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Kamala Harris: Trump prepara a artilharia pesada contra a candidata a vice de Biden

14-08-2020 - Susana Salvador

Como procuradora, a actual senadora pela Califórnia defende um legado progressista, mas há muitos aspectos que são alvo de críticas, sendo por vezes acusada de oportunismo e de inconsistência. Republicanos terão de ter cuidado com ataques, para não parecerem racistas ou machistas.

Não há candidatos perfeitos e Kamala Harris, a senadora da Califórnia que Joe Biden escolheu para ser sua vice-presidente, não está isenta de críticas. E, a três meses das eleições nos EUA, os republicanos e o presidente Donald Trump não vão poupar a artilharia pesada para ganhar vantagem na corrida à Casa Branca.

"Kamala Harris começou forte nas primárias democratas, mas acabou fraca, acabando por fugir da corrida com quase zero apoios. É o tipo de adversário com que toda a gente sonha", escreveu Trump no Twitter nesta quarta-feira sobre a candidata de 55 anos.

Na véspera, pouco tempo depois do anúncio oficial por parte de Biden, já tinha publicado um vídeo em que apelidava a candidata à vice-presidência de "falsa Kamala", dizendo que ela pertence à esquerda radical (a forma como tem votado no Senado coloca-a na ala mais à esquerda do partido), quer criar novos impostos que vão custar "biliões" aos norte-americanos e lembrando que atacou Biden por causa das suas políticas racistas.

Acusa ainda o candidato democrata de querer "entregar as rédeas a Kamala". O lema é que Kamala e Biden são "perfeitos um para o outro, mas errados para a América".

E isto é só o princípio. Quais são os grandes argumentos contra Kamala Harris, a primeira mulher negra e a primeira de ascendência indiana - o pai nasceu na Jamaica e a mãe na Índia, tendo-se apaixonado quando ambos estudavam nos EUA - candidata a vice-presidente?

Procuradora

Antes de chegar ao Senado norte-americano, Kamala Harris foi durante duas décadas procuradora - chegando a procuradora distrital da cidade de São Francisco (2004 a 2011) e a procuradora-geral do estado da Califórnia (2011 a 2017), numa eleição que ganhou por uma curta margem, de tal forma que o adversário fez o discurso de vitória na noite eleitoral.

Em ambas, foi a primeira mulher negra eleita para os cargos. "Podes ser a primeira, mas garante que não és a última", é o seu lema, tendo esta sido uma mensagem passada pela mãe.

É nesta carreira como procuradora que os adversários encontram vários argumentos para atacar a candidata a vice de Biden. Se ela se apresenta como reformadora e progressista, há quem alegue contudo que ela ainda é uma relíquia da política da "firmeza contra o crime" dos anos 1990 e da primeira década do século que deixou as prisões a abarrotar.

Mas foi ela que implementou um programa que dava aos traficantes apanhados no primeiro crime a hipótese de terminarem os estudos e arranjarem emprego em vez de cumprirem pena de prisão - apesar de mais tarde ter lutado contra a ideia de libertar prisioneiros do sistema apesar de o Supremo Tribunal decidir que havia um excesso de população encarcerada e que o tratamento dos presos era cruel e inconstitucional. Ao mesmo tempo, também foi ela que defendeu castigar os pais pelas faltas às aulas dos filhos.

No seu livro de memórias, The Truth We Hold, descreveu o seu papel: "O trabalho de um procurador progressista é cuidar dos esquecidos, falar por aqueles cujas vozes não estão a ser ouvidas, ver e abordar as causas do crime, não apenas as suas consequências, e chamar a atenção para a desigualdade que leva à injustiça. É reconhecer que nem todos precisam de punição, que o que muitos precisam, claramente, é de ajuda."

O passado como procuradora com mão de ferro contra o crime é contudo um argumento difícil de conciliar com a ideia de que uma vitória de Biden será uma ameaça para a lei e ordem nos EUA, que a campanha de Trump tem vindo a defender.

Pena de morte

Um dos temas em causa prende-se com a pena de morte. Em 2004, Harris decidiu não pedir a pena de morte contra um homem que matou um polícia, sendo atacada por isso no próprio funeral do agente - houve uma ovação diante das críticas e isso custou o apoio dos sindicatos da Polícia durante a década seguinte.

Contudo, mais tarde, já procuradora da Califórnia, recusou apoiar duas propostas para acabar com a pena de morte, levando os críticos a acusá-la de oportunismo e de inconsistência. Harris já disse ser contra a pena de morte, mas que enquanto procuradora tinha de seguir o que dizia a lei.

Em matéria de violência policial, é também acusada de inconsistência. Por um lado, os críticos dizem que não fez o suficiente, tendo mesmo recusado investigar a morte de dois afro-americanos às mãos da Polícia, em 2014 e 2015. Nesse mesmo ano, não apoiou a proposta de nomear um procurador especial contra a violência policial, apesar de ter implementado programas de treino para lidar com os preconceitos raciais dos agentes.

Por outro lado, ao criar a iniciativa Open Justice, uma plataforma online de base de dados disponível ao público sobre o sistema de justiça, permitiu uma maior responsabilização da Polícia no que diz respeito a mortes e feridos sob custódia policial.

Já neste ano, depois da morte do afro-americano George Floyd às mãos de um polícia e dos protestos que abalaram os EUA, Harris assumiu uma posição mais forte contra a violência policial, sendo coautora de um projeto de lei que prevê proibir o uso de técnicas de estrangulamento por parte dos agentes, assim como a aplicação de mandados de captura sem necessidade de bater primeiro à porta, entre outras coisas.

Candidata à presidência

Antes de ter sido escolhida para ser vice de Biden, Kamala Harris foi adversária dele na corrida à nomeação democrata para a Casa Branca - desistiu em dezembro de 2019, antes das primeiras primárias, por falta de dinheiro para se manter na disputa.

Nesse período, chamou a atenção pela falta de consistência em relação ao acesso à saúde para os norte-americanos - ela que enquanto procuradora tinha defendido o Obamacare. Antes de entrar na corrida, Harris começou por apoiar o plano de saúde de outro candidato, Bernie Sanders, o Medicare-for-All (Medicare, o sistema de seguros de saúde gerido pelo governo, para todos).

Mas, quando lançou a candidatura, acabou por avançar com o seu próprio plano, que era uma mistura tal que nem a própria conseguiu explicá-lo nos debates. E se antes aprovava o Medicare-for-All, que defendia o fim do sistema de seguros privado, depois voltou atrás com a palavra, já que o seu plano os incluía.

Durante a candidatura, ficou também famosa após um ataque a Biden durante o primeiro debate. A senadora deixou claro que não acreditava que ele era racista, mas criticou-o por comentários que fez sobre o tempo em que trabalhou com dois senadores segregacionistas, que obrigaram Biden a pedir mais tarde desculpas.

Ambos entraram em confronto também sobre o tema dos autocarros escolares e o facto de o ex-vice-presidente ter sido contra esta política, de que ela beneficiou na década de 1970, com Biden a admitir depois que não estava preparado para as suas perguntas.

Trump apelidou Kamala Harris de "nasty" (desagradável) - adjetivo que usava também contra Hillary Clinton, sua adversária na campanha de 2016 - pelo interrogatório a que sujeitou o seu candidato ao Supremo, Brett Kavanaugh, em 2018, e lembrou que ela "faltou ao respeito" a Biden durante a campanha.

O presidente, habituado a dizer o que pensa, tem contudo de repensar os ataques que possam ser vistos como racistas ou machistas, sob pena de afastar mais eleitores do que conquistar. Há mais republicanos a gostar de Harris do que de Biden, segundo uma sondagem Reuters/Ipsos realizada antes de ser feito o anúncio de que seria a candidata a vice, com 21% de eleitores republicanos a terem uma impressão positiva da senadora, frente a 13% que tinham uma visão semelhante em relação ao ex-vice-presidente.

Vida privada

A sua vida privada também tem aspetos que podem ser usados pela oposição. Em 1994, com 30 anos, começou uma relação com Willie Brown, que era o presidente da assembleia estadual da Califórnia e três décadas mais velho do que ela. Graças à sua posição, nomeou Harris para dois cargos em organismos de supervisão que lhe garantiam um salário de 80 mil dólares anuais, por cima do salário de procuradora, segundo o Politico.

No ano seguinte, Brown foi eleito presidente da Câmara de São Francisco e Harris acabou a relação, dizendo que não havia futuro entre ambos.

Fonte: DN.pt

 

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