Médicos de família: possíveis reformas serão mais do que novos especialistas

20-09-2019 - Rita Rato Nunes

Serão cerca de 1800 os médicos que vão terminar a especialização e concorrer aos centros de saúde nos próximos quatro anos. Mas haverá dois mil a poder reformar-se. Ministério da Saúde diz que pretende "contratar tantos especialistas quanto possível" e tem esperança de que haja menos médicos a pedir a reforma.

O número de médicos de família que podem reformar-se durante a próxima legislatura é superior ao de recém-especializados para os próximos quatro anos. Podem aposentar-se dois mil médicos, mas só 1800 estarão disponíveis para a substituição. E, "por mais médicos de família que se formem, nunca se chega a resolver o problema, que nesta altura está muito localizado, se não forem adoptadas medidas políticas de carácter excepcional", alerta Rui Nogueira, presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF).

Segundo dados da Administração Central do Sistema de Saúde, publicados na página BI da reforma dos cuidados primários, o pico de médicos de família com mais de 66 anos será atingido em 2021, quando 522 profissionais estarão sujeitos a deixar o Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Para o presidente da APMGF, "o número de médicos de família que vão aposentar-se nos próximos anos é mais ou menos equiparado ao número de médicos que se formam". Por isso, em termos aritméticos, o médico acredita na possibilidade, prometida pelo primeiro-ministro, em Julho, de 97% dos portugueses terem médico de família atribuído até ao final desta legislatura e os restantes no início da próxima. O que o deixa mais receoso são os casos pontuais de centros de saúde onde a falta destes profissionais se faz sentir com mais intensidade.

"O número de médicos de família que vão aposentar-se nos próximos anos é mais ou menos equiparado ao número de médicos que se formam. Agora, o problema que se coloca é que há sítios onde a falta de médicos de família é muito superior ao número geral", indica Rui Nogueira.

É o caso de Sintra, Almada e algumas zonas do Algarve. Segundo o presidente da APMGF, "o total de médicos de família em falta na zona centro - 30 mil - é mais ou menos igual ao de utentes a quem falta num centro de saúde de Sintra. São coisas muito localizadas".

Rui Nogueira chama ainda a atenção para a eventual ocorrência de "assimetrias e alguns problemas" causados pela renovação do corpo médico nos cuidados de saúde primários até 2023.

Faltam 600 mil médicos de família

Há ainda a possibilidade de os recém-formados não integrarem os lugares disponíveis nos concursos, que têm já um historial de vagas por preencher. No último concurso da especialidade de Medicina Geral e Familiar, foram colocados 73 profissionais dos 113 que eram solicitados.

Confrontado com o número de aposentações face aos de recém-especialistas, o Ministério da Saúde disse ao DN que "pretende abrir atempadamente os concursos para colocação de todos os médicos recém-especialistas, esperando contratar tantos especialistas quanto possível".

O gabinete de Marta Temido esclareceu que a confiança de que será possível atribuir médico de família a 100% dos utentes está relacionada com dados recentes que mostram que o número efectivo de reformas neste ano foi inferior ao espectável. "De acordo com dados disponíveis de anos anteriores e do ano em curso, em termos de aposentações de médicos especialistas em medicina geral e familiar não é de todo expectável que se verifique o total das aposentações previstas. A título de exemplo, no primeiro semestre de 2019 apenas se verificaram 73 aposentações de um universo de 524", respondeu a tutela.

Actualmente, há cerca de 600 mil utentes sem médico de família. O que corresponde a 94% dos inscritos nos centros de saúde, segundo a ministra da Saúde, Marta Temido, em entrevista à agência Lusa, neste domingo, no âmbito das comemorações do 40.º aniversário do SNS.

Fonte: DN.pt

Voltar