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Chega será próximo do PSD ou é preciso um "cordão sanitário"?

07-08-2020 - Paula Sá

Rui Rio ganhou um novo aliado na eventual aproximação ao Chega. O líder do PSD da Madeira, Miguel Albuquerque, nem pede mais moderação ao partido de André Ventura como condição para o diálogo. Mas o tema continua a dividir os sociais-democratas e alguns querem um "cordão sanitário" para isolar os populistas. E há quem diga que é "extemporâneo" falar do assunto porque o que importa é fazer oposição ao governo, como diz Miguel Morgado, ex-assessor político de Pedro Passos Coelho.

Depois do líder do PSD ter admitido que um Chega "moderado" poderia aproximar-se do partido, nesta quarta-feira foi a vez de o presidente do governo regional da Madeira vir ampliar essa ideia. Miguel Albuquerque veio defender a estratégia de aproximação do seu partido ao Chega, porque considera fundamental que o centro-direita se junte para derrotar a esquerda. E sobre a moderação questionou: "O que quer dizer moderado? Moderado como o Bloco de Esquerda, que é estalinista? Moderado como o Partido Comunista, que defende a Coreia do Norte?"

Em entrevista à Rádio Renascença, Albuquerque frisou que "tudo o que seja coligações no sentido de derrotar a esquerda em Portugal é bem-vindo". E que "basta olhar para o xadrez político, para a situação, para perceber que, neste momento, é fundamental que o centro-direita se junte para derrotar a esquerda".

O presidente do governo regional lembrou que, hoje, a extrema-direita europeia integra coligações em governos democráticos na Europa "e nenhum mal veio ao mundo por isso".

"Tudo o que seja coligações no sentido de derrotar a esquerda em Portugal é bem vindo"

Admitiu, no entanto, que "temos de salvaguardar os valores essenciais do nosso partido, que são valores humanistas, mas isso não implica que, do ponto de vista instrumental e político, se formem alianças para derrotar o nosso adversário principal". Mas acabou por desvalorizar as posições mais radicais de André Ventura: ""O Chega é acusado de tudo, não é?"

Miguel Albuquerque disse que não ficaria "chocado" se Rui Rio avançasse desde já para conversações com André Ventura. "Porque haveria de ficar?"

Na entrevista que o líder do PSD deu à RTP3, na semana passada, Rio colocou sobre a mesa condições para que possa existir diálogo com o partido de André Ventura. "Se o Chega evoluir para uma posição mais moderada, penso que as coisas se podem entender", mas "depende do Chega". Ou seja, disse, "se o Chega continuar nesta linha de demagogia e populismo como tem tido, está aqui um problema, porque aí não é possível um entendimento com o PSD. Face àquilo que tem sido o Chega, descarto. Espero que o Chega possa evoluir para um plano mais moderado. Tem de mudar".

"Não há partilha de valores"

Miguel Morgado, antigo assessor político de Passos Coelho, é uma voz crítica Rio, sobre quem diz que se tem esquecido do seu papel de escrutínio e oposição ao governo. "É nisso que devia estar focado e não no Chega. Está tão próximo de António Costa que estar próximo de André Ventura é absurdo."

O também ex-deputado, que se tem batido por uma aproximação das forças políticas de centro-direita, não encaixa o Chega neste quadro. Porque, diz, tudo tem de passar por uma "partilha de princípios, valores e propostas políticas" que não encontra no partido de André Ventura. Sobretudo o perfil reformista e europeísta que une o centro-direita.

"É nisso que devia estar focado [Rui Rio] e não no Chega. Está tão próximo de António Costa que estar próximo de André Ventura é absurdo"

Miguel Morgado admite que o jovem partido, que conseguiu eleger um deputado, o próprio André Ventura, que foi militante do PSD, ainda tem muito caminho para trilhar. Mas lembra que o Chega não se tem detido em grandes questões, antes prefere acompanhar assuntos políticos de atualidade e há assuntos mais delicados como a defesa, por exemplo, da castração química.

É por isso que não vê o Chega a enquadrar-se numa "coligação de direita como um projeto político que rompa com 25 anos de estagnação, de corrupção e de derrocada das instituições".

"Não há cordão sanitário"

O politólogo António Costa Pinto sublinha que o Chega é um desafio para o centro-direita em Portugal. Mas, frisa, "apesar de o CDS ser um dos principais visados pelo crescimento eleitoral do Chega", não há uma "demarcação" tão grande como existiu durante 35 anos entre o PCP e BE e o PS. E o mesmo acontece com o PSD, ao contrário do que se passa em alguns países da Europa em que há "cordões sanitários" à volta destes partidos. "Não vai acontecer em Portugal", afirma.

António Costa Pinto considera "natural" que Rui Rio admita dialogar com o Chega porque "não tem uma perceção de ameaça no crescimento da direita populista". Recorda que na Europa há todas as modalidades de visão sobre estes partidos, que oscilam entre os tais "cordões sanitários", o chamado "pisca-pisca" até à sua integração em coligações, como acontece na Áustria, Holanda e Suécia.

"O PSD não tem uma perceção de ameaça no crescimento da direita populista"

No PSD a abertura de Rui Rio deu brado. O antigo deputado do PSD José Eduardo Martins foi contundente no Facebook: "Isto é só a confissão de uma enorme aflição. O Dr. Rio saberá bem, acho eu, espero eu, que o Chega se mudar não faz sentido. A mudança que faz falta não virá nem do Chega nem do triste suicídio do CDS. Não é de nada disso que a direita democrática e liberal está à espera."

O antigo líder do PSD e antigo ministro Rui Machete também divergiu de Rio. "Se o Chega for uma coisa muito moderada, já não tem nada que ver com o Chega. O Chega, tal como se apresentou, foi como um partido de uma certa violência do ponto de vista político, e, portanto, teríamos outro partido." "Por este caminho, o PSD não vai ter grandes possibilidades de ser governo", disse ainda, notando que optar por uma aliança com uma força política com as características do Chega "é descaracterizar por completo o PSD".

Carlos Abreu Amorim, ex-deputado, acusou Rui Rio de querer "deitar areia para os olhos dos militantes, que estão muito descontentes com a colagem cada vez mais evidente do PSD ao PS".

Fonte: DN.pt

 

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