai depender da conjugação de forças politicas versus equilíbrios de lugares e aí penso que irá perder.
Esta questão, não é como no futebol que movimenta emoções diferentes e nacionalistas, aqui é o futuro comum da europa e as emoções têm que estar em outro patamar. Como opinião pessoal, penso que António Costa, não é a melhor opção e o Montenegro está apenas a pagar um favor, relativamente ao passado com Durão Barroso, além da necessidade estratégica para o próximo orçamento de estado que não tem tudo para passar, entenda-se, apoio parlamentar.
Aguardemos. Até á próxima.
Voltar |