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Os encontros à margem do G20 que vão ser o centro das atenções

30-11-2018 - Susana Salvador

Trump vai discutir comércio com Xi Jinping e pôs a hipótese de não se reunir com Putin por causa da Ucrânia. O príncipe saudita é o convidado incómodo, mas poderá manter encontro com Erdogan. Bolsonaro, a pouco mais de um mês de tomar posse, recusou o convite para estar presente entre a elite mundial.

Os líderes das 19 maiores economias mundiais e um representante da União Europeia reúnem-se a partir desta sexta-feira em Buenos Aires, para a cimeira do G20. Na agenda está a discussão sobre economia global, o futuro dos mercados de trabalho e a igualdade de género. Mas na primeira vez que um país sul-americano acolhe esta reunião as atenções estão centradas nos encontros que decorrem à margem.

Em conjunto, os 20 líderes reunidos na Argentina representam 85% da economia e dois terços da população mundial. É normal ser assinada uma declaração final entre todos, mas temas como as alterações climáticas ou comércio podem travar um consenso (em especial por causa das posições antagónicas dos EUA). Ou levar à assinatura de um documento suavizado nessas matérias.

O encontro oficial decorre esta sexta-feira e sábado.

Trump-Putin

É um dos encontros mais aguardado, mas pode até nem acontecer. O presidente norte-americano, Donald Trump, disse ontem que podia cancelar a reunião com o homólogo russo, Vladimir Putin, por causa do ataque russo a três navios ucranianos no estreito de Kerche.

A Ucrânia, que declarou a lei marcial em parte do país dizendo recear uma invasão russa, considerou o ataque como um "ato de agressão", mas a Rússia diz que os navios invadiram as suas águas. Os navios estavam perto da Crimeia, a região ucraniana anexada por Moscovo em 2014.

"Talvez até nem haja encontro", disse Trump numa entrevista ao The Washington Post, alegando estar à espera de "relatório completo" da situação. "Eu não gosto dessa agressão, não quero essa agressão de todo", acrescentou. Além disso, vários países ocidentais ameaçam reforçar as sanções contra a Rússia (Putin deverá ter encontros bilaterais também com o presidente francês, Emmanuel Macron, e com a chanceler alemã, Angela Merkel).

Putin desvalorizou a ameaça e acusou o presidente ucraniano, Petro Porochenko, de orquestrar a situação para aumentar a sua popularidade em vésperas das eleições (31 de março de 2019). "Foi sem dúvida uma provocação", disse Putin aos jornalistas. O Kremlin indicou que continuam as preparações para o encontro, não tendo sido oficialmente informados de nenhum cancelamento.

Ontem, um responsável da Casa Branca disse que o presidente tem estado a ser constantemente informado da situação, com briefings regulares da sua equipa de Segurança Nacional. "Vamos manter-vos informados quando houver mais informação sobre o tema ou qualquer anúncio político", indicou o responsável, citado pela Reuters.

Depois do encontro a dois em Helsínquia, em julho, Trump e Putin cruzaram-se em Paris a 11 de novembro, na cerimónia dos 100 anos do fim da Grande Guerra. Ficou então combinado aproveitarem ambos a viagem a Buenos Aires para uma nova reunião.

Além da Ucrânia, os dois líderes podem discutir temas ligado ao Médio Oriente, assim como de segurança e controlo de armas nucleares. Trump anunciou que pretende abandonar o tratado assinado com Moscovo, podendo precipitar uma nova corrida às armas.

Trump-Xi Jinping

É o primeiro encontro entre o presidente norte-americano e o homólogo chinês, Xi Jinping, desde que Washington impôs tarifas de 250 mil milhões de dólares às importações chinesas e a China retaliou com as suas próprias medidas.

Os EUA ameaçam aumentar as tarifas ainda mais a 1 de janeiro, dos atuais 10% para 25%. Algo que a China quer evitar. Trump e Xi Jinping vão jantar no sábado à noite, mas responsáveis de ambos os países estão céticos sobre a hipótese de um grande avanço nas negociações que possa culminar na resolução do conflito comercial. Mas não afastam totalmente a hipótese de algum acordo.

"Existe uma boa possibilidade de podermos chegar a acordo e ele está aberto a isso", disse o principal conselheiro económico de Trump, Larry Kudlow, citado pelo The New York Times. Mas se o encontro não trouxer um avanço, Trump está "perfeitamente contente de manter a sua política de tarifas". O adiar da imposição de mais tarifas seria semelhante ao acordo alcançado entre os EUA e União Europeia, em julho, quando Trump concordou em atrasar a implementação de tarifas em troca de uma promessa da Europa de comprar soja americana e gás natural.

"Acabei de ter uma longa e muito boa conversa com o presidente Xi Jinping. Falámos sobre muitos temas, especialmente sobre comércio. Essas discussões estão a avançar com encontros a ser marcados para o G20 na Argentina. Também tivemos uma boa discussão sobre a Coreia do Norte", escreve Trump no Twitter no início deste mês.

De passagem por Espanha, Xi Jinping disse que "a China fará esforços para abrir ainda mais as suas portas ao mundo exterior. Vamos esforçar-nos muito para facilitar o acesso ao mercado [chinês], melhorar as condições de investimento e reforçar a proteção da propriedade intelectual", adiantou. Na próxima semana, o presidente chinês estará em Portugal.

O convidado incómodo

Um dos primeiros a chegar à Argentina foi o príncipe saudita Mohammed bin Salman (conhecido pelas iniciais MBS), que tem estado debaixo de fogo por causa da morte do jornalista Jamal Khashoggi.

Colunista do The Washington Post e crítico do herdeiro saudita, Khashoggi foi morto no interior do consulado de Riade em Istambul, há seis semanas, com a Turquia e os serviços de informação norte-americanos a apontarem o dedo diretamente a MBS.

Os sauditas, que depois de negar durante vários dias acabaram por admitir que Khashoggi tinha sido morto e desmembrado, negam o envolvimento de MBS. Mas as acusações prejudicaram a imagem do filho do rei Salman, de 33 anos, que é considerado o líder de facto da Arábia Saudita, tendo liderado muitas das reformas recentes no país.

Na Tunísia, onde esteve antes de partir para a Argentina, MBS foi recebido com protestos. Do outro lado do Atlântico, a Human Rights Watch está a pedir ao governo para usar a cláusula de crimes de guerra que existe na Constituição argentina para investigar o envolvimento do príncipe na morte de Khashoggi e em eventuais crimes contra a humanidade no Iémen (onde os sauditas lideram uma campanha militar que está a causar uma crise humana).

Por tudo isto, há vários líderes ocidentais que não querem ser vistos a apertar a mão de MBS - um gesto que poderá ser lido como uma tentativa de exonerar ou legitimar o príncipe saudita. O que poderá complicar as coisas na hora da tradicional foto de família na cimeira do G20.

Contudo, à margem da cimeira, há vários líderes mundiais que vão reunir-se com MBS. Um deles é o presidente russo, Vladimir Putin. O Kremlin anunciou que Putin vai discutir com o príncipe saudita a morte de Khashoggi, mas também o conflito na Síria e questões ligadas ao petróleo.

A Turquia indicou também que MBS pediu um encontro com o presidente Recep Tayyip Erdogan, com o chefe da diplomacia turco, Mevlut Cavusoglu, a dizer que não há razão para a reunião não acontecer. "Ele pediu a Erdogan, por telefone, se podiam encontrar-se em Buenos Aires. Erdogan respondeu: vamos ver", disse Cavusoglu ao jornal alemão Süddeutsche Zeitung. "Neste momento não há razão para não se encontrar com o príncipe herdeiro", acrescentou.

Já o presidente Trump não tem previsto um encontro com MBS, apesar de ter saído em defesa do saudita - indo contra os pedidos dos congressistas norte-americanos que pedem sanções contra os sauditas. Num comunicado, o presidente admitiu que MBS "poderia ter sabido" antes do plano de matar o jornalista, mas os EUA vão continuar a ser um "firme parceiro" da Arábia Saudita.

O conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, disse aos jornalistas que a agenda de Trump "está a abarrotar", para justificar a ausência de uma reunião formal, mas não descartou "uma interação" entre os dois. Além de Xi Jinping e Putin, Trump vai reunir-se com o japonês Shinzo Abe, com o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, com o anfitrião argentino Maurício Macri, com o presidente sul-coreano Moon Jae-in e com Erdogan.

Bolsonaro ausente

Jair Bolsonaro, que toma posse como presidente do Brasil a 1 de janeiro, não estará presente na cimeira do G-20. O atual presidente, Michel Temer, tinha convidado o sucessor para o acompanhar, mas este terá declinado.

Poucas horas após ser eleito, Bolsonaro anunciava através do seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que a sua primeira viagem oficial ao estrangeiro será ao Chile, aos EUA e a Israel, e não à Argentina, como costuma ser tradição.

Bolsonaro não vai a Buenos Aires, mas o conselheiro de Segurança Nacional de Trump, John Bolton, viajará até ao Rio de Janeiro para se encontrar com ele nesta quinta-feira.

"Ansioso para encontrar o próximo presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no Rio, em 29 de novembro. Compartilhamos muitos interesses bilaterais e trabalharemos juntos para expandir a liberdade e a prosperidade em todo o hemisfério ocidental", escreveu John Bolton na sua conta da rede social Twitter.

Fonte: DN.pt

 

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