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Meninos de ouro. Quem vão ser os três primeiros oficiais generais da GNR

23-08-2019 - Valentina Marcelino

A partir de 2020 a GNR terá já três oficiais generais da "casa" prontos para assumir o leme da maior força de segurança do país. Outros se seguirão. Atualmente o topo da hierarquia ainda.

Quando terminaram o curso há 23 anos na Academia Militar sabiam que este dia chegaria. Sem falsa modéstia, assumem que não ficaram surpreendidos por terem sido os escolhidos para o Curso de Promoção a Oficial General (CPOG).

Estão entre os primeiros classificados do primeiro curso, terminado em 1996. De origens humildes, António, Paulo e Rui preparam-se para fazer história. Serão os primeiros generais da "casa", são líderes natos e conhecem a GNR como ninguém, da base ao topo da hierarquia.

São três os que vão ao próximo CPOG:

António Bogas, o oficial das contas certas

Coronel António Bogas gere os 850 milhões de euros do orçamento da GNR

Na escola era aquele miúdo que tinha sempre um estojo arrumado e onde não faltavam a esferográfica azul, a preta, a verde e a encarnada. Gostava de fazer contas e já era organizado e meticuloso. "Na Academia Militar tinha sempre o quarto tão arrumado que podiam fazer revistas a qualquer hora", recorda ao DN.

Se estivesse vivo, certamente que o seu pai iria emocionar-se quando soubesse que o seu menino, que foi obrigado a deixar na então vila beirã do Sabugal por ter emigrado para Alemanha com a mãe, poderá ser um dos primeiros oficiais generais da GNR. Com os pais longe, António Bogas não teve uma infância fácil.

Contou com a tenacidade da irmã mais velha sete anos, que foi como uma segunda mãe e o ajudou a fazer as escolhas corretas no seu caminho. A opção pela licenciatura em Administração Militar foi tão natural como respirar. "Foi mesmo por convicção", assume.

Hoje é o responsável pela gestão de cerca de 850 milhões de euros que constituem o orçamento anual da GNR e é um dos três escolhidos para frequentar o Curso de Promoção a Oficial General. Acena negativamente quando perguntamos se não se sente parte de uma "elite" que vai fazer história na Guarda.

"Sempre pautei a minha vida pela discrição. Lá na terra, só souberam que eu era militar no funeral do meu pai, quando viram alguns camaradas fardados", diz. Insistimos: foi difícil chegar aqui? Respira fundo.

"Foi uma maratona. No meu caso posso dizer que sou fruto da competência e do desempenho, mas também das circunstâncias e da sorte que me deram muito trabalho a conquistar. Claro que sabíamos quando entrámos na Academia que este dia podia chegar, mas nunca fiz disto um cavalo de batalha, embora fosse um desiderato assumido. Os primeiros oficiais generais da GNR tinham sempre de ser os licenciados da Academia. Era uma questão de princípio, independentemente de eu estar incluído", assinala.

"Foi uma maratona. No meu caso posso dizer que sou fruto da competência e do desempenho, mas também das circunstâncias e da sorte que me deram muito trabalho a conquistar

Tem de memória todos os nomes dos colegas de curso, datas de entradas e saídas, onde estão colocados presentemente, momentos tristes como os da morte dos camaradas Calado, a meio do curso, e do Raimundo, já quando era tenente.

António Bogas foi o primeiro classificado do curso e teve um "passaporte" direto para o quartel-general da GNR no Carmo, logo que saiu da Academia. "Vi pela primeira vez na vida um cheque de 700 mil contos", lembra, também com um sorriso sincero.

Foi responsável pela área financeira e logística das maiores Unidades da Guarda, desde o Comando-Geral à ex-Brigada Fiscal e à ex-Brigada n.º 4, que cobria os distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda e Viseu. Foi chamado aos serviços sociais ainda como capitão, mas a desempenhar funções de tenente-coronel como vogal no conselho de direção daquele organismo.

Seguiu para a Escola da Guarda, em Queluz, onde foi diretor de cursos e chefe do Núcleo de Formação e Ensino. Foi ainda professor na Academia Militar e no Instituto Universitário Militar. Integrou uma missão de cooperação técnico policial em Angola, onde assessorou o Instituto Superior de Polícia.

Desde 2011 que está colocado no Comando da Administração e Recursos Internos (CARI), primeiro como chefe de divisão e desde há quase três anos à cabeça da Direção de Recursos Financeiros.

Rui Ribeiro Veloso, o oficial ranger

Rui Ribeiro Veloso é o comandante do GIPS.

Foi, sem dúvida, o mais difícil de entrevistar. Nada que não fosse esperado, tendo em conta o cargo que ocupa, comandante do GIPS, e a época do ano, com boa parte do país sujeita a um elevado risco de incêndios florestais.

Na passada terça-feira quando nos encontrámos, chega com a farda operacional bege e dois telemóveis na mão, que vai atendendo, ou lendo mensagens, alternadamente, durante a curta conversa.

Veloso é um dos coronéis escolhidos pela GNR para frequentar o Curso de Promoção a Oficial General, a partir de setembro. "Para mim é o percurso que se adivinhava. Tanto eu como os meus camaradas [ver perfis de António Bogas e de Paulo Silvério] trabalhámos para aqui chegar. Estamos muito orgulhosos porque sabemos que fomos escolhidos pelo mérito", declara, sem falsa modéstia.

Estamos muito orgulhosos porque sabemos que fomos escolhidos pelo mérito

Os pais desceram da Guarda à procura de uma vida melhor na capital e Rui nasceu no Monte Estoril. No clima de camaradagem da Academia era incluído no grupo de "oficiais da linha", porque vinha da zona de Cascais, em contraste com os "oficiais da escancha" que vinham do interior - recorda, a brincar, o coronel Bogas, que assiste à conversa. As origens humildes da família - o pai era jardineiro na Câmara de Oeiras, a mãe é doméstica - são pontos em comum com Bogas e Silvério.

A carreira militar começou no curso de oficiais milicianos no Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego (também era conhecido por "oficial ranger" na Academia). A certeza da vocação levou-o, naturalmente, a dar o salto para a licenciatura em ciências militares.

Ribeiro Veloso integrou o primeiro curso de oficiais para a GNR desta instituição de ensino superior e, tal como António Bogas e Paulo Silvério, foi um dos primeiros classificados.

O seu currículo desvenda um percurso de liderança, formação (como aluno e como professor) e missões desde que saiu da Academia em 1996. Comandou o Destacamento de Trânsito de Carcavelos; foi formador nas escolas de polícia de Moçambique, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe; foi oficial de segurança da seleção portuguesa no Euro 2004, é professor na Academia Militar, na Escola da Guarda e no Instituto Universitário Militar e fez parte do núcleo duro que esteve na génese do GIPS em 2006. "Mal imaginava que um dia viria a comandar esta força."

Paulo Silvério é comandante do Comando Territorial de Santarém.© Reinaldo

Emana tranquilidade e segurança, a par de humildade e determinação. Era assim há 15 anos, jovem capitão do antigo Batalhão Operacional do Regimento de Infantaria da GNR, quando o acompanhámos na viagem no Hércules C 130 da Força Aérea Portuguesa para Nasiriyah, no Iraque, onde foi comandar o 2.º contingente da GNR numa missão de apoio à paz.

Ainda é essa a essência do agora coronel Paulo Silvério que reencontramos à frente do Comando Territorial de Santarém, com mais de mil homens sob as suas ordens.

Nascido em Angola em 1970, veio com a família para Portugal ainda miúdo. Instalaram-se no Cartaxo, onde cresceu e estudou. O pai era mecânico de automóveis e a mãe doméstica. Fez questão em ajudar a família cedo: trabalhou nas obras, na apanha de tomate e até a abrir furos de água para a Companhia das Lezírias.

Tal como Bogas e Veloso [ver os outros perfis], não tem nem militares nem polícias na família que influenciassem a sua escolha na carreira militar, começando pelos paraquedistas, como voluntário. "Autodomínio, sangue-frio e serena energia", "coragem e bravura quando se expõe aos perigos", "exemplo de excecional comandante" - caracteriza-o o ex-ministro da Administração Interna, António Figueiredo Lopes, no louvor que lhe concedeu pela sua missão no Iraque.

A personalidade de Paulo Silvério foi determinante na liderança e na motivação dos militares quando o seu subagrupamento Alfa (como era designada a companhia da GNR no Iraque) sofreu um atentado, provocando os únicos feridos nesta missão de alto risco. "Foi um período de grande tensão", recorda Silvério, não deixando de ver sempre o lado otimista de terem sido "apenas três feridos", tendo em conta a dimensão da explosão. "Há coisas verdadeiramente inexplicáveis", sublinha.

Antes do Iraque tinha comandado um pelotão de Manutenção de Ordem Pública, no primeiro contingente da GNR - o subagrupamento Bravo - que aterrou em Timor-Leste, corria o ano de 2000.

Numa "Díli devastada" conheceu o "extraordinário Sérgio Vieira de Mello", o antigo alto-comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, nessa altura administrador de transição da ONU no país, e que morreria um ano depois num atentado à bomba em Bagdad, em 2003.

Regressado das duas duras missões em teatros de risco, Paulo Silvério sacudiu o pó e o calor das fardas e instalou-se no fresco Comando-Geral da GNR, onde trabalhou na criação do Grupo de Intervenção, Prevenção e Socorro (GIPS),sob a orientação do então comandante-geral Mourato Nunes (atual presidente da Autoridade Nacional e Emergência e Proteção Civil). Foi o segundo-comandante desta nova unidade.

acrescida. Conhecemos toda a estrutura, da base ao topo da hierarquia. Há uma grande ligação com as populações que servimos "

De seguida viria uma fase académica: foi o primeiro oficial da Guarda a dar aulas no Instituto de Estudos Superiores Militares, onde chegou a diretor de Curso de Formação de Oficial Superior. Foi o melhor dos oficiais estrangeiros no curso de Estado-Maior em Espanha.

Chegar a general é o fecho de um ciclo? - perguntamos. Pondera, como sempre, antes de responder. "É um marco histórico para os oficiais da GNR, mas também uma responsabilidade acrescida. Conhecemos toda a estrutura, da base ao topo da hierarquia. Há uma grande ligação com as populações que servimos ", conclui.

Fonte: DN.pt

 

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