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Cambridge Analytica. Mark Zuckerberg "lamenta muito"

23-03-2018 - Graça Andrade Ramos

Depois da sua própria conta no Facebook, a CNN foi o meio escolhido por Mark Zuckerberg para responder à tempestade quase perfeita que se abateu sobre a sua rede social nos últimos dias. Houve abuso de dados dos utilizadores e o patrão do gigante online veio agora reconhecer "erros" e dizer que "lamenta imenso". E explica que se tratou de um "abuso de confiança". Mostra-se ainda disposto a responder perante o Congresso dos Estados Unidos.

"Ficaria muito feliz de o fazer se for a coisa certa a fazer", garantiu. Poderá só não ser Mark Zuckerberg a fazê-lo, mas sim a "pessoa mais indicada" para responder às dúvidas apresentadas.

Os dados de milhares de utilizadores do Facebook, que subscreveram uma aplicação autorizada, foram usados por uma firma britânica para, contra as políticas da rede social idealizada por Zuckerberg, aceder em cadeia às informações de mais de 50 milhões de pessoas.

Um ex-empregado dessa firma, Cambridge Analytica, veio a público denunciar o esquema e diz que este serviu alegadamente para influenciar o sentido de voto a favor de Donald Trump, na eleições presidenciais norte-americanas.

"Foi um enorme abuso de confiança e lamento mesmo muito que isto acontecesse", disse Zuckerberg sobre mais este escândalo de abusos do Facebook.

"Temos a responsabilidade básica de proteger os dados das pessoas e se não conseguimos fazê-lo, então não merecemos a oportunidade de servir as pessoas. Por isso, a nossa responsabilidade é garantir que não se repete", acrescentou.

Restringir acessos

Na entrevista, Zuckerberg procurou sossegar utilizadores e investidores - as ações do Facebook caíram vertiginosamente nos últimos dias e a rede social, que já tem vindo a perder utilizadores, arrisca perder ainda mais.

O fundador da rede social garante estar a fazer tudo para evitar o uso indevido da informação a que tem acesso.

Por isso, quis esclarecer as medidas que vão ser adotadas para tornar impossível este tipo de abuso de informação.

Uma das "coisas a fazer" é "garantir que programadores como Aleksandr Kogan, que acedeu a muita informação e depois a usou de forma imprópria, simplesmente não consigam aceder a tanta informação", disse, revelando que já estão a ser dados passos nesse sentido.

Outro passo que Zuckerberg diz querer dar, é fazer com que firmas externas ao Facebook não possam fazer o que fez a Cambridge Analytica.

"Vamos investigar todas as aplicações que acediam a uma grande quantidade de informação antes de nós encerrarmos a plataforma. E, se detetarmos qualquer atividade suspeita, iremos fazer uma auditoria forense completa", prometeu. Um processo que vai ser "intenso" mas que considera "importante".

"Este era um processo que deveríamos ter feito de início com a Cambridge Analytica", reconheceu.

"Não deveríamos ter confiado na certificação que nos deram. E não vamos repetir esse erro", garantiu, evocando novamente a "responsabilidade" do Facebook na "segurança de dados".

A resposta ao Congresso

Certo é que, o próprio Mark Zuckerberg não sabe bem ainda o que se passou. Nem sabe sequer se a Cambridge Analytica ainda mantém acesso aos dados dos utilizadores. Se isso estiver a acontecer, então o patrão do Facebook promete recorrer a todos os meios legais para proteger os dados.

"A primeira coisa a fazer é entender o que se passou precisamente", reconheceu Zuckerberg.

Para responder ao Congresso, Zuckerberg diz que será enviada "a pessoa que no Facebook que tiver mais conhecimento" dos factos. "Se for eu, ficarei feliz por ir", garantiu, embora até agora nunca tenha respondido perante nenhum comité do Congresso.

Também na Europa, tanto Bruxelas como Londres abriram investigações ao Facebook e já exigiram a presença de Zuckerberg tanto numa comissão do Parlamento londrino como no Parlamento Europeu.

"As medidas adotadas pelo Facebook para proteger os seus utilizadores são um primeiro passo, mas Zuckerberg ainda necessita de vir testemunhar", referiu a senadora democrata Amy Klobuchar, do Minnesota, na conta Twitter.

Parar a interferência

O Facebook tem estado no centro da polémica de interferência eleitoral através do uso das redes sociais, usada para explicar em parte a eleição de Donald Trump. A rede social terá sido utilizada para disseminar notícias falsas e influenciar a opinião dos eleitores.

A Rússia tem sido uma das grandes responsabilizadas nessa interferência, mas o escândalo da Cambridge Analytica, que terá sido contratada pela campanha de Trump precisamente para agir nas redes sociais, traz outra dimensão à responsabilidade do Facebook.

O fundador do Facebook diz que, após as eleições americanas, a sua empresa tomou medidas para evitar a disseminação de notícias falsas e a intervenção de bots russos, mostrando-se satisfeito com os resultados obtidos e prometendo vir a tomar todas as precauções para garantir que o Facebook será seguro nos futuros atos eleitorais em todo o mundo, do Brasil à Índia.

Avisou contudo que não se trata de "ciência exata".

"Precisamos ainda de partir muita pedra para dificultar a interferência eleitoral de Estados-nação como a Rússia, e fazer com que trolls e outras pessoas não espalhem notícias falsas, mas podemos consegui-lo. E temos a responsabilidade de o fazer", acrescentou, admitindo que será um esforço contínuo e nunca completamente resolvido, já que haverá sempre quem tente contornar os controlos.

Semear discórdia

Uma das medidas que o Facebook já está a implementar é aumentar o número de pessoas que mantêm a segurança das informações, disse Zuckerberg.

"Vamos ter 20 mil pessoas a trabalhar na segurança e revisão de conteúdos até ao fim do ano. Já temos 15 mil" nesses setores, referiu.

E nem tudo está relacionado com o acesso indevido a dados. A interferência russa nas eleições de 2016, por exemplo, disse Zuckerberg, procurou semear a discórdia e "dividir" as pessoas.

"Muito do que fizeram não foi diretamente, tanto quanto podemos dizer dos dados que vimos, e não esteve diretamente relacionado com as eleições, mas mais com dividir as pessoas. Ou seja, influenciavam um grupo favorável à reforma pró-imigração e outro grupo que era contra, apenas para tentar pôr as pessoas umas contra as outras", explicou.

"Muito disto foi feito através de contas falsas e nós poderíamos ter feito um melhor rastreamento e usado ferramentas de inteligência autónoma para poder verificar e observar muito do que está a suceder", reconheceu.

"Estou confiante de que vamos fazer um melhor trabalho agora", afirmou, com alguma ressalva. "A realidade é uma comunidade de dois mil milhões de pessoas. Não posso prometer que vamos descobrir tudo. Mas posso comprometer-me de que faremos tudo para tornar o mais difícil possível aos nossos adversários fazer isso".

"Não vendemos dados"

Aos utilizadores, Zuckerberg aproveitou para pedir desculpa, por não ter tomado de antemão todas as precauções.

"Desejava ter dado estes passos há mais tempo, penso que esse foi provavelmente o nosso maior erro", afirmou. Prefere contudo centrar-se na resposta que diz estar a ter da comunidade, ou seja, a busca de um equilíbrio de portabilidade de dados, entre o acesso à informação necessária para a interação social e a segurança desses mesmos dados.

É preciso "garantir que a informação não vai a lado nenhum", explicou, admitindo alguma "ingenuidade" e "idealismo" no esquema adotado inicialmente. Mas, garante, o Facebook não vende dados, ao contrário do que "muitas pessoas pensam".

"Não vendemos informação a ninguém e isso é mesmo um aspeto chave do nosso modelo. Tanto por proteger dados pessoais como privacidade mas também porque, parte da vantagem competitiva de muitos dos nossos serviços, como o News Feed ou a busca ou a publicidade, advém do facto de que as pessoas partilham muita informação no Facebook, o que nos permite elaborar melhores serviços. Por isso, não queremos que os nossos dados consigam sair. Quando isso sucede, não é bom para as pessoas da nossa comunidade e não é bom para o negócio".

"Um anunciante pode vir ter connosco e dizer, hei, quero chegar a mulheres dentro destas idades e, se percebermos quem inclui, então podemos mostrar esse anúncio mas nenhuma dessa informação chega ao anunciante", explicou Zuckerberg, garantindo que foi sempre isso que sucedeu.

Regulamentar o Facebook

Face a todos os recentes problemas, Zuckerberg admitiu a necessidade de regulação do Facebook.

"Não tenho certeza de que não devamos ser regulamentados", disse.

"Penso que, de forma geral, a tecnologia é uma tendência cada vez mais importante no mundo e acho que a questão é mais, qual é a regulação certa em vez de deveria ou não ser regulado", especificou.

A Cambrigde Analytica garantia em novembro de 2017 que nunca colaborou com a Rússia para eleger Trump

Esta regulação "certa" poderia por exemplo exigir maior "transparência na publicidade", tal como existe noutros meios de comunicação, antevê Zuckerberg, referindo como exemplo um modelo já aplicado no Canadá que permite conhecer quem está a comprar os anúncios que surgem no Facebook e aceder a todos os anúncios disponíveis para todas as audiências.

"Temos isto a ser testado no Canadá e o nosso objetivo é ter isto operacional antes das eleições de meio termo em 2018", para o Congresso, revelou Zuckerberg.

Fonte: RTP

 

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