O “testamento” de Almerindo Marques
07-01-2022 - Cândido Ferreira
Muito cedo fui atraído pelo olhar sereno e transparente de Almerindo Marques, tendo tido o privilégio de com ele longamente me soltar por alguns dos tortuosos caminhos da atualidade portuguesa.
Sem reservas nem alçapões, depressa e facilmente estabelecemos uma relação muito próxima que, embora esporádica, se pode resumir ao verso em que o poeta Melo e Neto alude à confiança que existe “entre um menino e outro menino”.
Acompanhei de perto o seu conturbado percurso, e ele o meu, e juntos “festejámos” várias vezes as agruras por que passam aqueles que teimam em alimentar essa “fantasia infantil”, que é querer melhorar o mundo.
Injustamente vilipendiado pelo pior que Portugal sustenta, tanto à esquerda como à direita, e já pressentindo um fim inexorável, Almerindo Marques fez questão de deixar gravado, para memória futura, um extenso depoimento que confiou ao Juiz Carlos Alexandre, no TIC. Estando certamente guardado em boas mãos, e salvaguardadas cópias em locais seguros, eventualmente nos arquivos históricos nacionais, dificilmente tal “testamento” estará à mercê de pilha-galinhas e seus mandantes.
No momento em que desaparece este Grande Senhor da Administração Pública do nosso país, quero assim deixar a minha certeza incontornável de que Almerindo Marques irá ficar para a História da III República, como um exemplo de honra, coragem e dignidade.
Descansa em paz, honroso amigo, e que o teu testamento te sobreviva para sempre.
Cândido Ferreira
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