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Operação Miríade. Além de Marcelo, Cravinho também não avisou Costa e Santos Silva, mas está “confortável” no cargo

12-11-2021 - Adriana Peixoto

Depois do Presidente da República ter revelado que não foi informado previamente das suspeitas de tráfico de diamantes nos Comandos Portugueses na República Centro-Africana, António Costa e Augusto Santos Silva também disseram que não sabiam.

Para além da questão criminal e da mancha na reputação das missões internacionais portuguesas, o escândalo que rebentou sobre a rede de tráfico de diamantes e ouro dos Comandos Portugueses em missão na República Centro-Africana também está a ter repercussões políticas internas, já que o Ministro da Defesa, que soube das suspeitas em 2019, não informou António Costa, Marcelo Rebelo de Sousa ou Augusto Santos Silva.

O Presidente da República, que é também o comandante supremo das Forças Armadas, já tinha confirmado na terça-feira que não sabia das investigações que estavam a decorrer aos Comandos Portugueses. António Costa também confirmou ontem que não sabia do que se passava.

“A única coisa que posso confirmar é que efectivamente também não informei o senhor Presidente da República pelo simples facto de que eu também não estava informado dessas ocorrências. A mim não me informou de certeza. Isso é muito claro”, afirmou o primeiro-ministro.

Já sobre se esta falta de comunicação pode afectar as relações entre o executivo e Belém, Costa passa a batata quente para Marcelo: “Bom, isso aí, o Presidente da República terá de dizer qual é a avaliação que tem a fazer sobre a matéria.”

Já o Ministro dos Negócios Estrangeiros revelou que também não foi informado, mas explica que a decisão de João Gomes Cravinho se justifica devido à separação de poderes. “Não, não me compete saber processos que estão em segredo de justiça”, respondeu esta quarta-feira Augusto Santos Silva aos jornalistas, sublinhando que o caso se trata de “uma investigação judicial” e não de um caso político.

“Quanto ao único elemento com relevância do ponto de vista de política externa, nós temos um canal de comunicação directo entre o Ministério de Defesa Nacional e o departamento das Nações Unidas responsável pelas missões de paz e esse canal foi activado para informar as Nações Unidas em devido tempo”, garantiu Santos Silva.

Entretanto, o PSD anunciou que vai chamar o Ministro da Defesa ao parlamento para explicar esta falta de comunicação e a “estranha desconfiança” que aparenta ter sobre o Presidente da República. “Face à situação tornada pública do comportamento do senhor ministro da Defesa, o grupo parlamentar do PSD quer ouvi-lo com sentido de muita urgência na comissão parlamentar de Defesa Nacional”, disse à Lusa o presidente da bancada social-democrata, Adão Silva.

“É completamente inaceitável este comportamento, que revela uma estranha desconfiança do senhor ministro em relação ao primeiro-ministro e em relação ao Presidente da República, que é só o comandante supremo das Forças Armadas. Ao omitir uma informação de tamanha importância e responsabilidade, que forneceu às Nações Unidas, deixou-nos numa perplexidade imensa”, defende o PSD, falando num “comportamento de deslealdade” perante uma “situação tão complexa e delicada”.

Adão Silva recorda também que este “comportamento errático e esdrúxulo” de Gomes Cravinho já tinha acontecido com a polémica sobre a chefia da Armada, em que Marcelo Rebelo de Sousa o desautorizou em público, e das despesas com a reconstrução do Hospital das Forças Armadas.

Em entrevista à RTP3 ontem à noite, Rui Rio também já se tinha pronunciado sobre “a história muito mal contada” das comunicações entre o governo e com Belém. “É uma situação grave, é grave porque o Presidente da República não é informado, mas para mim é particularmente grave um primeiro-ministro ter um membro do Governo que não o informa de uma situação destas”, criticou.

Gomes Cravinho diz-se “confortável no cargo”

Já a ONU, em respostas ao Público, considerou as suspeitas de tráfico “preocupantes”. “A natureza destas alegações é preocupante. Estamos a acompanhar de muito perto e em contacto com as autoridades portuguesas”, afirmou um porta-voz para a manutenção da paz.

O porta-voz da missão, Vladimiro Monteiro, revelou também à TSF que só soube de tudo quando o caso foi noticiado: “A Minusca tomou conhecimento através da imprensa, no dia 8 de Novembro de 2021, das alegações relativas aos militares portugueses que estiveram destacados no passado cá na República Centro-Africana. A Minusca está disposta a apoiar qualquer pedido das autoridades portuguesas através da sede, em Nova Iorque. É tudo o que podemos dizer em relação a este assunto.”

Recorde-se que, na segunda-feira, o Ministro da Defesa disse que informou as Nações Unidas sobre o caso em 2020 e que os militares suspeitos já não estavam na República Centro-Africana.

Questionado sobre porque razão decidiu informar a ONU sem avisar Marcelo, Gomes Cravinho respondeu que “pareceres jurídicos” não o aconselhavam, tendo ficado por explicar como é que quem elaborou o parecer pudesse saber das suspeitas sem o comandante supremo das Forças Armadas estar a par.

O governante aproveitou também para esclarecer a “ideia incorrecta” de que as bagagens onde os diamantes eram transportados não eram fiscalizadas. “Havia procedimentos de fiscalização e houve um reforço dessa fiscalização depois das denúncias”, defendeu, remetendo para o Estado-Maior-General das Forças Armadas mais pormenores sobre este reforço por ser esta a entidade “responsável operacionalmente por todas essas matérias”.

Gomez Cravinho diz-se também “absolutamente” confortável no cargo. “Acho que as instituições funcionaram de forma absolutamente correcta e obviamente que me dá satisfação quando vejo isso a acontecer”, afirmou, acrescentando que desconhece a abertura de qualquer inquérito por parte da ONU ou do possível envolvimento de outros países na rede de tráfico.

Fonte: Zap.pt

 

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