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A esperança dos ambientalistas está na mobilização fora da COP25

06-12-2019 - Esquerda.net

Enquanto os governos continuarem a não agir perante os avisos dos cientistas, é a mobilização cidadã que pode garantir uma inversão do rumo das alterações climáticas. Francisco Ferreira, da Zero, e Sinan Eden, do Climáximo, falaram ao esquerda.net sobre o que podemos esperar dentro e fora da COP25.

Na véspera do arranque de mais uma Conferência das partes à Convenção quadro das Nações Unidas sobre as alterações climáticas (COP25), fomos ouvir Francisco Ferreira — veterano ativista do movimento ambientalista português — e Sinan Eden — ativista da nova vaga do movimento pela justiça climática — acerca das suas perspetivas sobre a cimeira e o momento atual que vê renascer em tudo o mundo a mobilização em defesa do clima, como ficou bem patente na greve climática estudantil desta semana.

Entre as várias questões que pendem sobre a cimeira de Madrid, o dirigente da associação Zero destaca três: a de saber como as principais economias poderão contribuir em 2020 para a diminuição do défice de emissões; a garantia de que os mecanismos de mercado “não comprometem a integridade ambiental e a ambição climática”; e como serão calculadas as perdas e danos para fazer a compensação às pessoas afetadas por desastres climáticos, o que implica rever e operacionalizar o chamado Mecanismo de Varsóvia aprovado em anteriores cimeiras.

Para Francisco Ferreira, para além da “perigosa falta de ambição climática” por parte das lideranças políticas internacionais, há também “um fracasso dos governos em abordar as ligações inerentes entre justiça social, ecológica e climática”, uma consequência óbvia “de um sistema económico e político que coloca os lucros sobre as pessoas e a rede, uma inação impulsionada pela ganância e pela exploração de recursos - especialmente combustíveis fósseis, e que prioriza os interesses dos poucos poluidores e empresas ricas em detrimento da maioria que sofre um ónus injusto”.

Sinan Eden vai mais longe e considera que “o que vai sair desta cimeira será igual ao que saiu das 24 cimeiras anteriores: nada. Só que cada vez ficamos com menos tempo”, avisa, apontando que por detrás da inação dos governos está a “cumplicidade entre empresas multinacionais e os decisores políticos” que provoca “o investimento direto no caos climático”.

Francisco Ferreira: “Reconhecer que não nos é possível cumprir os compromissos não nos adianta muito”

Após a divulgação em outubro passado do relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) da ONU, que apontava cenários para conseguir limitar o aumento da temperatura média global a 1.5ºC, as opiniões dividiram-se sobre se é realmente possível cumprir esse objetivo, dada a inação dos governos para cortar as emissões de gases responsáveis por esse aquecimento. Francisco Ferreira considera que o primeiro dos cenários apontados pelo IPCC “é o mais seguro e garantido porque não recorre de forma extensa ao uso de bioenergia para captura e armazenamento de carbono”. Mas para o conseguir, “o mundo terá de ser neutro em carbono em 2044 o que é efetivamente extremamente difícil olhando para a tendência crescente dos últimos anos”.

“Reconhecer que não nos é possível cumprir os compromissos não nos adianta muito”, conclui o dirigente da Zero, que acredita ser “inevitável uma reação da parte de muitos países” para acelerarem as respostas face à urgência da situação, “mesmo que com resultados que possam ficar realmente aquém do necessário”.

“Os prazos para ultrapassar os pontos sem retorno dos ecossistemas são cada vez mais curtos. Até agora, pouco ou nada foi feito para uma transição energética justa, apesar de termos conseguido parar vários novos projetos pelo mundo inteiro”, afirma por seu lado o ativista da Climáximo, referindo-se à mobilização em vários países contra a extração de combustíveis fósseis, que tem passado também pela ação direta para impedir o avanço dos trabalhos das multinacionais do petróleo, gás e carvão.

Sinan Eden: "O nosso objetivo não é 'persuadir' decisores políticos, é mudar o sistema”

Numa coisa estas duas gerações de ambientalistas estão de acordo: é na força da mobilização cidadã que reside a esperança de virar o jogo e travar a catástrofe climática. “Nunca estivemos tão perto de vencer”, afirma Sinan Eden, referindo-se à “janela de esperança de ganharmos contra a indústria de combustíveis fósseis”. Para o Climáximo, os decisores políticos não merecem nenhum crédito, dado que “são as mesmas pessoas” que compõem o lóbi dos combustíveis fósseis.

“O nosso objetivo não é ‘persuadir’ os decisores políticos de hoje através da razão, porque a inação deles não é resultado de falta de informação ou conhecimento. O nosso objetivo é mudar o sistema”, conclui Sinan Eden, explicando que “em termos económicos, estamos a falar de repensar a economia mundial inteira, da produção à distribuição, do consumo à gestão”.

Em matéria de eficácia da pressão política sobre os governos, Francisco Ferreira é mais otimista e diz que essa pressão “já está a ter resultados”, que podem ser vistos “quando diversos países e blocos como a União Europeia começam a traçar objetivos de neutralidade carbónica, quando as Nações Unidas afirmam que é determinante deixar de subsidiar os combustíveis fósseis e quando à escala internacional muitas empresas e Estados recusam continuar investimentos energéticos nocivos para o clima”. Tudo isso “é resultado da pressão política da mobilização dos jovens e do alerta mundial que tem vindo a congregar esforços em todo o mundo”, conclui o fundador da Zero.

Francisco Ferreira e Sinan Eden serão dois dos participantes na manifestação internacional de 6 de dezembro em Madrid, que contará também com a presença da jovem ativista sueca Greta Thunberg, que iniciou o movimento das greves climáticas estudantis “Fridays for future” e tem aproveitado o ano sabático para promover essa mobilização em vários países da Europa e da América.

 

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